É o homem que cria o seu meio cultural, por meio do somatório de suas experiências. Para o antropólogo cultural, “cultura†é o que se pode denominar a parte do meio ambiente feita pelo homem, ou apreendida por ele. Potes e panelas, leis e instituições, arte, religião, filosofia, mitologia, linguagem etc. Tudo o que um determinado grupo de pessoas aprendeu a fazer, incluindo seu próprio modo de vida, tudo deve ser considerado cultura.
Neste sentido, expressões como cultura erudita e cultura popular se fundem como manifestações genuÃnas do ser humano, como expressão de seus sentimentos, desejos, necessidades etc, sendo incorreto estabelecer uma hierarquia entre ambas.
A expressão "cultura popular" surgiu no século XIX, na Europa, como questionamento ao modelo holÃstico de cultura, baseado na noção de uma cultura única e geral para toda a sociedade. As novas abordagens marcaram, entre outras, a concepção de "cultura popular" como o conjunto das tradições do povo, expresso em suas lendas, crenças, canções e costumes, mas isolada, restrita ao campo e aos camponeses analfabetos; ou como uma reprodução “imperfeita†e “deteriorada†da cultura erudita. Na análise dessas culturas, convencionou-se denominar "culturas eruditas", também conhecidas como dominantes ou superiores, aquelas ligadas à s elites; e culturas populares, inferiores ou subalternas, aquelas produzidas pelo “povoâ€.
Ao longo do século XX, outras considerações sobre cultura popular foram apresentadas, principalmente depois dos anos cinquenta, em um contexto de forte crÃtica ao colonialismo e à dominação de classe. Estudos de áreas como Antropologia, Sociologia, História e Arqueologia passaram a questionar o conceito tradicional de cultura e suas derivações “cultura inferior ou primitiva†e “cultura superiorâ€. Dessa perspectiva, a produção cultural de uma sociedade passa a ser fruto da ação e manifestação de todos os seus indivÃduos, independentemente do lugar social ocupado por cada um, o que não significa dizer que produzam a mesma coisa ou que algumas sejam mais valiosas e preponderantes que outras. Assim, a designação de cultura como mera 'coleção de elementos e tradições valorosas e imutáveis, sejam elas das elites ou dos populares', não tem mais como ser sustentada. Isto porque estas práticas culturais redefinem-se diariamente na dinâmica do cotidiano, nas experiências de integração, conflitos e contradições ocorridas entre elas na organização social e em seus contatos com culturas externas.
CrÃticas são apresentadas à s três ideias vinculadas, comumente, ao conceito de cultura, quais sejam:
- de que, em uma sociedade existe uma única cultura;
- que cultura é o que é produzido pelos grupos dominantes;
- que a cultura seja um conjunto de tradições consolidadas e hermeticamente transmitidas.
sobre o papel do antropólogo cultural
O antropólogo cultural quer saber como foi que as pessoas chegaram a fazer o que fazem de tantas maneiras diferentes, quer entender as relações entre uma cultura e outra. Esse cientista busca, assim, descobrir os elementos comuns presentes em todas as culturas, possÃveis de serem sintetizados e conceituados. Onde há diferenças, procura encontrar suas possÃveis causas, trabalho esse extremamente complexo e problemático.
Podemos afirmar, deste modo, que o trabalho do antropólogo e da Antropologia, nesse aspecto, é o de compreender profundamente as manifestações humanas nos mais diferentes espaços geográficos, percebendo as múltiplas dimensões de uma cultura: sua profundidade, abrangência e alcance.
Há, atualmente, uma florescente escola de antropólogos interessada em investigar a relação das culturas em que os seres humanos são socializados, isto é, educados, com o tipo de personalidade que apresentam. Outros antropólogos culturais se interessam, como especialistas, pelo estudo de certos aspectos das culturas de diferentes povos, como as instituições legais, as organizações sociais, a religião, a mitologia, a lÃngua, bem como sua cultura material, como a arte, a cerâmica, a cestaria, os instrumentos etc. Outros se consagram ao estudo de tribos inteiras, e passam muitos meses, ou até anos, tentando compreender o maior número possÃvel de aspectos daquela cultura especÃfica.
Tradicionalmente, o antropólogo cultural tem estudado os impropriamente chamados “povos primitivos†da Terra. Em realidade não existem “povos primitivosâ€. Tais povos são tecnologicamente menos desenvolvidos que outros, mas seus sistemas de parentesco, sua lÃngua, dentre outros aspectos de sua cultura, podem ser consideravelmente mais desenvolvidos do que os dos povos civilizados, ou pelo menos, tão desenvolvidos quanto os destes últimos. Por essas razões, a maioria dos antropólogos hoje prefere chamar aos povos tecnologicamente menos desenvolvidos de “povos pré-letrados†(povos sem escrita, ou ágrafos).
Mais recentemente, alguns antropólogos têm voltado a atenção para os povos tecnologicamente mais desenvolvidos. Temos, agora, uma diversidade de estudos antropológicos, não só dos aborÃgines australianos ou dos pigmeus do Congo, mas também dos japoneses, chineses, alemães, norte-americanos, ingleses, noruegueses e muitos outros.