Um dia, uma garota chamada Lya entrou no escritório do pai e tascou: ? Quem era Sócrates? ? Era um filósofo. Então o pai explicou que filósofos são pessoas que se perguntam o porquê das coisas e refletem sobre o mundo. E depois de contar que Sócrates não havia escrito livros, mas seus alunos, sim, passou à menina O Banquete, de Platão. Ela não entendeu muito, mas achou lindo. Cresceu sem deixar de se fazer perguntas, tornou-se escritora, teve três filhos, e um deles, vejam só, virou filósofo. E agora Lya Luft e o doutor em Filosofia Eduardo Luft lançam um livro para incentivar as crianças a buscar respostas para suas questões, pois, como diz o título, Criança Pensa.
Mas não espere nada didático. A terceira incursão de Lya no universo infantil, e primeira de Eduardo, é mais uma aventura. A exemplo de Histórias de Bruxa Boa e A Volta da Bruxa Boa, não é difícil identificar traços de Lya no papel de uma avó original, que instiga a imaginação dos netos ? crianças perguntadeiras livre e levemente inspiradas em histórias e questões de três netos de carne e osso, Rodrigo e as gêmeas Fernanda e Fabiana, todos com seis anos. E completando o trabalho a seis mãos, a pediatra e primogênita da escritora, Susana Luft, assina as ilustrações dessa produção em família que em tom divertido leva a sério a capacidade das crianças de filosofar e surpreender.
? Criança pensa e pensa lindamente. Sou fascinada pela visão singular que elas têm entre o real e o mágico ? diz Lya.
? As crianças têm um olhar de maravilhamento diante do mundo, que lembra o senso de admiração da filosofia. Aristóteles e Platão diziam que a filosofia começa com a admiração do mundo que, para o filósofo, tem a ver com a dúvida ? completa Eduardo, que é professor universitário e autor de livros de filosofia.
É esse olhar maravilhado que conduz o livro. Os primos Diogo, Isa e Dora viajam com a avó para o sítio de um tio, e lá espera por eles uma ilha cheia de segredos e um livro dos pensamentos. É o início da jornada que inclui o gigante Dandão (que, diz o nome, não usa muito a cabeça), uma árvore falante e muitas perguntas: ?Por que as folhas caem?? ou ?Se eu faço uma coisa errada e ninguém vê, ela ainda é errada??.
A história foi tomando forma na troca de e-mails entre Lya e Eduardo, e assim um dragão entrou e saiu de cena, o lago tranquilo virou mar revolto, e perguntas levaram a outras perguntas e mais aventuras. E a grandes achados. O título foi uma resposta de Lya à frase que costumava ouvir na infância, ainda que de brincadeira, ?Criança não pensa?, e provocou o comentário que virou epígrafe do livro. Quando Eduardo disse ao filho caçula, Rodrigo, que o livro se chamaria Criança Pensa, o guri retrucou:
? Claro, pai, minha cabeça é pequena, mas está cheia de ideias.
Duas gerações de filosofias
Quando o filho mais velho, Marco, 21 anos, era pequeno, o filósofo Eduardo Luft começou a colecionar as perguntas e comentários surpreendentes que ele fazia. Hoje, a lista aumenta com as frases do caçula, Rodrigo, seis anos ? duas delas fazem parte da narrativa de Criança Pensa. A coleção e tantas outras questões reunidas ou imaginadas poderão fazer parte do próximo livro que Eduardo e a mãe, Lya Luft, planejam escrever, reunindo perguntas e respostas possíveis.
Questões do Rodrigo Luft:
> Quando o inverno vem, o verão vai para a sua estação. É como os trens.
> Se no início o universo era uma bola bem pequenininha, o que tinha ao redor?
> O espaço tem chão? Pergunta de Lya Luft, quando era pequena:
> Por que de algumas pessoas a gente gosta e de outras não?