Filosofia
Avaliação docente: todos de olho no professor
Para que a prática ajude a ensinar melhor, é preciso desenvolver um sistema que vá além da aplicação de provas
VISÃO GLOBAL A avaliação docente precisa
incluir múltiplos olhares para ser efetiva
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Avaliar, avaliar, avaliar. De alguns anos para cá, a prática tem se tornado um tema recorrente no mundo da Educação. Países criam complexos sistemas de medição, juntas de especialistas estabelecem padrões e faixas de desempenho, organismos internacionais desenvolvem testes para comparar resultados em todo o mundo. No Brasil, uma das novidades foi a instituição de um Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente. Previsto para ser aplicado a partir de 2011, vai medir os conhecimentos dos que querem se dedicar ao Magistério. O atrativo é grande: municípios e estados podem aderir à iniciativa, considerando-a um componente da nota dos concursos ou mesmo substituta dela.
A ideia é interessante. No início da docência, a avaliação é fundamental para verificar se o candidato cumpre os requisitos de entrada na profissão. Durante a carreira, ajuda a indicar o que está bom e, principalmente, o que deve ser aperfeiçoado. Mas não basta aplicar uma prova e achar que o problema está resolvido. Se desejamos que o processo ajude o docente a ensinar melhor, é preciso dar um passo atrás e perguntar: o que é mesmo que estamos avaliando?
A resposta requer reflexão sobre o que significa ser um bom professor. É aquele cujos alunos só tiram dez? O que tem uma formação recheada de cursos? Quem se dá bem com colegas e funcionários? Ou tudo isso junto (e muito mais)? Para produzir os Referenciais para o Exame Nacional de Ingresso na Carreira Docente, o Ministério da Educação (MEC) compilou pesquisas de padrões docentes em sete países. Chegou a uma lista com 20 características do perfil do professor ideal (conheça algumas delas no quadro da página seguinte).
Além da constatação de que exercer o Magistério não é nada fácil, percebe-se que muitos aspectos não podem ser aferidos por provas. Como elaborar uma questão para certificar se o profissional "estabelece um clima favorável à aprendizagem?". Ou se demonstra "valores, atitudes e comportamentos positivos?". Os especialistas na área (e o próprio MEC, faça-se justiça) reconhecem essa impossibilidade. Ao realizar uma sondagem comparativa sobre a avaliação de professores em diversas nações, a uruguaia Denise Vaillant, coordenadora do Programa de Desenvolvimento Profissional Docente na América Latina e Caribe (Preal), concluiu que os sistemas de sucesso apostam na combinação de múltiplas estratégias, como a avaliação pelos pares e pelos gestores das escolas e a autoavaliação. As provas são apenas uma parte do cardápio - e, muitas vezes, não a mais importante.
No Brasil, ainda precisamos construir essa estrutura de avaliação múltipla. A esperança é de que a prova seja apenas o primeiro tijolo, ao qual se somem outros tipos de aferição. Para chegar lá, uma primeira providência é apostar na formação de bons avaliadores. Aqui, os programas de formação têm um papel importante, já que o assunto costuma ser pouco contemplado tanto nos currículos de graduação como na formação em serviço. Esse conhecimento é a base de sistemas como o australiano, em que cada ciclo de avaliação dura dois anos e compreende planejamento (para definir o foco do trabalho), coleta de dados (para aferir a qualidade do ensino e projetar objetivos de evolução, que variam de acordo com o nível do desenvolvimento profissional de cada um, dos principiantes aos mais experientes) e acompanhamento (para avaliar o auxílio oferecido e o avanço na obtenção das metas).
Um segundo passo é estabelecer a participação dos avaliados na definição de critérios e metas. Isso é fundamental para que o corpo docente apoie a avaliação, encarando-a como uma oportunidade pedagógica e não como uma ameaça.
Fonte: Revista Nova Escola
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