Numa de minhas idas a uma livraria, levei alguns exemplares ao caixa e a moça me disse: ?Vou calcular o valor?. Pensei em brincar com ela: ?O valor desses livros é incalculável! O que você vai calcular é o preço?.
Conferir valor é algo que marca a intervenção dos seres humanos no mundo como criadores de cultura. A transformação que se opera por meio do trabalho se dá no aspecto material e também no plano simbólico de atribuição de significados. Os objetos e bens ganham valor pelo que representam para nós. Valorizar significa não ficar indiferente, implica manifestar-se em relação a algo.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano afirma que ?fomos ensinados que o que não tem preço não tem valor?. Assim, ele faz uma provocação para nós: as pessoas ?são ensinadas? em todas as instituições, mas na escola o ensino se dá de maneira diferenciada. Somos desafiados a ref letir sobre os valores que difundimos.
Os valores presentes nas ações do cotidiano
Em todas as nossas ações e relações estão valores de diferentes naturezas: lógicos, estéticos, econômicos e morais. Esses últimos dizem respeito às atitudes dos indivíduos e, no cotidiano do trabalho dos diretores e dos coordenadores pedagógicos, eles aparecem na condução de uma reunião com a equipe, na resposta a uma reivindicação dos familiares, numa orientação aos alunos, no acompanhamento do trabalho dos funcionários. Existe sempre uma dimensão moral ? e é preciso que haja também uma perspectiva ética. Moral e ética não são sinônimos. A primeira diz respeito ao ethos, ao jeito de viver de uma sociedade e ao conjunto de prescrições que orientam a vida coletiva. A segunda, a ciência do ethos, é a reflexão crítica sobre os fundamentos dos valores morais. Agimos moralmente e nem sempre realizamos uma ref lexão ética. E é isso que tem faltado em todas as instituições, incluindo as escolas. A pergunta da moral é: como devemos agir? A resposta está nos códigos, formalizados ou não, com as regras de cada sociedade. A pergunta da ética é: como queremos viver? Ela faz referência ao sentido do agir.
Como educadores, temos de fazer as duas perguntas. A da ética nos faz olhar para a significação do dever. Devemos ensinar conteúdos, avaliar e construir um projeto pedagógico, mas... por quê? Para quê? Nosso trabalho está colaborando para a construção da vida plena, nossa e dos alunos? Nas respostas e nas ações que delas derivam, empenhamos nossa liberdade e definimos nossa responsabilidade. É o nosso desafio cotidiano, um desafio que não tem preço!
TEREZINHA AZERÊDO RIOS é professora do programa de pós-graduação
da Universidade Nove de Julho.