Filosofia

As mulheres que vestem 38 fazem mais amor que as outras

Querida Sofia,

Pois é assim que começa este artigo made in England. Não estou de acordo mas cientistas Ingleses constataram - num dia de grande iluminação - que as mulheres que vestem o 38 fazem mais amor que as mulheres que vestem um 42. Incrível a ciência comprovar algo que sempre residiu na minha cabeça. "Quando eu fôr mais magra, vou ser mais feliz". "Quando eu fôr magra eu vou ter o namorado dos meus sonhos". "Quando eu fôr magra, vou ser como sempre imaginei ser". Destas três frases, apenas acertei numa. Sou exactamente tudo o que eu sonhei ser aos 22 anos. Não posso pedir mais a Deus. Posso apenas pedir mais a mim própria, e ir além, porque o limite é... apenas o chão que piso. Ter emagrecido 22 quilos não me trouxe felicidade. Mas deu-me garra. Ter emagrecido não era o objectivo da minha vida. Mas era um dos maiores sonhos da minha vida. Ter emagrecido não é uma victória, mas é uma batalha que foi para o chão, derrotada. Dando assim lugar a outras lutas. Que não são menores. Muito pelo contrário. Eu - junto com milhares de mulheres no mundo inteiro - sonho ser independente. Sonhamos e somos e queremos ser mais independentes. E mais magras. E provarmos à nós mesmas e ao resto do mundo que somos auto-suficientes e que não precisamos de ninguém para sermos felizes.

Hoje gosto de sentir que estou sozinha. Parece que o oxigénio mudou a sua consistência para mim. Ficou mais leve, será? ou era eu que precisava de novo desta liberdade pela qual rezava há tantos meses?

Nada como sair e chegar a casa quando queremos, saber que não temos de arrumar a roupa de ninguém, não temos de aturar outra familia que não a nossa - que a nossa já nos basta - que não vai ser preciso forçarmo-nos a ouvir músicas que não nos dizem nada, e que hoje não lhe vamos pedir que nos diga "amas-me?".

O principe encantado existe. Existe tanto ele como existem os sapos. Muitos sapos, camuflados, vistosos, salientes, gostosos. Mas existem, eles todos. Todos eles. Fugimos deles, procuramo-los. Procuramos por eles e eles é que fogem de nos. Pegam no nosso coração, lêm o sinal frágil e deitam-no ao chão.

Dizem que as mulheres que vestem 38 fazem mais amor que as outras. Eu antes vestia 46. Já vesti 42. Hoje visto 38. Então que venha o amor, não? não é o meu pote de ouro na busca do final do arco-iris? Comer aquela maçã, naquele dia, em vês de comer um pastel doce e frito, dá-me direito a alguém que cante para mim? Fazer exercicio naquele dia em que choveram pedras, dá-me direito a alguém que me respeite? Ter tomado tantos litros de sopa (sem sofrimento, tá) em vez de bons bifes fritos, dá-me direito a alguém que me faça viajar? Fazer o corpo suar com uma corrida dá-me direito a querer alguém que me faça suar na corrida da nossa vida? E aqueles cremes todos, que dizem que "tiram" centimetros, valeu a pena esfregá-los todos, dando-me o direito de querer que ele tenha a gravata quase desmancha sobre camisa branca e o cabelo despenteado? E o olhar matreiro, e que me fale como um conde Alemão? Será que os meus esforços por mim propria dão-me direito ao que quer que seja que não dependa de mim mas de outra pessoa, e do que ela está disposta a dar?

Aí, coração inquieto, minha Elite. Fica calma. Fica fria. Fecha os olhos. Come um gelado e saboreia a vida. Que o que nos espera vai ser tão bom e tão forte. E nada como descansar hoje. Porque afinal agora eu visto um 38. Tendo mesmo assim a certeza que as perguntas seriam as mesmas se eu vestisse de novo o 46. E poderiam até ser menos pesadas que as perguntas que me coloco hoje. Porque quando dámo-nos conta que não é o corpo que nos impediu de fazer o que quer que seja nesta vida, mas fomos apenas nós próprios... que nos matamos, nos desiludimos e deixamos de nos dar atenção. Aí, coração inquieto, minha Elite. Fica calma. Fica fria. Fecha os olhos. Come um gelado e saboreia a vida. Que o que nos espera vai ser tão bom e tão forte. E nada como descansar hoje.

Porque afinal agora eu visto um 38.

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