Solteiras vs Comprometidas
Filosofia

Solteiras vs Comprometidas


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Le Molière

Querida Sofia,
As mulheres solteiras devem ter imensa coragem para continuar a frequentar as suas amigas comprometidas. A sério. Estando do outro lado da cerca há quase meio ano, dou-me conta que vivemos em mundos diferentes e completamente paralelos, no qual um, se levado ao extremo, pode matar o outro. Fácil perceber isso sobretudo numa cidade com 10 milhões de habitantes, na qual as pessoas saem muito, mas no fundo, não fazem todos exactamente a mesma coisa.
O que querem as mulheres solteiras? Por mais fortes, independentes e bem sucedidas que sejam, nunca dizem "não" a uma socializaçãozinha básica. Básica no sentido de sair no intuito de conhecer alguém. Não precisa ser O príncipe encantado, nem O futuro pretendente. Mas conhecer mais gente. Saber o que andam a fazer as pessoas deste país, o que querem, em que trabalham, o que bebem, onde passam os finais de semana. Querem mais números de telefone no telemóvel – que seja para ligar realmente ou não – mas querem, nem que seja apenas UM detalhe nas suas vidas que tenha mudado. E avançado. Para sentirem-se mais vivas. Não é por nada que aconselham as pessoas a sair de casa pelo menos uma vez por dia. Que seja para apanhar alguns raios de Sol ou passear ao som da Lua (Elite, a lua não tem som…)…

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Jantares românticos sobre o Sena, dentro de um barco

O que querem as mulheres comprometidas? Já têm o que querem “em casa”. Não precisam de novos números no telemóvel. Não precisam de admirar as fotos de meninos no Facebook, como se estivessem a folhear um catálogo de homens com quem possam imaginar futuros rebentos.
Admiro as mulheres comprometidas que preservam a sua liberdade (ou independência, não sei qual é a melhor terminologia para essa noção nesta década) e apesar de estarem comprometidas, adoram conhecer novas pessoas. Não perdem o interesse pelas pessoas. Não torcem o nariz à socialização e não se contentam apenas de noites a ver um DVD em casa com a cara-metade.
Questiono os valores afectivos das mulheres comprometidas que fazem TUDO com os seus companheiros. Que apenas se lembram das amigas quando o marido foi à bola ou quando este não pode voltar a casa porque ficou preso numa outra cidade por causa de uma nuvem de cinzas pindérica que atrapalhou os planos de um continente inteiro. E quando somos finalmente convidadas, é apenas para um chá com uma fatia de tarte (miam!!) ou uma ida ao cinema. Nada de misturar-nos à plebe e conhecermos pessoas novas. O que é isso?! ninguém precisa conhecer mais gente.
Fico sem saber o que dizer quanto às mulheres solteiras que adorariam encontrar alguém mas… não fazem nada por isso. Não saem de casa a não ser para ir ao supermercado comprar o balde de gelado que pode servir de companhia durante a maratona de séries como Grey’s Anatomy (cof cof). Não aceitam convites para jantares, não vão a festas, nem bares, nem discotecas, nem exposições nem mariquice alguma que pudesse socializá-la e conectá-la ao resto do mundo. Acho que nesse caso, se quiserem MESMO encontrar alguém, apenas um site de encontros online para salvar o pessoal. Ou então o homem do gás é mesmo giro, vai bater-lhes a porta um dia e enchê-las de filhos.

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Pont des Arts, ponto de encontro dos boémios

Sem querer cair no outro extremo, também não compreendo as mulheres que vão à discoteca e bares e se atiram aos homens como esfomeadas. Há maneiras e maneiras de fazerem as coisas. Nem 8 nem 80. Mulheres atiradiças não têm sempre a atitude mais sexy do mundo. Não sei o que achas, Sofia, mas acho que recato nunca matou ninguém, ou bien?
Quero com isto dizer que nem sempre a culpa recai nas comprometidas se as solteiras continuam solteiras. Muitas vezes as comprometidas são atoladas por pedidos como "o teu marido/namorado/whatever não tem um colega giro? ou um primo bem parecido? olha que eu não sou complicada" e depois as comprometidas apresentam-nos o moço e fugimos em quatro tempos porque ele não é o Bradley Cooper.
No entanto, para fugir às conversas eternas onde apenas ouvimos falar sobre os namorados dos outros, os casamentos dos outros, os filhos dos outros, os planos de viagens dos outros, os “problemas” dos outros e não morrermos de exaustão, temos de fazer pela vida. Sair, sair, sair e ter menos medo. Pode até ser uma saída na qual não se gaste dinheiro. Apanhar o autocarro para um parque e passar a tarde a ler um livro ou a escrever enquanto ouvimos música. Ser fortes perante todos os casais que passarem de mãos dadas e sonharmos sermos aquele casal tão feliz. Um dia. E ao mesmo tempo, aproveitar que estamos sozinhas. A fazer coisas que muita gente não sabe mais o que é. Ser sozinha. E não morrer por causa disso. Sim, temos inveja das que estão comprometidas e felizes. Mas o contrário também pode acontecer. Se criticamos na base de uma certa inveja (não é sempre o que há por trás de uma crítica ultimamente?), o mesmo acontece da parte das mulheres comprometidas.

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Eva Herzigova for 1-2-3 accessories

Mas gastaste mesmo dinheiro a comprar vestidos e sapatos? Que estupidez, que futilidade, que idiotice, há mesmo quem não saiba gastar dinheiro, deves mesmo ter a mania que és rica”. Ou então, o melhor: “O quê? Gastar 15 euros para ir tomar um copo e dançar a noite toda? Como uma perdida sem casa? Bem, és doida?”. Um vestido pode levantar-nos o ego (sobretudo se o número mais pequeno serviu, né?). Uma saída com amigas para uma discoteca no qual dançamos a noite inteira pode ajudar a evacuar o stress e esquecer, pelo menos durante quatro míseras horas, os problemas da vida. Mais vale sentir a dor dos pés que dançaram no salto que sentir apenas o sabor amargo do apartamento enorme e vazio que nos consome. Mas voltemos ao assunto: sim, somos umas belas idiotas por gastar dinheiro e tempo nestas coisas.
E claro, devemos aceitar e concordar com todas as vezes em que as acompanhamos para encontrarem “o presente diferente” para os seus amores, comprarem um maço de cuecas masculinas na H&M “porque as do meu homem estão rotas” – coisas que gostamos de saber - ou passarem horas a falar com eles no Skype à nossa frente, quase a adormecer e babar porque o amor está do outro lado da linha.
De facto, não temos as mesmas vidas. Isto tudo para dizer que quando a minha amiga americana B. convidou-me a sairmos o mês passado, disse que ter um novo namorado nunca a impediu de dar um pé de dança. Acho que ela não viu mas beijei-lhe os pés. E dancei a noite toda. Até os pés doerem. Que mais vale essa dor que qualquer outra.

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Au Chien Qui Fume




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