Eu estava sentada em 1985, numa carteira rabiscada e desconfortável, numa escola de Ensino Médio do noturno, e me perguntava: "Por que tenho que estar aqui, já reprovei três vezes, vou reprovar novamente? Odeio escola, acho que irei parar, da mesma forma que meus outros amigos, contemporâneos, fizeram. Isso aqui não servirá para nada. Não entendo quase nada e nunca irei usar nada disso aqui na vida". Nesse momento, surgiu um professor, meio estranho, não se parecia um professor. Ele entrou, fez um desenho de um boneco na lousa e pediu para uma aluna molhar um giz..Ela chegou e ele colou o giz no nariz do boneco.
Ninguém estava entendo nada, os melhores alunos da sala estavam atônitos e ele disse: "Sou eu o panaca que irei dar aula de Filosofia para vocês, é tarde demais para vocês reclamarem"..
Pela primeira vez, eu vi a classe toda democraticamente rindo. Nesse momento pensei: "Que matéria é essa que faz a gente rir?". Iniciou-se em mim, um interesse pela Filosofia.
Conheci os ideais existenciais e libertários. Conheci Sartre e Heidegger . Diante disso, questionei a ditadura que vivíamos na década de 80, entendi porque a 1a República caiu. Apaixonei-me pela Literatura e enfim, compreendi "O alienista" de Machado de Assis, assim como Urupês de Monteiro Lobato. Minhas notas subiram e não mais reprovei. A educação começou a fazer sentido na minha vida. Acabei o EM e resolvi fazer Filosofia na Puccamp, depois História, Pedagogia, Psicologia da Educação, especializações e não acabei ainda.
Conheci outros ilustres, mas foi o professor de Filosofia, Maurício, que mudou minha direção, apenas com um toque sutil da dúvida real, "- Por que essa disciplina está nos fazendo rir?"...Bem, uma aula diferente pode tornar as pessoas diferentes e entenderem que são singulares ...Pode mudar o rumo das coisas..
Agradeço a esse mestre..(tentei seguir seu exemplo).