o que o indígena pensa do Brasil e da FUNAI?
Filosofia

o que o indígena pensa do Brasil e da FUNAI?



Índios desafiam a Funai por novo modo de produção


Em conflito com produtores rurais e governo, indígenas querem plantar, garimpar e extrair madeira de suas terras, de modo comercial e sustentável. Mas enfrentam resistência, mostra reportagem da Revista Congresso em Foco

Lideranças indígenas e a Fundação Nacional do Índio (Funai) não falam a mesma língua. Enquanto a entidade defende projetos extrativistas que remetem à vida anterior à chegada do homem branco, os Ã­ndios cobram acesso a tecnologias que lhes permitam comercializar seus produtos de maneira sustentável. Querem assistência técnica para melhorar a agricultura e explorar as riquezas que estão em suas terras, mas sem perder a sua identidade. É o que revela reportagem da mais nova edição da Revista Congresso em Foco.
Sem votos para sensibilizar a agenda dos políticos, os quase 900 mil índios brasileiros vivem na periferia dos indicadores sociais do país. A solução preservacionista oferecida pela Funai não agrada aos líderes indígenas. Eles querem plantar a terra, garimpá-la, extrair madeira. Tudo de maneira comercial e sustentável, exportando a produção com “selos verdes” se possível. Para o órgão do governo federal, no entanto, mesmo de maneira sustentável, não é possível permitir determinadas atividades.
A reportagem, de Eduardo Militão, mostra o drama dos índios cintas largas, que vivem ao largo da fortuna que repousa debaixo de seus pés – uma das maiores minas de diamante do mundo. A garimpagem em terra indígena é proibida. Mas ainda é explorada ilegalmente por índios e não-índios.
Mas como plantar sem máquinas, insumos e modernas técnicas, só com facões e machados? “Queremos produzir e abastecer o mercado”, diz o líder Marcelo Cinta Larga. “Mas não temos acesso ao mercado”, completa o líder Paulo Roberto Cinta Larga, que vive em uma reserva no lado de Mato Grosso.
Na reportagem, o ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, admite que os governos federal e estaduais têm responsabilidade pelo acirramento dos conflitos indígenas país afora, por terem dado, ainda nos anos 1970, terras indígenas a agricultores. Além de mapear os principais conflitos, a revista também mostra indicadores sociais dos indígenas, a cronologia dos fatos que marcaram os cintas largas e as batalhas que opõem agricultores e defensores dos povos indígenas.

fonte:
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/indios-e-funai-nao-falam-a-mesma-lingua/

 

 

 

Lindomar Terena: “Cadeia no Brasil não é para bandido”

Blog do Paulo Suess
Natural do estado mais perigoso para índios brasileiros, ex-cacique acusa governo de “passar por cima” dos indígenas para beneficiar o agronegócio e causar insegurança jurídica com a não-demarcação de reservas

Natural do estado mais perigoso para índios brasileiros, ex-cacique acusa governo de “passar por cima” dos indígenas para beneficiar o agronegócio e causar insegurança jurídica com a não-demarcação de reservas
 ex-cacique Lindomar Terena está na linha de frente dos conflitos entre indígenas e fazendeiros em Mato Grosso do Sul, estado onde foram assassinados 37 dos 60 índios mortos ano passado no país. Um dos principais líderes do povo terena na luta pela retomada dos 36 mil hectares da reserva Cachoeirinha, no norte do estado, Lindomar foi incluído no Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos após receber várias ameaças.
O processo de demarcação da terra está suspenso e aguarda decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) desde 2010. O imóvel pertence à família do ex-governador Pedro Pedrossian, já falecido. Lindomar conta que, no ano passado, ele, um advogado e outras três lideranças indígenas foram perseguidos por cerca de 20 homens armados, distribuídos em seis caminhonetes, numa reserva indígena na região do Pantanal. As ameaças telefônicas também são constantes.
Em maio de 2010, cerca de 800 terenas foram expulsos pela Polícia Federal durante a desapropriação de uma terra, em meio a armas, bombas de gás lacrimogêneo e cães. Para ele, o fim das ameaças só depende do governo federal. “É só o governo assumir a responsabilidade de demarcar as terras indígenas. Aí acaba a insegurança jurídica para ambas as partes.” Lindomar Terena também defende multa pesada para conter os conflitos no campo. “Tem de mexer no bolso deles. Para a cadeia, sabemos que eles não vão. Cadeia, no Brasil, não é para bandido; é para quem luta pela sobrevivência”, avalia.
O ex-cacique entende que os três poderes agem em conjunto para favorecer apenas os grandes fazendeiros. “Estão fazendo de tudo para atender ao agronegócio. Mas eles não precisam passar por cima dos outros. A luta dos povos indígenas é a luta dos excluídos, a vida para todos”, afirma. Aos 38 anos, filho de pai branco e mãe terena, Lindomar é suplente de vereador em Miranda pelo PT. Cerca de 40% dos 27 mil habitantes do município são indígenas e vivem em aldeias.
Além dele, outras duas lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul estão incluídas no programa de proteção do governo federal. Mato Grosso do Sul tem a segunda maior população indígena do país (77 mil). Apesar da tensão permanente, Lindomar não pensa em deixar o estado. “Isso seria me acovardar. A gente enfrenta de cabeça erguida sabendo que corre o risco de tombar amanhã. Não adianta sair, o problema está aqui para ser enfrentado.”



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