Filosofia
o que é 'meditação'... e o que não é meditação
“Meditação não é o que você tá pensandoâ€
Neuroscientista instrui quem tentou meditar e “não conseguiuâ€
Publicado em setembro de 2013 por Nando Pereira
É um trocadilho óbvio mas que ainda não tinha visto: “meditação: não é o que você pensa“.
Num artigo com esse tÃtulo (em inglês, Meditation: It’s Not What You Think), a neuroscientista residente do Mind and Life Institute, Wendy Hasenkamp, se confessa triste e frustrada cada vez que uma pessoa vira pra ela e diz: “Ah, meditação, tentei uma vez. Não consegui“.
Ela explica que sente “tristeza porque as pessoas experimentaram a meditação por um viés negativo e a associaram com o fracasso, e frustração porque essa associação surge de um equÃvoco cultural que vem se espalhandoâ€. Pesquisadora de uma organização sem fins lucrativos que tem o XIV Dalai Lama como um dos principais colaboradores, Wendy argumenta que as próprias pesquisas mostram que o cérebro não está “engessado depois dos 20 anos†e que aprender meditação se faz como se aprende qualquer coisa, de matemática a levantar peso.
“Se você fizer uma busca rápida por imagens sobre meditação na Internet, você encontrará aquela cena popular: pessoas sentadas com as pernas cruzadas, olhos fechados, aparentemente serenas e livre de pensamentos, algumas até com feixes de luz saindo de suas cabeças. Você só precisa falar com alguém que medita regularmente para saber que essa imagem está longe de ser a realidade da meditação. Especialmente para iniciantesâ€. (Wendy Hasenkamp)
Essa distinção do inÃcio da prática é importante, pois a não ser que você tenha nascido com a vocação para monge e queira mergulhar na prática logo de cara, um inÃcio mais versátil e menos rigoroso pode ser vital para começar a meditar.
Segundo Maharishi Mahesh Yogi, você pode meditar sentado, no chão, numa cadeira (sem cruzar pernas), pode meditar no avião, de dia, de noite, etc. E embora a meta sejam 20 minutos em duas sessões diárias, há um respeito pelo seu ritmo e sua entrada na prática. Se eu tivesse começado com algum método que exigisse mais tempo ou determinada postura, como padmasana (postura do lótus, com os dois pés sobre as coxas), certamente sentiria frustração (me confundiria com ela) e possivelmente desistiria.
No artigo, Wendy diz que uma das práticas mais comuns ensinadas para iniciantes hoje no Ocidente é a “mindfulness“, que você pode fazer em 10 minutos diários e consiste basicamente em prestar atenção à respiração. Mesmo assim, não traz a serenidade da noite pro dia.
“Por fora, o corpo pode parecer calmo (e mesmo isso pode levar um tempo para ser conquistado), mas por dentro a mente está geralmente confusa numa selva de pensamentos e emoções. Isso é normal. Na verdade, embora a meditação signifique um monte de coisas para várias pessoas, da minha perspectiva, não é sobre conquistar um estado abençoado e “vazio†da mente. A cessação dos pensamentos é possÃvel (ou pelo menos é o que ouço), mas vejo isso mais como um efeito colateral, se e quando ocorrer. Para mim, a meditação é um processo – um processo de investigar a própria mente e mudar o jeito que você se relaciona com seus pensamentosâ€. (Wendy Hasenkamp)
Apesar de não ser assertiva em relação ao silêncio da mente, é um relato a ser considerado, pois Wendy faz parte de uma instituição que pesquisa a meditação a sério e por diversos ângulos, e é uma das principais diretoras de pesquisa. Em outro trecho, ela define um dos problemas que trazem a confusão para a meditação:
“O que é facilmente confundido é que as instruções para a meditação não são na verdade o objetivo da meditação.†(Wendy Hasenkamp)
Talvez seja possÃvel traçar um paralelo: é como você dizer a alguém que não consegue dançar para prestar atenção na música, para deixar a música ser ouvida plenamente e penetrar no corpo, mas, ainda que a instrução seja valiosa e eficaz, e que a pessoa no fim das contas dance, ela ainda não é a dança. É apenas uma instrução para que a dança aconteça.
“Em outras palavras, enquanto perseguimos a manutenção do foco na respiração, o objetivo é na verdade aprender sobre nossas mentes. Fazemos isso ao configurar as condições para que os pensamentos surjam, e então os observamos sem julgamentos. Assim que compreendemos que os pensamentos irão aparecer, e que são até necessários para o processo ter significado, podemos relaxar e permitir que isso aconteça. Com a prática, começamos a perceber que os pensamentos e as emoções que aparecem naturalmente também se vão naturalmente. Percebemos que nem sempre precisamos fazer alguma coisa, e que eles não são tão “reais†quanto parecemâ€. (Wendy Hasenkamp)
As pesquisas mostram diversos benefÃcios praticamente inequÃvocos da meditação, e Wendy cita alguns como a melhoria da atenção e do desempenho em testes, a redução do estresse e o aumento da imunidade, além do desenvolvimento da estrutura e da performance fisiológica do cérebro (ela cita “densidade da massa cinzenta, aumento da espessura cortical e integridade das conexõesâ€). Mas a busca desses Ãndices pode levar a prática a um caminho menor e meramente funcional, algo como o que o Yoga já sofreu e que pode acabar não desenvolvendo a meditação como prática de auto-conhecimento, de integração e de despertar.
“Apesar das pessoas parecerem pensar que a habilidade de meditar é parte do DNA de alguém – ou você faz ou não consegue – as capacidades cognitivas para a meditação podem ser treinadas. (…) O processo leva tempo e uma boa dose de dedicação e esforço, mas com a prática, você pode desenvolver uma nova maneira de se relacionar com seus pensamentos e emoções. (…) Mas não tome minha palavra como certa. O próprio Buda instruiu seus estudantes a não aceitar nada simplesmente porque uma autoridade disse; ao invés disso, teste e veja se concorda a partir da sua própria experiência. Aposto que se você fizer uma tentativa séria para meditar, você verá – e sentirá – os benefÃcios por si mesmoâ€. (Wendy Hasenkamp)
http://dharmalog.com/2013/09/19/meditacao-nao-voce-ta-pensando-neuroscientista-escreve-meditar-nao-conseguiu/
loading...
-
Meditação, Mente, Silêncio E Consciência
Quando a mente está sem pensamentos, isso é meditação. A mente fica sem pensamentos em dois estados — ou no sono profundo ou na meditação. Se você está consciente e os pensamentos desaparecem, isso é meditação....
-
Quando Meditar?
“Quando sua mente está mais desequilibrada é que você mais precisa meditar†(Alan Wallace) Publicado em fevereiro de 2014 por Nando Pereira Abaixo segue um conjunto sucinto de instruções para a prática da meditação...
-
A Vida Só Pode Ser Conhecida Por Um Estado De Não-mente
A vida é sempre nova, a mente é sempre velha. A vida nunca é velha, a mente nunca é nova. Por isso, as duas nunca se encontram, não podem se encontrar. A mente se move para trás, a vida se move para frente. Assim, aqueles que tentam...
-
A Mente Ambiciosa Não Consegue Meditar
Uma mulher recebeu um bilhete da escola. “Seu filho é muito inteligenteâ€, estava escrito no bilhete do proÂfessor que acompanhava o boletim, “mas ele passa muito tempo brinÂcando com as meninas. Estou pensando em um meio de...
-
A Lama Não Pode Flutuar Para Sempre
"A lama não pode flutuar para sempre" ou "A arte de fazer o pensamento parar" A meditação é um estado de clareza e não um estado da mente. A mente é confusa, nunca está clara. Não pode estar. Os pensamentos criam nuvens a seu...
Filosofia