Filosofia
O segredo das campeãs do ensino
As seis melhores escolas públicas do país, segundo o Ideb, revelam o beabá de uma Educação de Qualidade
Dar valor ao professor e fazer com que ele tenha prazer em trabalhar é uma ótima forma de ganhar posições no IDEB.
Qual é o segredo de uma boa escola? Como alcançar uma nota maior que 7? Bons professores, pais participativos, acompanhamento dos alunos: o receituário inclui elementos óbvios. Mas, longe de ser aplicado em todo o Brasil, ele é seguido isoladamente por algumas escolas, como as instituições mais bem rankeadas no Ideb, o principal indicador nacional da educação, que atribui nota de 0 a dez às escolas públicas brasileiras. Localizadas no interior de São Paulo, essas escolas são municipais e ficam em cidades pequenas. Têm baixos índices de repetência e de evasão escolar. A distorção idade-série (percentual de alunos em cada série, com idade superior à idade recomendada para aquele ano) fica abaixo da média brasileira. Todas elas superaram a nota de muitos países desenvolvidos, com média na casa dos 6. E têm o dobro da média brasileira, hoje beirando o 4,2.
- A escola Professora Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida, em Santa Fé do Sul, que alcançou a nota 8,6, encabeça o ranking.
- Empatadas em segundo lugar, com 7,9, ficaram a escola Arminio Giraldi, de Barrinha, a escola André Ruggeri, de Cajuru, e a escola Cirley Volpe Lopes, de Santa Fé.
- As escolas Amilde Tedeschi, de Adolfo, e Rosimare Camargo Benitez, de Santa Fé, alcançaram a nota 7,7, ficando em terceiro lugar.
Como as escolas campeãs do Ideb chegaram ao topo do ensino público no Brasil? Com uma mistura de características comuns, que esquadrinhamos na reportagem que você lê abaixo.
Leia também:
- As lições da campeã do Ideb: a melhor escola pública brasileira mostra o que dá certo - e também o que deve ser evitado - no ensino fundamental
Para ler, clique nos itens abaixo:
- 1. Padronização de conteúdo
- De acordo com pesquisas, a existência de um currículo obrigatório, com metas bem definidas, é determinante para o sucesso do ensino. Em grande parte do Brasil, esse currículo ainda não existe. Nas escolas campeãs, ao contrário, há um padrão comum a toda rede, que garante a homogeneização do que é ensinado aos estudantes.
Por garantir essa padronização, muitas redes adotaram sistemas estruturados de ensino, que fornecem um pacote de serviços com apostilas para docentes e alunos, capacitação de professores, acompanhamento pedagógico e serviços de um portal na internet. O custo mensal é de, em média, 200 reais por estudante. De olho no potencial das redes municipais, que assumiram a o controle da Educação das redes locais sem preparo técnico, grandes empresas do ramo, como o COC e o Objetivo, passaram a produzir versões voltadas para o ensino público, com conteúdo mais tradicional e apostilas mais baratas do que as usadas nas escolas particulares.
Das seis escolas, apenas uma não aderiu a um sistema estruturado de ensino. O motivo: falta de dinheiro. "Recebemos livros didáticos gratuitamente por meio do PNLD [Programa Nacional do Livro Didático] e o dinheiro que economizamos com a compra das apostilas é aplicado de outras maneiras na Educação do município", explica a secretaria de Educação de Barrinha, Rosemary Merli. - 2. Valorização do professor
- Nas escolas de bom desempenho, a valorização dos professores tem duas frentes: remuneração e capacitação.
As bonificações estão atreladas à assiduidade dos mestres. Além disso, a média salarial corresponde, em geral, a média salarial geral de cada cidade. Também investe-se em formação inicial e continuada. Convênios entre faculdades locais e prefeitura garantem descontos para cursar uma faculdade ou curso de pós-graduação. Mais de 90% dos professores das escolas campeãs têm ensino superior completo. Em Santa Fé do Sul, por exemplo, é comum encontrar professores com duas pós-graduações. No Brasil, ao contrário, quase 30% nem sequer possuem curso de graduação e apenas 9% dos professores participam de programas de formação continuada.
Em Santa Fé, em Cajuru e Adolfo as capacitações são de responsabilidade das empresas que fornecem sistema estruturado de ensino, Em Barrinha, a própria prefeitura organiza os cursos, trazendo palestrantes da região. - 3. Presença garantida do professor e do aluno
- Em todas as escolas, a conscientização para combater ausências de professores e alunos é a chave para índices de faltas próximos de zero. O combate à rotatividade e ao absenteísmo dos professores está atrelado, na maioria dos casos, a bonificação salarial. "Em cinco anos, nunca tivemos uma aula vaga", orgulha-se Rosemary Merli, secretaria da Educação de Barrinha. Na cidade, professor que não falta leva 14º salário. O resultado? "Não temos rotatividade", conta diretora da Arminio Giraldi, Edmárcia Gomes.
Não há crianças fora da escola, mas o combate à evasão é continuo. Em Barrinha, por exemplo, os chamados educadores sociais visitam a casa do aluno se ele faltar 3 vezes seguidas. Esses profissionais questionam a família sobre o motivo das faltas e levam a tarefa, caso a criança esteja doente. "Para achar a família, o educador social vai à casa do aluno até no fim de semana", explica a diretora Edmárcia Gomes. - 4. Mais horas na escola e atividades no contraturno
- A exemplo do que ocorre em países onde a educação funciona bem, as crianças passam mais tempo na escola. A média no ensino fundamental I é de 5 horas, contra 4,3 no restante do país.
Além disso, há atividades extra-curriculares no contraturno. Muitas vezes, elas são dadas em espaços alternativos, fora da escola. São disciplinas atrativas, como esporte e arte. Em Barrinha, há oficinas de poesia, aulas de natação, dança e pintura, além de atividades ao ar livre, como o cultivo da horta. Santa Fé do Sul tem aulas de educação ambiental, teatro e judô. Antes da aprovação da lei que tornou obrigatório o ensino de música, o município implementou por conta própria as aulas de flauta.
Em Adolfo, o projeto Espaço Amigo oferece aulas de esporte e artesanato. As crianças também têm hora marcada para a tarefa. - 5. Trabalho em equipe
- Professores afinados, coordenados por um diretor que sabe motivar a equipe e mobilizar a comunidade. A experiência das escolas campeãs mostra que a ênfase no trabalho em equipe dá bons resultados. "Nosso trabalho é, de fato, coletivo. Envolve a direção, os professores e a secretaria de Educação", afirma Eliana aparecida Piccini Coelho, da André Ruggeri.
O envolvimento de todos é um dos aspectos mais importantes para o sucesso dessas escolas. A ex-diretora da Elisabeth Maria Cavaretto de Almeida Odete Stefanoni, que comandou a escola até o fim de 2008, conta que até mesmo os funcionários da limpeza estimulavam as crianças a ler, voluntariamente. "Ninguém faz nada sozinho. Foi um trabalho de equipe mesmo, com enfoque especial à alfabetização". - 6. Continuidade na gestão escolar
- Adolfo, Barrinha e Cajuru reelegeram seu prefeito, o que implica na continuidade dos trabalhos na secretaria de Educação e dos funcionários e na manutenção do mesmo quadro de funcionários. Em Santa Fé do Sul, depois de um mandato de 8 anos do governo anterior, a oposição foi eleita, com a promessa de não mexer em nada na Educação.
Manter a boa nota é um desafio para essas escolas. "Os gestores dessas instituições são cobrados por isso", diz Paula Louzano, pesquisadora na área de Educação. O exemplo dessas cidades mostra que avanços no ensino dependem da continuidade de boas políticas públicas e da definição de metas bem planejadas. - 7. Boa infra-estrutura, biblioteca e internet
- As escolas campeãs não têm infra-estrutura de parque de diversões. Pelo contrário. As instalações são simples, porém limpas e bem-cuidadas. Não há depredação. Como não há, muitas vezes, espaço físico grande, as escolas buscam soluções. Em Adolfo, a falta de espaço físico deu lugar a uma solução simples, porém criativa. O projeto Espaço Amigo converteu uma área ociosa da prefeitura em quadra de esportes e sala de artesanato. O trajeto entre as escolas da rede e a prefeitura é feito em companhia de um inspetor.
As escolas campeãs também contam com biblioteca e com acesso à internet e/ou laboratório de informática. - 8. Participação dos pais na escola
- Pesquisas em todo o mundo comprovam que a participação dos pais é fundamental para a aprendizagem das crianças. Um estudo recente da Fundação Itaú Social, por exemplo, revelou que a participação da família na educação representa 70% do desempenho escolar de um estudante. Pensando nisso, as escolas que ocupam o topo do ranking do Ideb envolveram os pais. "Isso faz a diferença entre uma boa escola e uma mediana", diz a diretora da escola André Ruggeri, de Cajuru, Eliana Aparecida Piccini Coelho.
Palestras voltadas para os pais são a receita da escola Arminio Giraldi, de Barrinha. "Chamamos psicólogos e educadores da região para ministrá-las. A adesão dos pais é grande", explica a diretora Edmarcia Gomes. Os temas giram em torno da importância de estimular a criança com brincadeiras a postura correta dos pais em relação ao dever de casa. Em Adolfo, os cursos de artesanato e capoeira, oferecidos aos alunos no contraturno, envolvem os pais, o que contribui para engajá-los na Educação das crianças. - 9. Avaliação constante para identificar os defasados
- A experiência internacional diz que avaliar e cobrar resultados é importante para avançar. Em Adolfo, Cajuru e Santa Fé do Sul, as avaliações são elaboradas com apoio das empresas fornecedoras de material didático e sua periodicidade é definida em parceria entre as redes e empresas. Em Barrinha, uma avaliação anual é elaborada pela secretária de Educação. O resultado dessa nova define quem precisa ou não de aulas de reforço.
Além disso, há provas bimestrais e tarefas. A Emei Maria Elisabeth Cavaretto de Almeida, em Santa Fé do Sul, também recorre à simulados do Ideb, com conteúdo semelhante à da prova feita pelo Inep. - 10. Reforço no contraturno para os defasados
Fonte: http://educarparacrescer.abril.com.br/indicadores/campeas-ideb-473135.shtml
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