Filosofia
In a Mandela-less world
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Nelson Mandela, 1961 - by Eli Weinberg |
Querida Sofia, Há alguns meses, disse a alguém que por vezes acordava em pânico, à procura do meu telefone para ver na internet se o Nelson Mandela ainda estava vivo ou se lhe tinha acontecido algo. Ia à página do Wikipédia ver se havia aquela data depois do seu nascimento. E todos os dias, via que ainda estava vivo. E voltava a adormecer serena.
A pessoa em questão olhou-me com os olhos esbugalhados com a minha declaração. Teria sem dúvida preferido que lhe tivesse dito que acordo a pensar em sapatos e batons... Lamento desapontar.
O Mandela não é o meu pai, não é meu tio, não temos relação alguma. Nunca o vi pessoalmente, sei que não é um homem sem defeitos (pelo contrário), mas desde que sou pequena, por 1001 motivos, ele é o meu herói. Nasci num mundo no qual durante anos o meu passaporte dizia “válido em todos os países excepto África do Sul” pois eu não podia entrar naquele país por ser Negra. E lembro-me que assim que pudemos alterar os nossos passaportes em 1995, para lá fomos e até tivemos durante perto de uma década residência. Com a excepção de Angola e França (e Portugal...), não ha país que eu tenha frequentado tanto quanto a África do Sul. É um país que amo de paixão (nos supermercados, sempre que posso, privilegio produtos Sul Africanos a outras nacionalidades...), que me traz boas memórias e alberga tão somente a minha cidade preferida no mundo (holla, Cape Town!).
Sei que teve uma vida longuíssima e cheia de luta, sei que não foi o único a sofrer na guerra contra o Apartheid (não posso deixar de pensar na imagem infelizmente emblemática do Hector Pieterson), mas já está na sua hora de partir em paz. Sei que vou conseguir viver num mundo sem Mandela (mas poderão os Sul Africanos?), mas isso é algo que me angustia há muitos anos. E não queria esperar que ele morresse para poder dizê-lo.
Thank you, Madiba.
Filmes que valem a pena ver:
Mandela and De Klerk (Sidney Poitier como Mandela)
Goodbye Bafana (Dennis Haysbert como Mandela)
Invictus (Morgan Freeman como Mandela).
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Nelson Mandela, 1961 - by Eli Weinberg |
Dear Sophie,
A couple of months ago, I dared sharing with someone that sometimes I´d wake up in panic, looking for my phone to look for news on the internet, to know if Nelson Mandela was still alive, whether something had happened to him. I’d go to his Wikipedia page to see if there was another date added after his birth date. Every day, I checked, relieved, that he was still alive, and would go back to sleep in all serenity.
I remember that the person I told this to looked at me as if I were an alien. Maybe I would be more “normal” if I had told I wake up in panic thinking about dresses and shoes. I hate to disappoint.
Mandela is not my father, nor my uncle, we don’t have any kind of relationship. I never saw him face to face, I know he is not a flawless man (on the contrary!), but since I was a kid, for 1001 different reasons, he has been my Hero. I was born in a world where, for years and years, my passport had the inscription “valid for all countries in the world except South Africa”, as I could not get into that country because I am Black. I also remember that as soon as our passports were altered in 1995, we traveled there as a family and even settled a residency for almost a decade. With the exception of Angola and France (and Portugal…), there is not a country in the world I have visited as much as South Africa. It’s a land I love tremendously (in supermarkets, I would rather buy South African products to other nationalities…), that is full of good memories for me and also “hosts” the most beautiful city in the world to my eyes (holla, Cape Town!). I
know I will be able to live in a Mandela-less world (but can the South African people?), but it’s a dreadful scenario to me actually. And I didn’t want to wait for him to die to express this feeling at least once. I am aware of his long-lived life, full of struggle; I am also aware he was not the only person to fight against Apartheid (can’t help but think about the unfortunately iconic image of Hector Pieterson), but I think it is time for him to be let go in peace.
Thank you, Madiba.
Movies that are worth watching:
Mandela and De Klerk (Sidney Poitier as Mandela)
Goodbye Bafana (Dennis Haysbert as Mandela)
Invictus (Morgan Freeman as Mandela)
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