Educar para a sensibilidade, por João Alfredo Carrara
Filosofia

Educar para a sensibilidade, por João Alfredo Carrara



Menina-da-janela de Salvador Dali

?A primeira tarefa da Educação é aprender a enxergar.?

Essa frase de Rubem Alves nos leva a refletir sobre a nossa existência no mundo da Educação. Não estamos nele por acaso. E nos faz pensar também sobre o que ensinamos.

É preciso repensar nossa prática pedagógica. É preciso que passemos por uma verdadeira metamorfose, desaprendendo o que se tinha aprendido para apropriar-se do novo. Mas o que é o novo?

Falta, infelizmente, por parte de muitos educadores, a arte da sedução pedagógica ? falta o reencontro consigo mesmo; falta sonhar e possibilitar que o aprendiz sonhe. Falta despertar(-se) para o desejo de aprender e de ensinar; falta invadir o mundo da imaginação e da magia ? é com a magia da educação que criaremos pessoas com sentimentos; crianças mais dóceis, menos violentas, capazes de construir um mundo melhor, com mais prazer. Adultos, mas sempre crianças.

Surgem, então, outros questionamentos: A nossa Educação é movida pelo afeto? Onde buscá-lo? Não estariam escondidos nos contos infantis, na expressão das crianças que pedem a repetição das mesmas histórias...

Essa questão dos contos de fada em função da sua natureza simbólica é extremamente importante. É através deles que a criança coloca-se na posição de cada personagem, percebendo-se enquanto agente, sentindo-se num mundo real, mesmo que simbolicamente.

É fundamental resgatar o gosto pela leitura, ler para as crianças, abrir as portas da biblioteca, fazer o aluno sentir felicidade ao encontrar-se com um livro. Cabe, a nós educadores, oferecer-lhes o melhor cardápio, uma vez que a criança está faminta para aprender e tem uma capacidade enorme de assimilação.

Para que a escola se renove e crie oportunidades para o encontro com o novo, é preciso armar-se de beleza e arte, abrindo as janelas ao aprendizado íntegro, conciso, sólido.

Cabe à escola lembrar que o que fica é o residual, a essência. Na maioria das vezes, no entanto, ela é invadida pela burocracia e se esquece desses elementos emocionais.

Exigimos sempre dos nossos alunos aquilo que nem sempre temos a capacidade de exigir de nós mesmos, porque esquecemos que a mente inteligente aprende a esquecer aquilo que aprendeu; ela guarda a vivência, a essência, a experiência. O aprendizado não colocado nos livros é o que fica guardado para sempre. O que é importante reter na vida são as trocas e as relações que estabelecemos entre as coisas, os fenômenos e as pessoas.

Vê-se, então, que o papel do educador, enquanto facilitador e mediador das relações que o aprendiz estabelece, está no criar situações para que os alunos consolidem essas trocas, servindo-se da competência intelectual responsável; de um conhecimento fluido, instável e renovador; do despertar para a criticidade, a partilha e para a capacidade de ouvir, de aprender a tolerar, de compromisso com a simplicidade voluntária e com a paz e o resgate dos valores humanizadores, éticos e morais.

Sabemos que o educador não tem de ser um campeão, mas devemos nos esforçar para ver nosso aluno no pódio. Ele só chegará lá se tiver condições para o aprendizado, se for ouvido no que tem a dizer, se puder colocar para fora suas experiências vividas.

Somente com esse novo olhar para o que é novo, com sensibilidade e prazer, nós, educadores, chegaremos aos grandes mananciais da aprendizagem.

Fonte: Revista Profissão Mestre



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