A dança da nossa hipocrisia nas linhas de Metro de Paris
Filosofia

A dança da nossa hipocrisia nas linhas de Metro de Paris


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"Senhoras e senhores,
Desculpem-me por incomodar-vos
Durante este trajecto de metro
Posso prometer que não tomarei muito
Do vosso precioso tempo
Voilà
Perdi o meu emprego
A minha mulher tirou-me de casa
Não tenho onde morar
Já não tenho amigos nem família
E conto com a vossa boa ajuda
Para ter o que comer
Onde dormir
E até onde tomar banho esta noite
Aceito peças, notas
Até vales e cheques de restaurante
O que eu quero é estar
num lugar quente esta noite
e ter direito a um mínimo
de dignidade e higiene
Obrigada senhoras e senhores
Boa continuação de trajecto"


Querida Sofia,
Todos os dias em Paris, quando se apanha o metro, quando se faz um trajecto de mais de quinze minutos, podemos dar de caras com um homem, de feições cansadas, com a cara marcada pelo tempo e pela dor, com as roupas acastanhadas, sem grande mau cheiro mas sujas, com um copo de plástico ou uma carteirinha na mão, à espera de moedas nossas.
Isto é Paris. Isto também é Paris. O discurso é sempre o mesmo. Até já sei de cor. Quase que repito na minha cabeça com eles, por vezes quase que acredito, outras vezes nem ligo mais. Por vezes dou uma moeda gorda, outras vezes finjo que nada ouvi. E somos dezenas, centenas no metro, na mesma condição. Pomos o iPod mais forte nos ouvidos. Teclamos mais rápido no BlackBerry porque estamos ocupados com o trabalho. Apertamos as nossas malas de luxo - as Balenciaga, as Darel, as Dreyfuss, as Longchamp, as Dior, as Vuitton - que custam salários mínimos de outros países contra o nosso colo.
Antes de rezar pela salvação desse homem, rezamos para que a pessoa vá embora rápido. Que desapareça para que possamos voltar ao nosso luxo de vida no qual não pedimos nada a ninguém e não queremos dar de caras com o sofrimento dos outros. E somos nós, nós que trancamos a cara, nós que fingimos não ver a desgraça humana alheia tão próxima, somos nós os primeiros a dar a mão a desgraças alheias de outros países. A desgraça existe, lutamos contra ela, mas a nossa noção de conforto sente-se melhor quando a desgraça é lá longe, tão longe que mesmo que nos toquem não nos podem contaminar.
Hipocrisia. A dança da nossa hipocrisia ao som do avançar do metro Uma dança hipócrita da qual todos fazemos parte - eu inclusive - com a qual todos vivemos, uns melhores da consciência com isso que outros.
*foto retirada da internet em
http://www.railway-technology.com/projects/meteor/images/8-paris-metro.jpg



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