RESENHA: O que e sociologia (MARTINS, C.B.)
Filosofia

RESENHA: O que e sociologia (MARTINS, C.B.)


Obra: MARTINS, Carlos B. O que é sociologia. S.Paulo: Edit. Brasiliense, 1988, 98p. (Coleção Primeiros Passos)

"O que é sociologia", de Carlos B. Martins (1948) tem como propósito apresentar a historicidade do termo "sociologia", desde as primeira tentativas de se articular uma reflexão dos pensadores do século XVIII, cenário da Revolução Industrial, até os seus dias (década de 1980); o título da obra deixa entrever o caminho de seu conteúdo, porque em momento algum fora transformado em questão e a supressão da interrogativa, já na capa do livro, resguarda o autor de não querer esgotar, de fato, o que é a sociologia.
Uma obra curta, a estilo da "Coleção Primeiros Passos", não ultrapassando a contagem de 98 páginas, em tamanho 'pocket" (livro de bolso), o autor distribui o conteúdo em quatro secções, mais uma servindo de apêndice; uma breve introdução, seguida de três capítulos nos quais dispõe o surgimento, a formação e o desenvolvimento dos esforços e dos pontos sociais assumidos por autores que ajudaram a construir o emaranhado e multifacetado termo 'sociologia', fazendo com que o leitor se aperceba de que a sociologia, enquanto disciplina regulamentar do ensino básico, difere e se distancia de seu nascedouro tanto quando das abordagens pretendida por eles. A última parte do livro, o autor, demonstrando conhecimento de seu objeto de exposição, traça indicações pertinentes a outras fontes de leitura sobre o tema e seus afins.
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A introdução cumpre com a sua função: apresentar a construção da sociologia e por quais [des] caminhos seguiu. O primeiro capítulo, 'o surgimento', trata de uma volta à História; há uma contextualização, mostrando que a sociologia não teve um aparecimento, isto é, ela não surgiu do nada, senão das próprias mudanças sofridas pelas cidades, que, no início se configuravam como povoados agrícolas, e num curto espaço de tempo (1780-1860), tornaram-se cidades industriais, inchadas e sem preparo para acolher a massa populacional que a essas cidades se dirigiam. Aqui começa uma revisão do pensamento quanto aos fatos: agora era a observação que ditava os pressupostos do conhecimento e não mais as forças naturais. São citados Bentham (1748-1832), pela ação na sociedade; Bacon (1561-1626), pela filosofia científica e Vico (1668-174), que introduz a sociedade como objeto de estudo. O capítulo se estende até a primeira metade do século XIX.
No segundo capítulo, "a formação", a obra se preocupa em descrever as antinomias dentro daquilo que seria a nova ciência: a sociologia. Em primeiro, trata de situar o caráter revolucionário frente o sistema feudal europeu. Assim é que a Revolução Francesa (1789), inspiradora da nova sociedade, precisava de uma nova maneira de enxergar o mundo: um mundo melhor, dividido entre os iguais. Conseguida a vitória, cumpria neutralizar o espírito revolucionário dos rebelados. Surgem os conservadores, que buscavam reestabelecer a ordem, a estilo da medievalidade, Burke (1729-1797) e Maistre (1754-1821). Entre as tensões iluministas e conservadores, o positivismo ganha força. Maior destaque, a obra dedica a Saint-Simon (1760-1825), incluso entre os grandes e primeiros socialistas, pois bebeu tanto da fonte iluminista quando da conservadora. Depois dele, Comte e Durkheim, ora reforçando ora avançando a sua teoria, tanto que Durkheim o coloca como sendo o verdadeiro pai da sociologia, os três estavam convencidos de que a desestruturação da sociedade somente levava a mais desordem e que a reestruturação social devia inevitavelmente passa pro um equilíbrio, isto é, manter o que já se tinha. Como crítica mais expressiva, surgem Marx (1818-1883) e Engels (1820-1903), que colocavam os seus antecessores como 'utópicos'. Para esses dois, o problema social gira entorno da economia, conforme se aproximaram de Smith e Ricardo, economistas clássicos, e não dos problemas morais, como queriam os outros. Somente com Weber (1864-1920) é que a sociologia adquiri seus primeiros conceitos e métodos de investigação.
No capítulo terceiro, "o desenvolvimento", traça o discurso sociológico como um instrumento da burguesia. O primeiro ponto levantado é a coincidência do surgimento da sociologia com a expansão do capitalismo: há aqui a equilavência de o grande gerador de riquezas ser o grande fomentador do descontrole social. A burguesia usou das ciências sociais ora para justificar uma revolução ora para se assegurar no poder. Tanto lá (séc. XVIII) quanto cá (séc.XX), os trabalhos apresentados pelos sociólogos parece obedecer a regras do pensamento dominante: lá, para fornecer dados para o controle da população; cá, para manter a ordem na sociedade. Inovaram na abordagem social os pensadores da Escola de Frankfurt, como ficou conhecido o Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt, que se colocavam entre o positivismo de Comte e a ideia criada pelo marxismo positivo. Na linha da Escola, nomes como Luckas e Gramsci.
A última parte do contéudo é apresentado como indicações para leitura. Vários títulos e autores são elencados como sugestões e comentários do autor.
A obra toda é um apanhado de informações sobre a sociologia. Não que seja a resposta do que de fato é a sociologia; ao contrário, as várias abordagens sobre o alcance e a influência da sociologia na sociedade moderna, que começou como meio de contestatação e, com o passar do tempo, foi se tornando um meio de controle da população, até terminar como um instrumento de apaziguação. Confrontandocom o ideário comum, a sociologia não é a ciência da sociedade, senão a ciência da observação das relações sociais, isto é, não é o estudo de como a sociedade surgiu; é, antes, a observação de como os homens se relacionam e firmam contratos para viver em sociedade.
Diante do objetivo da obra, ela se apresenta como válida, porque, de fato, em nenhum momento se afasta do tema central. Contudo, as idas e vinda a ideias e autores em partes distintas da obra causam estranheza e confusão quanto à estrutura e o desenrolar do tema, sem, no entanto, deixar de persegui-lo. O que aparece no capítulo 'formação' é repetido no capítulo 'desenvolvimento' e, o que pareceria desenvolvimento, está muito mais próximo à releitura histórica da formação.
A obra "O que é sociologia" seria indicada, sobretudo, aos estudantes do 3º ano do Ensino Médio, pois condensa os esforços de vários teóricos sobre o assunto 'sociologia' e os apresenta como força de validade da disciplina. Aos interessados em História e Filosofia, pois retomam feitos e datas e, de maneira especial, os pensadores que puderam, em seu tempo, ter uma visão privilegiada da situação em que viviam e propuseram caminhos alternativos aos que se lhes eram apresentados. E, enfim, aos que se vão pelas Ciências Sociais, porque sempre é tempo, oportuno e bom, recordar as fundamentações das relações estabelecidas pelos homens.
O autor da obra "O que é sociologia" é Carlos Benedito Martins, nascido em Goiás, em 04/1948. Sua vida acadêmica está intimamente ligada à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a PUC-SP. Lecionou na instituição desde 1972; em 1979, alcançou o título de Mestre em Sociologia. Na década de 1980 iniciou os estudos de Doutorado em Sociologia na Universidade Paris-V. É também autor do trabalho "Ensino pago: um retrato sem retoques" (Global Edit.); "Para onde vai a pós-graduação em Ciências Sociais no Brasil" (Ed. Edusc); "Ensino Superior Brasileiro" (Ed. Brasiliense).
Frederico Bandeira, licenciado em Filosofia (USF); professor de Filosofia e de Sociologia; formando do Curso de Administração (Anhanguera-Piracicaba).



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