Use me, abuse me and now... watch me!
Filosofia

Use me, abuse me and now... watch me!


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Querida Sofia, 
Lembrei-me há algumas horas de um episódio que aconteceu na minha infância. Um primo meu e eu temos apenas algumas semanas de diferença; eu fazia anos primeiro e ele fazia duas semanas mais tarde. Nunca juntamos as nossas festas (acho eu), mas lembro-me da mãe desse primo sempre ligar à minha mãe para ela lhe enviar o que tinha sobrado do meu aniversario para ela organizar o aniversário do filho dela. E lembro-me que um dia a minha mãe, ao desligar o telefone com a prima que lhe pedia as coisas, exclamou "organizo o aniversário da minha filha sozinha e nunca peço nada a ninguém!".
A minha mãe, com o passar dos anos, tem-se mostrado uma pessoa muito generosa. Sei que ela é, mais do que no passado, mas que no fundo sempre foi. A maneira como analiso esse dia hoje, faz-me pensar que a minha mãe estava de saco cheio. Ajudar, sim. Abusarem? Não.
Ontem, enquanto relia os SMS no meu telefone - para ver se me falta algum por responder - vi que dos dez últimos que recebi, dois eram automáticos (serviços), três de amigos e família a perguntar como estou e cinco de amigos a pedirem-me favores. E, tentei puxar pela cabeça e são sempre os mesmos. Enviam SMS muito compridos "Elite, que saudades tuas, kutxi kutxi, mas podes fazer isto? falar de mim a X? ajudar-me a ir buscar Y? vender Z?" e outras coisas desse género. Não me irrita responder e fazer favores às pessoas. Mas o "que saudades tuas", "és tão querida", "mi mi mi" irrita-me que ao escrever isto sinto que já me nasce um cabelo branco de novo.
Como não sou pessoa de falar muito, engulo tudo e deixo passar. Mas ando com uma paciência bastante próxima do zero nos últimos tempos e respondi num tom seco e directo. E que acontece? as pessoas perguntam "mas estás bem? estás com algum problema?". A culpa não é das pessoas se abusam de mim. Fui eu que as deixei. Sou eu que as deixo agirem assim comigo. E assim que mostro que nem sempre estou ali para ajudar, ficam chocados. Sinto que não é a primeira nem segunda vez que te envio uma carta com este teor, com a mágoa ressentida com atitude de amigos e pseudo amigos (aliás, só os pseudo amigos me fazem sentir assim, os meus amigos perguntam como estou sem pedir favores). Mas espero que esta carta seja a última deste tipo. Porque é triste querer tanto agradar a tudo e todos anulando a sua própria pessoa. E se alguém disser que "mudaste, algo aconteceu?" é porque estava habituado e apenas gostava da Elite people pleaser. Os que ficarem com a mudança são os que vão ficar para valer. Aliás, os que virem uma mudança são os que vão ter de se conformar para ficar para valer.



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