“Todos pensamos que estamos no controle de nossas vidas, que somos responsáveis por nosso bem-estar e pelo bem-estar de quem depende de nós. Podemos reconhecer num nÃvel teórico que Deus está no comando do mundo, que Deus faz tudo, mas isso não nos faz parar de planejar e esquematizar e fazer.
Algumas vezes, quando encontramos algo que não podemos controlar – uma criança pode estar morrendo de leucemia apesar de receber o melhor tratamento médico – então nos viramos para Deus e pedimos intervenção divina. Isso não é entrega, é apenas mais ação. É buscar uma fonte extra quando todas as tradicionais falharam. A entrega é diferente. É reconhecer que Deus sustenta o mundo a cada minuto de cada dia, que Ele não é somente um recurso extra, um deus 'ex machina'*, que procuramos quando precisamos. A entrega não é pedir que as coisas sejam diferentes; é a aceitação e a gratidão pelas coisas como são. Não é um estoicismo falso ou forçado, é a experiência de alegria na ação de Deus, qualquer que seja ela.
Cerca de 20 anos atrás eu li um livro cristão chamado “Obrigado, Deusâ€. A tese básica dele era que deverÃamos agradecer a Deus continuamente pela jeito que as coisas estão agora, e não pedir-Lhe que sejam diferentes. Isso significa agradecê-Lo por todas as coisas terrÃveis que estão acontecendo em nossa vida, não apenas agradecê-Lo pelas coisas boas que estão em nosso caminho. E isso não deveria ser apenas no nÃvel verbal. Precisamos nos manter dizendo “Obrigado Deus†para nós mesmos até que realmente sintamos uma aura de gratidão. Quando isso acontecer, há consequências marcantes e inesperadas.
Deixe-me dar um exemplo. Havia uma mulher neste livro cujo marido era um alcóolatra. Ela tinha organizado reuniões de oração na igreja local em que todos rezavam a Deus, pedindo-Lhe que este homem parasse de beber. Nada aconteceu. Então essa mulher ouviu falar sobre o “Obrigado Deusâ€. Ela pensou, “Bem, nada mais funcionou. Vou tentar issoâ€. Ela começou a dizer, “Obrigado Deus por fazer meu marido um alcóolatraâ€, e continuou dizendo isso até que ela realmente começou a sentir gratidão internamente. Pouco tempo depois, o marido dela parou de beber por conta própria e nunca mais tocou no álcool de novo. Isso é entrega. Não é dizer, “Desculpe-me Deus, mas eu sei melhor que Você, então você por favor, poderia fazer isso acontecerâ€... é reconhecer, “O mundo é do jeito que Você quer que seja, e eu agradeço-Lhe por issoâ€. Quando isso acontecer na sua vida, algumas coisas miraculosas começam a acontecer ao seu redor. A força da própria entrega, da sua própria gratidão, realmente muda as coisas ao seu redor.
Quando li isso pela primeira vez, pensei, “Isso é esquisito, mas pode funcionar. Deixe me tentarâ€. Naquela época na minha vida, eu estava tendo problemas com quatro de cada cinco pessoas com que eu tentava fazer alguma coisa. Apesar dos lembretes diários, elas não estão fazendo as coisas que tinha prometido fazer. Sentei e comecei a dizer, “Obrigado por Sr. X não fazer seu trabalho. Obrigado por Sr. Y por tentar me trapacear naquele negócio que fizemosâ€, e assim por diante. Fiz isso por algumas horas até que finalmente comecei a sentir uma sensação forte de gratidão em direção a essas pessoas. Quando a imagem delas apareceu na minha mente, não lembrava de todas as frustrações que tinha vivido ao lidar com elas. Tinha apenas uma imagem delas em minha mente que sentia gratidão e aceitação. Na manhã seguinte. quando fui trabalhar, todas as pessoas estava esperando por mim. Geralmente, eu ia atrás delas e ouvia qual era a mais nova desculpa que tinham. Todas estavam sorrindo, e todas elas tinham feito os trabalhos com os quais eu as estava importunando durante dias para fazerem. Foi um testemunho inacreditável da força da aceitação amorosa.
Como qualquer um, ainda estou preso no mundo do fazer-fazer-fazer, mas quando todos os meus fazeres equivocados produzem uma confusão irascÃvel, tento largar minha crença que “Eu†tenho que fazer algo para resolver esse problema, e começo a agradecer a Deus pela bagunça que fiz por mim mesmo. Alguns minutos disso geralmente é suficiente para resolver o mais espinhoso dos problemas.Quando eu tinha 16 anos, fiz um curso de vôo. A primeira vez que me deram os controles, o planador se balançou todo porque eu estava reagindo, ou eu deveria dizer exagerando minha reação, a cada pequena flutuação da máquina. Por fim, o instrutor pegou os controles de mim e disse “Observe issoâ€. Ele colocou o planador no nÃvel vôo, colocou os controles na posição central e então soltou. O planador voou sozinho, sem qualquer balanço, sem que ninguém estivesse com as mãos nos controles. Todas as minhas ações estavam na verdade interferindo com a habilidade natural do planador de voar sozinho. Assim é a vida para todos nós. Continuamos a pensar que temos que ‘fazer’ coisas, mas todas as nossas ações meramente causam problemas.
Não estou dizendo que aprendi e tirar minhas mãos do controle da vida e que deixo Deus pilotar minha vida para mim, mas lembro de tudo isso, com uma alegria irônica, quando os problemas (auto-infligidos, claro) aparecem do nada. (...).â€~ David Godman, na entrevista “Living the Inspiration of Sri Ramana Maharshiâ€