Opressão e morte
O Departamento Intersindical de EstatÃstica e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgou, em 13 de novembro, um levantamento nas regiões metropolitanas mostrando que, embora representassem 48,2% dos trabalhadores nessas regiões entre 2011 e 2012, a média salarial do trabalhador negro chegava a ser 36,1% menor que a de não negros. Isso ocorre mesmo sendo analisados os salários da mesma região, do número de horas trabalhadas e da atividade econômica, provando que, no Brasil de hoje, um trabalhador ganha menos tão somente pela cor da sua pele.
Mas nada é tão dramático quanto a situação da juventude nas periferias, classificado pelo movimento negro de “genocÃdio†sem nenhum exagero. Estudo recente divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (IPEA), “Segurança Pública e Racismo Institucionalâ€, revela que o simples fato de ser negro aumenta em oito pontos percentuais as chances de ser uma vÃtima de homicÃdio. Nas grandes cidades, as chances de um jovem negro ser assassinado é 3,7 vezes maior que a de um branco. A taxa de homicÃdio é tamanha que retira 1,73 ano da expectativa de vida de um negro ao nascer.
Para que fique bastante claro que não estamos aqui falando apenas de violência de uma forma geral, mas de uma violência causada pelo racismo, basta dizer que, de 2002 a 2010, houve redução de 24,8% de homicÃdios de brancos, enquanto que as mortes entre os negros aumentaram 36%. Foram mortos no perÃodo 271.422 negros, uma guerra não declarada à juventude negra e pobre.
O assassinato do jovem Douglas, de apenas 16 anos, na Zona Norte de São Paulo é reflexo da violência policial que atinge essa parcela da juventude. De dentro de uma viatura, o policial efetuou um tiro à queima-roupa contra o peito do rapaz, que só teve tempo de questionar: “Por que o senhor fez isso comigo?â€. O policial que assassinou o garoto foi autuado por “homicÃdio culposo†(quando não há a intenção de matar), passou poucos dias preso e foi solto, mas a revolta popular se espalhou pela região. Dois dias depois, outro jovem, Jean, foi assassinado pela polÃcia também na Zona Norte.
Essa escalada da violência policial contra os jovens das periferias provoca um rechaço cada vez maior à PolÃcia Militar. Fica cada vez mais claro o papel racista e elitista desta polÃcia, enquanto que a questão da desmilitarização e fim da PM ganha cada vez mais força.
Lutar contra a violência e o racismo
Neste dia 20 de novembro ocorrerão várias manifestações contra o racismo e em defesa dos direitos da população negra. Infelizmente, parcela significativa do movimento negro se encontra hoje atrelada aos governos, principalmente ao governo federal. No entanto, cresce uma alternativa independente de organização e mobilização do movimento. O Quilombo Raça e Classe, ligado à CSP-Conlutas, defende um movimento classista e independente dos governos e promove, em conjunto com outros movimentos e coletivos, a Marcha Nacional da Periferia. É uma experiência muito interessante que surgiu em São LuÃs (MA) e que agora está se nacionalizando.
Neste ano, o slogan da marcha é “Pelos nossos Amarildos, da Copa eu abro mão†que denuncia a violência policial cujo sÃmbolo mais marcante foi o brutal assassinato do pedreiro Amarildo Souza, morador da favela da Rocinha.
A luta contra o racismo, ao contrário do que muitos podem pensar, não é uma tarefa apenas dos setores organizados no movimento negro. É uma questão não só de raça, mas também de classe, pois, se é verdade que todos os negros são vÃtimas de racismo nessa sociedade em que vivemos, os negros e pobres trabalhadores são os que mais sofrem. A batalha pela igualdade de direitos e condições para negros e brancos é responsabilidade de todos os trabalhadores e trabalhadoras organizadas no movimento sindical, nos movimentos sociais, nos partidos de esquerda, enfim, é uma tarefa colocada a toda a classe trabalhadora.
Como já dizia Marx: “O trabalhador branco não pode ser emancipado onde o negro é estigmatizadoâ€. Nesse 20 de novembro, todos à Marcha Nacional da Periferia! Zumbi vive!
*Zé Maria é Presidente nacional do PSTU, é diretor da Federação Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais e integra a Coordenação Nacional da CSP
fonte:
http://congressoemfoco.uol.com.br/opiniao/colunistas/nesse-20-de-novembro-zumbi-vive/