Por mais que se queira estabelecer uma divisão entre mito e religião, Cassirer, em sua obra Antropologia filosófica (1972), adverte que
no desenvolvimento da cultura humana, não podemos fixar um ponto onde termina o mito e a religião começa. Em todo curso de sua história, a religião permanece
indissoluvelmente ligada a elementos míticos e repassada deles (p.143)
Pode-se distinguir, ao menos, três fases na formação dos conceitos dos deuses.
1ª fase: é caracterizada pela multiplicidade de
deuses momentâneos, simples excitações instantâneas, fugidias, às quais é atribuído o valor de divindade, e cuja fonte é a emoção subjetiva, marcada ainda pelo medo. Esses deuses não representam nem forças da natureza nem aspectos especiais da vida humana.
Servem como exemplo: o deus que personifica a Alegria; o outro, a Decisão; a Inteligência; ou algo repentinamentte enviado pelo Céu.
2ª fase: há a descoberta do sentimento da individualidade do divino, dos elementos pessoais do sagrado. Essa etapa coincide com a maior complexidade da ação humana, caracterizada pela divisão do trabalho. Assim a atividade particular ganha o seu
deus funcional, que vigia cada momento do trabalho. Nesta fase, o ser humano não se sente mais à mercê das forças naturais e sobrenaturais e desempenha papel, convicto de que no mundo natural tudo depende, em parte, dos seus atos.
Cada deus representa uma atividade: Deméter preside o ritmo das estações e das colheitas; Afrodite regula o amor; e assim por diante.
3ª fase: é caracterizada pelo aparecimento do
deus pessoal, fruto do processo histórico que inclui o desenvolvimento linguístico. Surge quando o nome do deus funcional, derivado do círculo de atividade especial que lhe deu origem, perde a ligação com essa atividade e torna-se um nome próprio, constituindo um nvo ser que continua a se desenvolver segundo suas próprias leis.
Como é o caso de Atena: como Palas Atena, filha de Zeus, é a protetora dos exércitos; aumenta a sua proteção para o trabalho em geral e, finalmente, fixa como deusa proteotra da sabedoria e das atividades intelectuais.
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FONTE:(
ARANHA; MARTINS.
Filosofando, 2003, pp.74-75).