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Filosofia

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"John Dewey (1859-1952) – o mais significativo filósofo americano do século XX – chamou de instrumentalismo sua própria filosofia. E nessa filosofia é fundamental um conceito de experiência diferente do típico do empirismo.
No empirismo a experiência é simplificada e ordenada, é consciência clara e distinta. Para Dewey, ao contrário, “a experiência não é consciência, mas historia”. Ele escreve isso em Experiência e natureza, de 1925. E acrescenta que a experiência não se reduz sequer ao conhecimento; com efeito, ela inclui também “os sonhos, a loucura, a doença, a morte, a guerra, a confusão, a ambiguidade, a mentira e o horror; inclui os sistemas transcendentais e também os empíricos, a magia e a superstição, da mesma forma que a ciência. Inclui a inclinação que impede de aprender da experiência, como a habilidade que tira partido de seus mais fracos indícios”.
A experiência é, portanto, história: história dirigida ao futuro em um mundo precário, instável e cheio de perigos. Primeiro o homem tentou enfrentar este mundo adverso apelando a forças mágicas e construindo mitos; sucessivamente filósofos como Heráclito, Hegel ou Bergson pensaram ter captado as leis necessárias e universais da mudança, crendo assim exorcizar o medo. A verdade, nota Dewey, é que essas filosofias nã conseguiram seu intento. São apenas “filosofia do medo”, super-simplificadoras e desresponsabilizadoras:
super-simplificadoras, porque voluntariamente ignoram toda uma grande quantidade de fatos e eventos que elas não conseguem explicar;
desresponsabilizadoras, porque apresentam como progresso indiscutível aquilo que pode ao contrário se apenas o resultado do emprenho humano lúcido e tenaz.
São necessários instrumentos bem diferentes para enfrentar um mundo e uma existência tão difíceis e precários. Aqui entra em jogo o instrumentalismo de John Dewey: dentro de uma concepção evolutiva, ele considera o pensamento, isto é, o processo de pesquisa que produz conhecimento, como um instrumento ou uma forma de adaptação ao ambiente, instrumento para a solução dos problemas que o ambiente – entendido no sentido mais amplo – nos impõe enfrentar.
A função do pensamento reflexivo – escreve Dewey em Lógica: teoria da pesquisa (1938) – é “a de transformar uma situação na qual se tenha experiências caracterizadas por obscuridade, dúvida, conflito, perturbações, em suma, em uma situação que seja clara, coerente, ordenada, harmoniosa”. As dúvidas se desfazem e voltam a luz se nossas hipóteses, adiantadas como tentativas de solução de “situações perturbadas”, encontram confirmação nos fatos, na prática, nos experimentos. A inteligência é constitutivamente operativa; é uma força ativa apta a transformar o mundo. E o conhecimento científico é a busca do conhecimento engastado no senso comum. A verdade de uma idéia se identifica com “o comprovado poder de guia” de tal idéia. Mesmo que seja necessário notar que, no decorrer da evolução humana, o conhecimento se afasta sempre mais das necessidades imediatas. Não ganhamos muito, com efeito, se mantivermos o próprio pensamento preso ao tronco do uso com uma corrente demasiadamente curta.
Assim como as idéias e teorias científicas, também as idéias éticas e as propostas políticas deverão mostrar seu valor sobre suas consequências práticas; e serão aceitas, rejeitadas ou corrigidas exatamente com base nessas consequências. E a proposta política que Dewey torna própria e que defendeu com rigor por toda a vida é a da sociedade democrática. Longe de impor um fim único da vida, a democracia permite e estimula a discussão sobre todo fim; a democracia é debate sem fim; é colaboração; é participação “na formação dos valores que regulam a vida dos homens associados”. O oposto da democracia é a sociedade totalitária, caracterizada pela planificação centralizada, manobrada a partida de cima.
E eis como Dewey traça a diferença entre uma sociedade planificada e uma sociedade democrática, ou seja, uma sociedade que se planifica constantemente: “A primeira requer objetivos finais impostos a partir de  cima e que, portanto, se entregam à força, física e psicológica, para obter que as pessoas a eles se conformem. A segunda significa libertar a inteligência por meio da forma mais vasta de intercâmbio cooperativo”.
Finalmente, não devemos esquecer os contributos de Dewey ao problema pedagógico. Poucos filósofos dedicaram tanta atenção a isso. Basta aqui mencionar trabalhos como: Escola e sociedade (1899); Democracia e educação (1916); Experiência e educação (1938(; Problemas de todos (1946). O ideal educativo de Dewey tende a “libertar e liberalizar a ação”, em contínua atenção para com a natureza ativa da aprendizagem e para com a finalidade social de toda educação."

NOMENOMEREALE, Giovanni. História da filosofia: De Nietzsche à Escola de Frankfurt, v.6. Dario Antiseri. - São Paulo: Paulus. 2005.


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