Filosofia
Te direi em Segredo - poema de Rumi
MagnÃfico!simplesmente um dos mais belos, sublimes e profundos conjuntos de versos já lapidados pelo espÃrito humano...repleto de sÃmbolos, metáforas, de sensações e de amores...só um alquimista seria capaz de penetrar seus códigos... só um autêntico enamorado do Sagrado sentiria com tamanha intensidade... com tamanha profundidade, translucidez e êxtase! nenhuma emoção supera esse sentimento... só um espÃrito suficientemente elevado seria capaz de enunciar tal 'melodia', a partir de sua alma, que não sei se é mais humana ou se é mais divina...somente o Ser, a fonte de tamanha inspiração e júbilo... deleite-se! e sinta neste poema magnÃfico, o que também posso sentir agora! Atribui-se a autoria do texto a J. Rumi **silvio m. maximino
Vem,
Te direi em segredo
Aonde leva esta dança.
Vê como as partÃculas do ar
E os grãos de areia do deserto
Giram desnorteados.
Cada átomo
Feliz ou miserável,
Gira apaixonado
Em torno do sol.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.
Desde que chegaste ao mundo do ser,
uma escada foi posta diante de ti, para que escapasses.
Primeiro, foste mineral;
depois, te tornaste planta,
e mais tarde, animal.
Como pode isto ser segredo para ti?
Finalmente, foste feito homem,
com conhecimento, razão e fé.
Contempla teu corpo - um punhado de pó -
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
decerto hás de regressar como anjo;
depois disso, terás terminado de vez com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
Não durmas,
senta com teus pares
A escuridão oculta a água da vida.
Não te apresses, vasculha o escuro.
Os viajantes noturnos estão plenos de luz;
não te afastes pois da companhia de teus pares.
Faltam-te pés para viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete, como a mina de rubis,
os raios de sol para fora de ti.
A viagem conduzirá a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso
por tua ignorância,
carregaste teus trapos
para um lado e para outro,
agora fica aqui.
Na verdade, somos uma só alma, tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos tu em mim, eu em ti.
Eis aqui o sentido profundo de minha relação contigo,
Porque não existe, entre tu e eu, nem eu, nem tu.
Oh, dia, levanta! Os átomos dançam,
As almas, loucas de êxtase dançam.
A abóbada celeste, por causa deste Ser, dança,
Ao ouvido te direi aonde a leva sua dança.
Ontem à noite, confidencialmente, eu disse a um velho sábio:
- Não me esconda nada dos segredos do mundo!
Muito docemente, ele me disse ao ouvido:
- Chut! Podemos compreender, mas não exprimir!
Quero fugir a cem léguas da razão,
Quero da presença do bem e do mal me liberar.
Detrás do véu existe tanta beleza: lá está meu ser.
Quero me enamorar de mim mesmo, ó vós que não sabeis!
Eu soube enfim que o amor está ligado a mim.
E eu agarro esta cabeleira de mil tranças.
Embora ontem à noite eu estivesse bêbado da taça,
Hoje, eu sou tal, que a taça se embebeda de mim.
Ele chegou... Chegou aquele que nunca partiu;
Esta água nunca faltou a este riacho
Ele é a substância do almÃscar e nós o seu perfume,
Alguma vez se viu o almÃscar separado de seu cheiro?
Se busco meu coração, o encontro em teu quintal,
Se busco minha alma, não a vejo a não ser nos cachos de teu cabelo.
Se bebo água, quando estou sedento
Vejo na água o reflexo do teu rosto.
Sou medido, ao medir teu amor.
Sou levado, ao levar teu amor.
Não posso comer de dia nem dormir de noite.
Para ser teu amigo
Tornei-me meu próprio inimigo.
Teu amor me tirou de mim.
De ti, preciso de ti
Noite e dia, eu queimo por ti.
De ti, preciso de ti.
Não posso dormir quando estou contigo
por causa de teu amor.
Não posso dormir quando estou sem ti
por causa de meu pranto e gemidos.
Passo as duas noites acordado
mas, que diferença entre uma e outra!
Não temos nada além do amor.
Não temos antes, princÃpio nem fim.
A alma grita e geme dentro de nós:
- Louco, é assim o amor.
Colhe-me, colhe-me, colhe-me!
À noite, pedi a um velho sábio
que me contasse todos os segredos do universo.
Ele murmurou lentamente em meu ouvido:
- Isto não se pode dizer, isto se aprende.
A fé da religião do Amor é diferente.
A embriaguez do vinho do Amor é diferente.
Tudo que aprendes na escola é diferente.
Tudo que aprendes do Amor é diferente.
- Vem ao jardim na primavera, disseste.
- Aqui estão todas as belezas, o vinho e a luz.
Que posso fazer com tudo isso sem ti?
E, se estás aqui, para que preciso disso?
*atribuÃda ao poeta sufi Jalaluddin Rumi
(1202-1273)
**Rumi é um poeta sufista.
O Sufismo é uma fraternidade espiritual nascida na antiga Pérsia e marcada pela busca de liberdade interna. Seus adeptos são, muitas das vezes, artistas, poetas, músicos, dançarinos, atores, que se utilizam da arte como meio de afinar sua espiritualidade. Dessa maneira, eles se destacam por criar meditações criativas e inspiradas, alegres e despojadas.
O sufismo é um movimento espiritual que se infiltra em todas as demais escolas espirituais e religiões e tenta extrair de cada uma delas suas verdades mais Ãntimas e secretas. Sua essência é aceitar qualquer experiência e decifrar a inteligência camuflada por trás dela. Dessa maneira, um sufi nunca evita uma experiência, mas busca usá-la, seja qual for, como caminho para a vivência da espiritualidade.
O caminho dos sufis rumo à realização espiritual passa sempre pelo coração. Ser um sufi significa viver um caso de amor com a espiritualidade, envolvendo a paixão fervorosa de um amante e a maturidade tranqüila de um amor fraterno.
Pode-se mesmo dizer que os dois referenciais máximos do sufismo são o a liberdade e o amor. Rumi, poeta sufi do século XII resume este espÃrito em seus versos.
Pedro Tornaghi
(fonte: http://pedrotornaghi.com.br/blogger/?page_id=595)
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