Elite, 10 brothers and sisters, but as lonely as lonely can get
Filosofia

Elite, 10 brothers and sisters, but as lonely as lonely can get


Querida Sofia, 
Dizem que na vida, quando acaba um problema, começa outro, assim como o acne na (minha) cara ou os cogumelos da floresta. No fundo, se as coisas fossem exactamente assim, a minha vida seria mais fácil. Sinto que neste momento – e por “este momento”, quero falar dos últimos 12 a 18 meses – os meus problemas não têm tido tempo para acabar. Se cada problema na minha vida fosse um livro aberto, teria o chão da minha casa completamente repleto de livros abertos. E Deus, como eu gostaria de fechar um ou dois livros de uma vez por todas. Estou farta de ser mártir, quero ter uma vida normal – ok, momento calimero off. 
Sei que é meio desesperante vir para aqui gritar que tenho muitos problemas sem dizer exactamente o que me dói. Então vou dizer o que me dói. Assim fica escrito de uma vez por todas e vou poder reler dentro de alguns meses ou anos, a sorrir e pensar “eu era tão parvinha” ou então “Deus, a vida não mudou, apenas as rugas chegaram”. Já disse aqui várias vezes, de boca cheia, que tenho 10 irmãos e irmãs. Sem contar os mais pequeninos que não tomaram ainda grandes decisões na vida, tenho três irmãos mais velhos e duas irmãs mais velhas. Não somos uma família muito unida, mas por vezes, algures no passado recente ou menos recente, fizemos alguns esforços. Uns fazem mais do que os outros, claramente. E neste grupo de irmãos, temos uma espécie de lei interna e silenciosa que faz com que de tempos a outros, pelo menos dois irmãos não falem um com o outro. Podem ser dois irmãos (raro, pois eles são unidos como mosqueteiros), duas irmãs (mais fácil ser uma combinação assim, visto que somos mulheres, certo?) ou entre um irmão e uma irmã. De repente, houve ali algo que foi digo e mal digerido, que fere o sentimento de um ou de outro, então deixam, do dia para a noite, de se falar. Nem explicam o porquê. Ou então dizem umas parvoíces como “eu sou teu mais velho, exijo o teu respeito” e é o único argumento que apresentam à corte. I am sorry, isso para mim é argumento de quem não tem e gosto de compreender “porque me bateram”. Os meus irmãos não me batem, nem que seja apenas pela distancia física, mas há coisas que são ditas que são como chapadas. E doem muito mais do que uma dor física.


Fico a ver essas séries e filmes americanos e vejo sempre aquele momento no qual as pessoas dizem “eu não estaria aqui sem os meus pais, sem os meus irmãos, eles são a razão do meu sucesso”. Well, meia verdade. Eu não estaria aqui, a falar, a escrever, a estudar, a trabalhar se não tivesse o meu pai e a minha mãe. Eles têm os seus defeitos – são pais, therefore… - mas são os meus. E em qualquer discurso ou texto que terei de declamar ou escrever, posso dizer com toda a certeza, eu não estaria aqui, não teria feito nada na vida sem os meus pais.
Agora os meus irmãos? No fundo, eu seria a mesma pessoa sem os meus irmãos. Não há nada que eu tenha comigo, um objecto, uma foto, um sonho comum, nada que tenha com os meus irmãos. Não são dispensáveis. São os meus irmãos e gosto deles, claro. Mas não há nada que tenha feito na vida que não teria feito sem eles. Nunca os vi ali no stand da piscina a apoiar-me, não estavam no teatro quando fiz teatro, nunca foram a exame oral meu, nunca me foram buscar ao hospital (ok, drama, estou a mentir, acho que já me apanharam no hospital, algures quando eu tinha menos de 15 anos).
Não sou mal agradecida. Obrigada irmãos e irmãs por tudo o (não) que fizeram. Os que fizeram, sabem que fizeram. Os que não fizeram, na volta terão a ocasião de fazer no futuro. Ou não. Na volta até sou melhor pessoa por ter sido assim tão... desajudada.
Espero não repetir o padrão e dentro de dez anos, não ter um irmão mais novo a dizer e pensar o mesmo de mim. Gostaria de ser tão menos amarga, mas a gordura no meu corpo não se transforma em açúcar. Obviously.
Acho mesmo triste chegar a este ponto da minha vida e ter leitores de blog que saibam mais da minha vida, que se preocupem mais comigo do que gente que partilha o meu ADN. Mesmo triste. E gostaria que o membro da minha família que decidiu deixar de falar comigo falasse comigo de novo. E que me desejassem, de vez em quando, uma vez por ano, feliz aniversario. Não, não, c'mon, pelos vistos é pedir muito. Porque estou farta de, além de ter de viver sem o apoio de ninguém, ter ainda um deles a não querer falar comigo e pedinchar um amor que, claramente, não têm. Bref.

Eu quero um problema a menos. 
Eu só queria UM problema a menos.



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