Ode to Paris. Ode to Saint-Germain-des-Près. Ode to Café de Flore. Ode to Lauren Bacall.
Filosofia

Ode to Paris. Ode to Saint-Germain-des-Près. Ode to Café de Flore. Ode to Lauren Bacall.


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Querida Sofia,
Há duas semanas atrás, quando entrevistei a minha irmã com o primeiro Paree, je t'aime, moi non plus, ela disse-me que um dos seus restaurantes inesqueciveis é o Café de Flore, ao qual fomos após um passeio certo dia em 2007.
Lembro-me perfeitamente daquela tarde. Saímos para um passeio de barco, e paramos em Saint-Germain. Andamos a pé nas ruas e boulevards do bairro dos artistas, escritores boémios e existencialistas como Jean-Paul Sartre ou Ernest Hemingway. Um famoso prémio literário - Prix de Flore - é associado a um dos cafés mais conhecidos do bairro, o tal de Café de Flore.
Decidimos lá lanchar. Fica aqui a pequena nota que lanchar em tal sítio, não é para os bolsos mais poupadinhos e para frequentar todos os dias. Se eu tivesse de dar dicas para não se gastar dinheiro em Paris, este café não estaria na lista. De todo.
Mas vale a pena para os que querem sentir o vibe da cidade, as conversas entre os escritores e os seus agentes, as meninas Germanopratines (pessoas que vivem em Saint-Germain-des-Près) a almoçarem saladas sem tempero, ligando para os seus namorados parisienses e lindos (;-)).
Bref...
Entramos no café e sentámo-nos. Lembro-me que me instalei contra a bancada (adoro bancadas) e a minha irmã sentou-se à minha frente, numa cadeira perto da vitrine de doces. Ela, chocólatra de gema, pediu um chocolate quente e profiteroles em banho de chocolate (acredito que até hoje nunca tenha visto tanto chocolate para uma pessoa na minha vida).
Eu, seguindo o conselho do garçon, pedi um millefeuille e um café viennois (café com chantilly) ou um cappuccino (a memória falha-me). Pena que nessa época, eu ainda não tinha a tara de tirar fotos à comida (nos restaurantes) como tenho hoje.
Tenho (muiiiita) pena, Sofia, mas acho que isso quer dizer que terei de lá voltar um dia e repetir a dose. Palavra puxa palavra com a minha irmã, chega uma senhora loira e idosa. Ela senta-se ao meu lado na bancada, instalada à mesa do lado, sozinha. Estava com um cão (igualmente loiro) ao colo, a quem dava muitos beijinhos. O garçon cumprimentou-a e perguntou-lhe como ia a vidinha e se queria pedir "comme d'habitude".
Dei-me logo conta que era uma habituée, mas não insisti em olhar muito para ela. Vi de seguida vários garçons à volta dela, cumprimentando-a. Não só era conhecida como parecia ser de grande interesse para todos. Indo contra os meus primeiros instintos, voltei a olhar para ela. Aquelas mãos enrugadas, AQUELA voz rouca, aquele cabelo loiro, aquele sotaque americano ao falar francês... comecei a dar uns palpites à minha irmã em Português. "Jo Ann... é a Lauren... Lauren Bacall"... depois de alguns minutos com a pele a picar-me na bancada de couro, pedi à minha irmã uma folha e uma caneta. Virei-me para a famosa atriz.
*
"Excuse-me..."
Ela, a Lauren, virou-se para mim, sempre com o cão nos braços.
"Excuse-me, are you American?"
Olhou-me de lado.
"Yes I am".
Elite respirando.
"Are you a famous actress?"
Ela sorriu de lado.
"I guess I am?!"
"Are you Lauren Bacall?"
Lauren e cãozinho de olhos em mim.
"I guess I am."
"I am sorry, but could I have an autograph?"
"Yes, of course! and let me introduce you to Sofia".
Sofia. A cadela. Tinha de se chamar Sofia, certo...
*
E ai, senti um sofrimento inexplicável. Dei-lhe a caneta e o papel e a mão dela tremia imenso. Demorou perto de um minuto para assinar o nome, coisa que qualquer outra pessoa faria em cinco segundos. A verdade, que estava escondida das cameras onde ela aparecia ainda, é que ela estava doente. Estava envelhecida, não tinha maquilhagem, era a mulher mais normal do mundo, sozinha, longe das luzes de Hollywood.
Ela finalmente acabou de assinar o meu papelito, agradeci-a (e à Sofia).
Lembro-me bem do que senti nesse dia. Lembro-me da felicidade de ter visto uma grande atriz Americana num grande café Parisiense. Liguei logo para a minha mãe. Foi como se o tal de propósito de viver na cidade Luz tinha-se cumprido.
A única desilução foi no dia seguinte, ao contar o sucedido aos meus colegas de trabalho, que tinham entre 25 e 32 anos, NINGUEM sabia quem era a Lauren Bacall.
Yes, I repeat. French people don't know who Lauren Bacall is.
Palavra de honra que fico meio chocada com essas coisas.
Bref...
Dark Passage...? To have and have not...? The Mirror has two faces...? não? nada?... Mulher do Humphrey Bogart até a sua morte... não? nada? Humphrey quem? well, eu desisti.
Quando era pequena, a minha mãe dizia-me o quanto gostava dessa atriz e que era das poucas que sempre teve perto de receber um Oscar e... nunca ganhava. A verdade mudou há poucos meses atrás, quando recebeu um celebrando toda a sua carreira. Já merecia. E fiquei mesmo contente por ela. E lembrei-me de novo daquela tarde passada no Café de Flore em Saint-Germain.
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Famosa cena com o futuro marido Humphrey em To Have and Have Not

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Café de Flore

172 boulevard Saint-Germain 75006

Metro linha 4 : paragem Saint-Germain-des-Près




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