La Provence source: http://pinterest.com/pin/528091/
Querida Sofia,
Os Franceses, calcados nas férias escolares dos seus filhos, têm férias no Natal (duas semanas), na Páscoa (duas semanas) e durante o verão (dois meses de Julho a Agosto). E falo apenas das férias principais, pode haver outras aqui e ali durante o ano (férias de inverno, férias de carnaval, férias da morte da ovelha, férias de la Toussaint)... é preciso saber que em regra geral, o Francês não é religioso, mas tudo quanto é celebração religiosa é celebrada com o não trabalho. Classic.
Então, que faz o francês durante as férias? Vou falar em particular dos Parisienses, pois têm um comportamento bastante típico: passar férias em Paris? Jamais! É démodé, brega, coisa de pobre, blablabla, mimimi. Então para onde vão eles? Quando não vão para o estrangeiro, para um Club Med (resort) qualquer onde não precisam frequentar os autóctones, fazem um “vá para fora cá dentro”. Tudo o que é fora de Paris é “la Province” e todo o mundo tem família em alguma parte da Province!
Para começar, Parisiense que é Parisiense tem uma casa secundária não muito longe de Paris (Orléans, Normandie, Champagne...) e, os mais abastados, têm outra no sul, onde o sol bate forte o tambor (Cap Ferrat, Antibes...). Os finais de semana ou férias curtas são dedicados a ir às suas casas secundárias. As férias mais compridas dividem-se entre as casas secundárias e a ida a um outro destino, de preferência onde encontrem alcóol da terra (un petit pastis) e sol (porque nada mais chique do que voltar ao trabalho com a pele torrada, é a lei da casa!).
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Pequeno focus sobre a parte sudeste do país, que não é apenas a “Province”, mas que chamamos de PACA pois inclui a Provence, os Alpes e a Côte d’Azur a Este e o Languedoc-Roussillon a Oeste. Ambas regiões estão viradas para o Mar Mediterrânico (there, I said it!), e são ensolaradas e ventosas (quando perto da costa) o ano inteiro.
Esta é uma das zonas mais frequentadas do país durante o verão pois combina calor, montanhas e muitos lugares histórico-culturais, com cidades como Marseille, Nice, Toulon, Aix-en-Provence, Avignon, Antibes, Cannes, Arles, Cagnes-Sur-Mer, Grasse, Fréjus, Gap e troca o passo a Este e Montpellier, Perpignan, Carcassonne, Narbonne e Nîmes. São cidades que valem a pena conhecer (não apenas no verão, já agora). É possível fazer praia, desportos náuticos, golfe, provar vinhos (desporto nacional), visitar castelos e museus, jogar à pétanque ("desporto" nacional do sul, jogo pelo menos uma vez por ano!) e ir para as montanhas, longe das multidões nas praias ou das estações de ski de Fevereiro.
A Sílvia vai fazer, com amigos, algo que acho delicioso: sair de Barcelona de carro e percorrer essa zona sul toda. Então aqui vão os meus conselhos de insider (da minha pouca experiência visto que morei 5/6 anos no Sul):
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1) A 120 kms de Barcelona, ainda em Espanha, tens a cidade de Figueres, onde podes encontrar o Teatro-Museu Dali.
2) A 30 kms de Figueres, antes de chegar a Perpignan e já do lado francês, uma paragem em Argelès-sur-Mer e os seus 7 kms de praia é quase obrigatória. Perto, e por descobrir, há praias e regiões lindas por visitar, como Saint Cyprien.
3) Perpignan... já lá estive um par de vezes e não mudou a minha vida. Mas vale sempre a pena visitar, apesar da cidade esvaziar aos finais de semana (todo o mundo vai para Espanha). O que vale a pena saber é que Perpignan faz parte da Catalunha Norte, um região com uma forte identidade cultural e linguística; é bastante provável deparar com indicações em dois idiomas (Francês e Catalão).
4) A 58 kms a norte, encontrarás Narbonne, uma cidade medieval que vale a pena conhecer, atravessada pelo Canal de la Bobine, que é património mundial, UNESCO style. Há uma grande catedral, um palácio... e a 15 kms a sul, a sua famosa praia. Um 2 em 1 (cultura + praia) que é preciso ter em conta.
5) Béziers: não conheço muito bem. Sei que tem uma catedral e muitas (muitas) igrejas, e fica pelo caminho. Sempre pode ser o tempo de um merecido break depois de horas na estrada.
6) Agde, chamada de Pérola Negra do Mediterrânico por causa da pedra volcanica (basalto) do Mont Saint-Loup. Tem a estação balnear muito conhecida, o Cap d'Agde, com a sua marina, os seus campos de ténis e golfe e praias naturistas (algumas).
7) Sète: uma das maiores areas portuárias antes de chegar a Montpellier.
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8) Montpellier: uau, o descalabro, acho que nunca disse grande coisa sobre Montpellier apesar de ter sido a minha primeira cidade neste país. Merece um post à parte.
9) La Grande-Motte/Palavas-les-Flots: são as maiores praias de Montpellier, super frequentadas durante o verão, mas sempre mais em conta que as praias da Côte d'Azur. Além disso, têm os seus famosos casinos.
10) Aigues-Mortes/Le Grau-du-Roi: praias que valem a pena conhecer, mais calmas que as duas anteriores.
11) Nîmes: a Roma Francesa, com as suas arenas romanas, as suas sete colinas, a sua feria anual que leva todo o mundo da cidade e das cidades vizinhas à loucura, a sua tourada... 'tás a ver o género. Um marco cultural, depois de tanta praia.
12) Avignon (a cidade papal, antes do Vaticano ser o Vaticano), Orange, Arles, Salon-de-Provence: a visitar se se tiver tempo, são cidades ricas em história de uma importância inimaginável no saber popular deste país ("Sur le pont... d'Avignon... on y danse, on y danse..."), mas é um pouco mais a norte, fora de circuito...
13) Aix-en-Provence: antiga capital da Provence, conhecida como sendo a Coimbra aqui do burgo, com imensas estructuras escolares e universitárias, e por exemplo, um dos melhores mestrados de comunicação de França. Não conheço muito bem, infelizmente, apenas passei de raspão há alguns anos.
14) Marseille: ahhh Marselha... a terceira maior cidade de França depois de Paris e Lyon... que parece já ser outro país. Marseille é bon vivant, o ritmo é mais pausado, jogar à pétanque é obrigatório, o sotaque tão do sul é mais forte, os Parisienses não são bemvindos (rivalidade histórica). Infelizmente, nunca estive em Marselha. Mas uma das minhas amigas mais chegadas é de lá e tanto me deu e ensinou a nível cultural, que sei que as pessoas de lá são generosas e gostam de comer bem, à base de legumes mediterrânicos, peixe (Bouillabaisse), o pesto da região (Pistou), a pasta de azeitas pisadas (tapenade) no pão fresco, o aioli... ai que já salivo. Paragem obrigatória para comer. Mas não para ficar. Ah, tal como Nice, tem um aeroporto internacional com vôos de e para Portugal. Pode sempre ser bom saber!
15) La Ciotat: no entanto, a 31 kms a sul de Marselha, dizem que La Ciotat é A visitar, com o seu porto, seu casino... é bastante turístico.
16) Toulon/Hyères: Toulon sempre foi uma cidade de passagem por ser entre as duas maiores da região, Marseille e Nice. No entanto, tem-se desenvolvido e também tem praias boas e calminhas (Sablettes, Mourillon, Saint-Mandrier...). Hyères, é uma cidade de praia. Uma das minhas colegas de trabalho, que é de la, diz que não há grande coisa por fazer além de lagartixar!
Saint Tropez source: http://pinterest.com/pin/48281176/
17) Saint-Tropez/Saint-Maxime/Saint-Raphaël/Fréjus: St Trop' para os íntimos, a praia tem mais fama que... okay, tem fama, festa, moda, jet set, praias privadas e fãs inveterados da Brigitte Bardot, que popularizou a cidade aos 16 anos. Passei por lá um segundo há alguns anos. Não sei se há muito que fazer quando não se é nem da região nem do gotha (jet set) francês. Saint-Maxime é praia e golfe. Saint-Raphaël, das três cidades, parece ser a que mais vale a pena por razões históricas. Foi sempre um carrefour de passagem para gregos, romanos que lá deixaram vestígios, e monumentos que datam da Idade Média e da Renaissance. E tem praia também. Parece-me ser uma das cidades ideais onde dormir pelo menos uma noite. Idem idem aspas aspas para o Fréjus.
18) Cannes - Antibes: além da escadaria - que não tem tapete vermelho fora de época - num palacio dos congressos ridículo, Cannes é uma cidade overrated que só tem praia. E lojas caras. Nada de muito interessante. No entanto, há uma cidade a norte de Cannes - Le Cannet - que dizem que vale muito a pena visitar, pelo seu lado pacato e menos turístico. Antibes é outra cidade dois em um: praia e um lado cultural omnipresente, com a sua cidade antiga, as suas ruas estreitas e ensolaradas. Merece também um dia e quem saibe, une nuitée!
Capo Rosso, Corse source: http://pinterest.com/pin/59972918/
19) Nice/Cagnes-sur-mer/Saint-Laurent-du-Var: Nice, a 160 kms de Marseille, também é uma cidade a não perder, mesclando o antigo e o mais moderno, perto da praia na Baie des Anges (Baia dos Anjos), passear na Promenade des Anglais, frente ao Hotel Negresco, ir ao Cinema Rialto (que alberga o festival de cinema lusófono, btw). A cidade também é conhecida pelo seu Carnaval, mas isso é em Fevereiro. Um pouco antes de chegarmos a Nice, a norte de Antibes, temos Cagnes-sur-Mer, que é uma cidade medieval, com um castelo e colinas, a conhecer para visitar o Castelo (Museu) Grimaldi + a casa (museu) do pintor Pierre-Auguste Renoir. Saint-Laurent-du-Var vale a pena, para quem como eu, é obcecada pela (história da) Segunda Guerra Mundial pois foi um marco da Résistance Française.
20) Monaco: bom, isso ja é outro país, outro post!
21) Corse! a região mais conflictuosa (tanto quanto os Bascos...) do Hexagone. Por um lado, é uma região que se quer autónoma, uma ilha que não se sente pertencer a França, onde falam um dialecto diferente, onde mais vale não criticar/tocar para sairmos safos e por outro lado, quem lá vai, volta encantado, tem as praias mais bonitas do pais, acessível a partir de Toulon, Marseille ou Nice por ferry. Acho que vale a pena conhecer - eu adoraria - se tiveres tempo. E houve lá um sismo - toda esta região é sísmica, btw - a semana passada. Coisa pouca, a Córsega faz valiosamente frente a tudo... é chamada de Ile de Beauté. Tem a sua justificação.
Sílvia... boa viagem! quem quer agora viajar... sou eu!
- A Minha Conclusão Sobre O Assunto
Vamos chamar um boi... um boi. Quando os Franceses falam sobre “países mediterrânicos”, dão-lhes uma conotação pejorativa. E não, não estou a brincar. Fácil perceber isso quando se mora aqui por muito tempo. Em Paris, assume-me que os do sul,...
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**Querida Sofia,Em três anos e meio em Paris, já recebi centenas de pessoas em casa. Sim, posso dizer "centenas". Uns vinte membros de família, uma dezena de bloggers que tiveram (felizmente) a ousadia de enviar um mail e ficar aqui em casa, os cinquenta...
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