Filosofia
How A Elite lost her passport and started to think that her life ended at that precise moment
Querida Sofia,Quarta-feira, estava eu a comprar uma nova lâmpada para a minha cozinha e peguei no livro de cheques. Aqui em França, é tão curriqueiro usar cheques quanto a carta bancária ou dinheiro em cash. Não é nada de outro mundo (penso nos tempos em que moravamos em Portugal e os cheques da minha mãe vinham em unidades e eram a coisa-mai-preciosa-do-mundo).
Para validar o cheque, é preciso apresentar o passaporte. E vai que procuro na Dior o tal... que até tem o seu estojo especial e não encontro nada. Nadica de nada. Reviro o saco. Nada. Comecei a ver a minha vida a andar para trás. Quando voltei aos meus sentidos, finalmente paguei de outra forma. Tinha milhares de coisas por fazer na rua mas tudo o que queria era voltar para casa e procurar tranquilamente o documento...
Sofia, o meu passaporte não é apenas um documento oficial que sirvo para identificar-me. O meu passaporte é a minha vida, a minha história, é - juntamente com o laptop e o iPhone, mas por razões diferentes - o objecto mais importante da minha vida. Eu, sendo estrangeira em França, o meu bilhete de identidade não serve de nada.
E além disso, lutei com unhas e dentes para obtê-lo (burocracia Angolana é uma.........), lutei com unhas e dentes para ter o visto de residente (burocracia Francesa é uma........), e de novo, lutei com unhas e dentes para ter o meu visto de dois anos para os USA (burocracia Americana é uma........), e perder o passaporte significa igualmente perder este visto o que significa... enfim, nem te conto.
E além do americano ainda válido, há o visto sul-africano e todos os carimbos dos paises estrangeiros nos quais tive estes ultimos três anos. Enfim, não há que justificar a importância de um passaporte.
Procurei em casa, e de novo, nada. Revirei todas as caixinhas que têm correio e documentos em casa. Encontrei coisas que andava à procura e nunca mais encontrava. Senti-me no auge da aflição.
Respirei fundo e lembrei-me de algo que perdi no início do ano. Uma amiga disse-me o seguinte "não procures mais o objecto perdido e acalma-te. Pensa em outra coisa. E reza ao Santo Antonio para te ajudar". Olha, acredita ou não, fiz exactamente isso. Peguei no computador e pensei em outra coisa depois de rezar. Recordei que a semana passada, fui levantar dinheiro e era necessario ter o passaporte. Encontrei o número da agência na internet e liguei. E ninguém me atendia. Acho que em duas horas, liguei umas quinze vezes. Até que alguém respondeu.
- Alô?
- Sim?
Fiquei meia que perturbada. Se realmente era uma empresa, não se perde mais tempo em dizer o nome da empresa quando se atende o telefone? apenas "sim"? Bref...
- Euh*... é da companhia-que-os-Africanos-do-mundo-inteiro-usam-para-transferir-dinheiro ?
- Sim?
- Eu estive ai a semana passada e não encontro mais o meu passaporte. Seria possível que eu o tivesse esquecido ai?
- Passaporte do Mali?
- Euh*... não, de Angola.
- Aguarde um momento, por favor.
Um momento que demorou uma eternidade. Ouvi a mocinha a pedir a informação aos colegas, a revirar papéis, e cinco minutos depois voltou ao telefone.
- Elite? perguntou ela.
Ai o meu coração subiu à boca. Nunca lhe tinha dado o meu nome. Só podia ser sinal que...
- O seu passaporte está aqui. Pode vir recuperá-lo amanhã.
Preciso testemunhar-te por extenso o tamanho do meu alívio? A verdade é que sou tão supersticiosa que precisava tê-lo nas mãos de novo para acreditar que realmente, não o tinha perdido. E foi essa a razão que fez com que eu tivesse a coragem de bravar a neve que hoje chegou a Paris.
E eu e o meu passaporte (que nunca mais sairá de casa, que já está dentro de um cofre com sete seguranças à volta) estamos juntos e felizes para todo sempre.
*A interjecção "euh" é um sinal de Francesismo mais do que evidente.
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