pesquisas que confundem
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As pesquisas que confundem os animais


As idas e vindas de um “hipocondríaco fanático” diante das fantásticas descobertas das publicações científicas que ora concluem uma coisa, ora o contrário

POR PEDRO VALLS FEU ROSA | 18/02/2014
Chico Kafka da Silva é um hipocondríaco fanático, daqueles que se acham muito doentes e passam o dia todo lendo pesquisas sobre saúde. Ele leu uma do Medical College, da Georgia (EUA), dizendo que cachorros e gatos reduzem o risco de alergias.
Como seria de se esperar, Chico foi correndo a uma loja comprar dois gatos e dois cachorros, com os quais esperava curar suas alergias. E lá vinha ele de volta, feliz com seus animais, quando resolver parar em uma banca de jornais e comprar a revista Epidemiology. Abriu-a e descobriu outra pesquisa, também norte-americana, concluindo que “as crianças que tinham um animal de estimação em casa estavam mais propensas a desenvolver asma”. Horrorizado, Chico voltou correndo à loja e devolveu a bicharada que havia adquirido.

Mas eis que, no dia seguinte, ele leu em um jornal os resultados de uma pesquisa feita pelo “Melbourne Institute of Applied Economic and Social Research”, da Austrália, segundo os quais ter um animal de estimação torna as pessoas mais saudáveis.
E lá foi o Chico comprar de volta os dois gatos e os dois cachorros que havia devolvido na véspera. Ao chegar em casa, já com os animais, ele leu na internet uma outra pesquisa, norte-americana, no sentido de que “o pelo, a saliva, as patas, as fezes e a urina de gatos e cachorros abrigam diversos microorganismos capazes de provocar doenças”, reduzindo a vida das pessoas que com eles convivem. E agora? Como proceder?
Sob intenso “stress” e sem saber o que fazer, Chico voltou à banca de jornais e comprou outras revistas sobre saúde para aconselhar-se. E foi assim que ele leu o título de uma interessante reportagem: “Estressado? Converse com seu animal de estimação”. A notícia era referente a uma nova pesquisa, feita pela Universidade de Nova York (EUA), segundo a qual “gastar algum tempo com animais é mais efetivo para a redução do “stress” que falar de seus problemas com amigos ou parceiros”. Em verdade, constatou-se que, dentre 240 casais pesquisados, aqueles que discutiam seus problemas com animais domésticos ficaram muito menos “estressados” (não se esclareceu o nível do “stress” a que ficaram submetidos os cachorros e gatos após ouvirem tantos problemas de seus donos).
Assim, lá foi o Chico conversar com os dois gatos e os dois cachorros que havia comprado sobre se animais domésticos faziam bem ou mal à saúde. Enquanto conversava com eles, Chico lembrou-se de uma famosa frase: “no semblante do animal que não fala há todo um discurso que só um espírito sábio é capaz de entender”.  Porém, como ele não tinha um espírito sábio, não compreendeu o discurso dos seus animais e continuou confuso!
E a coisa piorou no dia seguinte, quando ele leu nos jornais os resultados de uma ampla pesquisa, realizada na Escócia, segundo a qual “os maus hábitos alimentares e o sedentarismo dos donos afetam a saúde dos seus animais”. Segundo os pesquisadores britânicos, os animais cujos donos não tinham boa saúde apresentaram um sensível aumento de doenças cardíacas e diabetes. Agora já não eram mais os animais influenciando a saúde do Chico, e sim o contrário!
Foi quando, diante de tantas pesquisas feitas por tantas instituições reconhecidamente sérias, e após conversar com seus gatos e cachorros, que Chico Kafka da Silva chegou a uma conclusão: os animais ficariam em sua casa, porém longe dela, pois eles fariam mal à saúde dele, apesar de ajudá-la, e ele teria que permanecer saudável para não prejudicá-los.

Pedro Valls Feu Rosa
* Pedro Valls Feu Rosa é desembargador há 18 anos e atual presidente do Tribunal de Justiça do Espírito Santo (TJES).
fonte:
http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunistas/as-pesquisas-que-confundem-os-animais/



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