Filosofia
The end of relationships | Do fim das relações
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Querida Sofia,
Um dos principais motivos de conflito “interno”, existentes no meu coração, para com a minha família tem como origem a minha incapacidade em sentir qualquer admiração por alguns dos membros que a constituem. E o problema maior reside no facto que a admiração e o facto de ser inspirador são umas das coisas mais importantes que procuro nas pessoas. Na minha família. Nos meus amigos. Nas pessoas que conheço ocasionalmente. Nos meus namorados. Num simples encontro. Nos meus colegas de escola e universidade. Nos meus colegas de trabalho (passados e presentes).
Alguém inspirar-me profissionalmente ou pessoalmente é muito mais importante do que o que veste, como se porta (bom… depende dos casos) e o seu valor social (muito importante para os Angolanos essa coisa do valor social… pfff…).
Gosto de pensar que estou rodeada pelas melhores pessoas que encontrei na minha vida. Que os meus amigos têm, por exemplo, algo de raro que não poderia encontrar em outras pessoas. Já tive MUITAS amizades que falharam nos últimos anos e muito se deve ao facto de não admirar ou ter deixado de admirar algumas das pessoas com quem lidava e que achava que tinham (ou não) um lugar especial na minha vida.
Uma das piores coisas que me possa acontecer é perder a admiração por alguém. Faz com que me sinta absolutamente devastada. Claro que nada na vida é irreversível, mas não acho ser a melhor pessoa a dar segundas oportunidades (nem a mim consigo dar para alguns dos meus desafios pessoais) e descarto as pessoas da minha vida antes mesmo que estas possam mostrar-me outra faceta (melhor, mais positiva e que eu até poderia voltar a admirar).
Acho que é por isso que os membros da minha família têm alguma sorte: que eu queira ou não, estão sempre ali, então posso vê-los aumentarem e descerem na minha estima. E acho que é bilateral, que deve haver alguns que já deveriam ter desistido de mim.
Mas adiante.
Com o meu ultimo namorado (será que o posso chamar de mini-namorado? Foi uma relação relâmpago, com altos e grandes baixos nos meus níveis de interesse, que nem sei se era MESMO um namorado aos meus olhos) é/era a pessoa mais doce e dedicada que conheci nos últimos 7 anos. Tão doce e dedicado ao ponto de eu ficar com saudades de pessoas frias e arrogantes, que são no fundo e infelizmente, as pessoas com quem mais me rodeio, na volta por gostar de sofrer. O outro caminho – o do esforço e da dedicação das pessoas para comigo – não parece ser muito o meu (não tentes compreender, eu também não consigo).
O tempo foi passando e dei conta, além desse esforço e dedicação, que ele não tinha ponto algum que nele conseguisse admirar. Posses financeiras ou a falta delas nada tem a ver com isso. Sempre estive rodeada (família) por pessoas bastante humildes e modestas que no entanto, sempre gostaram de aprender, sobretudo sozinhos por não haver dinheiro para o fazerem com acompanhamento. Pessoas ansiosas por aprender mais, saber mais.
A curiosidade pela vida e pelas coisas não tem preço. Até para pessoas que não tiveram os recursos para viajar, sair da cidade na qual nasceram, mudar de vida num ápice… Quando deparamos com uma pessoa com falta de ambição, que gosta da vida exactamente como ela é, que está absolutamente conformado com o que está mal ou menos bem e não se mexerá apenas para que não lhe aconteça nada pior. Para resumir, uma pessoa sem espírito de aventura, sem garra, sem tomates... e tu já sabes o quanto eu preciso disso em mim e à minha volta para sobreviver na selva da vida.
Este sentimento de “desadmiração” por pessoas assim é ainda mais difícil quando acontece com uma pessoa que parecia ser importante para nós e com quem, durante alguns dias, até pensamos construir algo giro.
E é assim que no MEU mundo e do MEU ponto de vista, as relações acabam, a razão porque conhecidos nunca se tornam amigos e porque supostos amigos se tornam meros desconhecidos.
Dear Sophie,
One of the main reasons of internal conflict residing in my heart towards my family originates in the fact that I am unable to feel admiration for some of its most important members. Admiration and inspiration is one of the feelings I seek the most in people, if not the MAIN one. In my family. In my friends. In my acquaintances. In my boyfriends. In simple dates. In my schoolmates. In my colleagues.
For me, that is (much) more important than what they wear (could not care less), how they behave (I care, but that is another topic) and how much they are socially worth.
I like to believe I like to be surrounded with the best people I have encountered in my life. I have had many failed friendships in the past few years, and many of its blame is to take from the fact I did not admire those people that have some kind of place in my life. Maybe there was admiration at the beginning but then it vanished. These feelings can be changed, of course, but I am not always able to give people another chance to change such a big impression.
That is why my family members are lucky: they will always have to stick around, so I can see their failures and their successes. They are like cats – not by its increasing number, but for the various times they reset the GAME OVER card to a START AGAIN one.
With my last boyfriend (could I call him mini-boyfriend? That relationship was so vapt vupt, I do not think he was even a real boyfriend to my eyes) was the sweetest and most dedicated boyfriend I have had in the past 7 years (too sweet and dedicated to my very “I kinda like bittersweet snarky arrogant people” taste, btw). But the more time went on, I realized there was not an item in his personality or life experiences that I could admire. Money or the lack thereof has nothing to do with it.
I come from a very modest background, and I admire my grandparents and parents greatly for having succeeded and “self-taught themselves” through life when there were simply no resources to go to school, to travel, to go even beyond the city they were born in. When you come across someone who has no ambition, who loves life exactly as it is, who is just conformed to what he already has and does not want to ask or do anything to achieve more, that is the major disabler of admiration from me.
And this exercise is even more difficult for me when it is for someone who I (thought I) cared about and wanted to build something with. That is how – in MY world and MY point of view - relationships end, why acquaintances do not turn into friends and why so-called friends become strangers.
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