Filosofia
Filosofia no vestibular
Filosofia no vestibular? Pois bem: é o que há. Muitas vezes a prática atropela a teoria: acho que existem serias questões que deveriam ser debatidas antes de aceitar a filosofia no vestibular como mais uma disciplina em que os alunos devem responder "questões de marcar x".
Mas não cabe agora esse tipo de questionamento: perderiamos tempo com ele, já que
a filosofia já está caindo como matéria especifica em alguns vestibulares e surge cada vez com mais força em questões do Enem, ou mesmo nos temas propostoa para redação. Se é assim, surge outro problema: já que não existe um curriculo minimo dessa disciplina nas escolas de ensino médio, quando uma universidade adota filosofia como uma matéria de seu vestibular, cria um mecanismo que seleciona de maneira muito forte os alunos que tem acesso a uma formação ampla (numa escola de boa qualidade) ou especifica para sua prova (na indústria dos cursinhos ).
Pensemos no vestibular da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) onde Filosofia e Sociologia são disciplinas obrigatórias em sua primeira fase: um aluno que pretende passar em um curso concorrido como Medicina ou Odontologia não pode se dar ao luxo de ter um desempenho mediano nessas matérias. Quem não acertar
nada não tem chance: zerou é eliminado. Em verdade: essas disciplinas surgem como o diferencial nesse vestibular...No caso da Universidade Estadual de Londrina (UEL) temos ainda a prova de Artes...tanto na UFU como na UEL as questões de "marcar x" aparecem.
(Filosofia pode ser avaliada em questionários de múltipla-escolha? Minha resposta era a de que definitivamente não. Certa feita fiz um concurso federal para professor de um Cefet. Na primeira fase desse concurso haviam umas dez questões de filosofia, de "marcar x". Nunca me esquecerei de questões como "São obras de Platão:", "São obras de Aristóteles:", "Essa citação é de quem"...surpreendentemente passei no concurso. O que serve para demonstrar minha capacidade de ser mediocre mais do que qualquer outra coisa...)
Tudo bem. Mas diz o aluno então:"Mas não vou fazer vestibular na UFU nem na UEL então quero que a filosofia a sociologia vão para %$#&*$#!". Vai ele fazer sua prova de redação na UFG e é surpreendido pelo tema: a questão da verdade. As citações que estão alí para indicar o caminho da produção do seu texto são de alguns filósofos e de fatos que apontam para reflexões filosóficas...Ele diz então "%$¨&#@ que pariu, passar para a segunda fase para ver essa $%#@& de filosofia #$#%¨%#% minha vida!". É: no mínimo a filosofia no vestibular serve para isso!
E aparece ela em questões do ENEM...e agora? A questão é que realmente não existe um conjunto de conteúdos que sejam adotados de forma uniforme em nossas escolas: na maioria das vezes o que se diz é que não se quer ensinar
história da filosofia, mas sim levar o aluno a
filosofar. As aulas tornam-se calorosos debates e neles deve caber a questão: a escola está me preparando para a vida, mas eu tenho possibilidades de enfrentar um vestibular e ser aprovado ou meu destino não abriga essa perspectiva de futuro? Diante dessa interrogação surge a responsabilidade da escola de oferecer ao aluno condições de enfrentar esse "monstro" que é o vestibular. Os conteúdos programáticos adotados em vestibulares como o da UFU e da UEL devem nortear o desenvolvimento das aulas de filosofia? A escola deve se responsabilizar por essa formação ou se o aluno quizer que pague um cursinho ou estude por conta própria?
Parece que criamos mais problemas que soluções: mas vamos em frente....
P.S: Revisando este texto, percebi que hoje, mudei um pouquinho de idéia: acho que as questões de multípla-escolha não são taão terriveis assim: o problema é que tipo de questão é elaborada e que tipo de conhecimentos ela pressupõe. Aí acredito que as questões de filosofia podem ser desenvolvidas de tal forma que sejam exercicios de interpretação crítica: testando habilidades mais do que conteúdos....Algumas questões do Enem podem servir de exemplo.
Mudei de idéia pensando nas questõe abertas que vi em algumas provas. Qunado fazia faculdade a professora perguntou sobre "como Descartes prova a existência das coisas matériais depois de propor sua dúvida hiperbólica?"...mas Descartes mesmo sabe que não prova nada e diz isso no prefácio das suas
Meditações Metafísicas! Num concurso para professor aqui em Goiás caiu a questão: "Descreva a estética kantiana?". A pergunta é capiciosa e mal formulada: o termo estética como estudo do belo só se tornou usual depois de Kant, sendo que na obra desse filósofo é usado na primeira parte da
Crítica da Razão Pura para descrever os fundamentos de nossa percepção (espaço/tempo). Por isso mudei de idéia...e acho que vou deixar de usar a palavra 'definitivamente'. (10/07/2007)
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