A Elite VS Photoshop
Filosofia

A Elite VS Photoshop


Querida Sofia,
Depois de chegar a casa e ver as fotos tiradas durante o dia, olhei para uma e pensei “nada mal! Ficaria ainda melhor se eu tirasse essas borbulhas, atenuasse as olheiras, tirasse o cabelo da cara, diminuísse o nariz, pusesse um ar mais ensolarado e postasse a obra no CAFS”. Com tantos verbos em "-sse", não pude deixar de pensar no Ai se sesse do Cordel do Fogo Encantado.
Bref...
Depois de fazer todas essas mudanças no meu visual graças ao Photoshop, chegaria aqui, cheia de legitimidade, a dizer que temos de assumir a nossa aparência, o nosso cabelo e tudo o que Deus nos deu. Ah, claro, com alguma maquilhagem qb, que não é pecado maquilhar-se, é apenas crime. Examinei de novo a foto e dei-me conta que era simplesmente… eu. No estado mais genuíno.

O nariz enorme que ocupa a minha cara assim como o Lesoto ou a Suazilândia estão na África do Sul é o meu. Permite-me respirar, sentir comida boa, maus cheiros como de algo que está a queimar. Até esfregar o meu contra o nariz de quem beijo e tais e tais, que é tão bom e tão pessooal. Pronto, é grande, não me satisfaz, mas não é o pior nariz do mundo, não me desfigura completamente, não é colocado à boca, pronto, assim como assim, não tem grandes defeitos.

As olheiras… essas malditas… acho que já nasceram comigo. Lembro-me de tê-las aos dez anos (mas isso porque via a novela da TPA escondida da minha mãe) e todo o mundo ficar assim meio que assustado ao olhar para mim, mas foi algo que nunca perdi. Ficam mais ou menos escuras, mas não é a pior coisa do mundo, o Eyecon da Benefit existe para me ajudar. O Erase Paste é que não, pois é uma bodega (para mim), já disse!

A tez com vários tons, do mais claro ao mais escuro, da cara bronzeadinha ao pescoço cor de barata descascada, do canto do nariz vermelho à testa rosada e ao queixo incolor. Que fazer, santo Deus, que fazer, visto que a minha cara não ilumina onde é necessário, não escurece onde é preciso? Se eu fosse a Angola, já estou mesmo a ver aquelas primas todas a dizer que tenho cor de parede suja e que deveria fazer um estágio ao sol. Invejoooooooosas! (sim, toda crítica tecida a uma pessoa é apenas baseada na inveja, ‘tás sabida?)

Além da tez, essa pele… essa pele, oh Elite. Andas a beber água? Sim. Andas a seguir o tratamento da dermatologista? Sim, comecei, mas não funcionou, desisti. Deixas a pele respirar e não te maquilhas todos os dias? Sim, tenho feito isso. Não me maquilho todos os dias, não senhor. Usas protector solar? Todos os dias.
Bom, visto assim, só pode ser problema hormonal, todas essas borbulhas, essas vermelhidões, esses poros dilatados, essas cicatrizes… e a verdade é que a minha mãe também era assim. Dizem que isso só passa com a gravidez (sim, que antes diziam que era depois da adolescência e olha lá, não aconteceu nada).

Os lábios… “seco mais seco não há”. Por mais tratamento e “besuntar de creme ou batom hidratante de manhã”, em meia hora, os meus lábios fazem “chlurp”, absorvem tudo e ficam secos como o deserto do Kalahari. E lembro-me, pequena, que a minha irmã gozava comigo porque eu tinha lábios finos e nada redondinhos em forma de morango ou coração como os da Emília do Sitio do Picapau Amarelo ou os da Red Queen de Alice in Wonderland. Que fazer, Deus meu, se tenho os lábios finos, e vontade perto de zero de pôr pimenta ou colagenio para fazer com que inchem?

O cabelo que tinha acabado de ser lavado (tenho de falar-te um dia desses da máscara de cabelo da Schwarzkopf que usei, é o máximo), mas estava já no seu modo “olha a carapinha chegando” porque como já disse e muito lamentei, parti o meu secador (não foi o secador, foi aquela pecinha que estica e opera milagres) e deixei a juba secar ao natural. Está brilhante sim senhor, mas depois quando peguei no pente, comecei já a chorar. Un peu… juste un tout petit peu…

Acho que no meio desse desastre visual, o que me salvou foram os meus olhos. Tenho vontade de dizer “como sempre”. Não lhes vejo defeito. São perfeitos. Pronto, algo em mim que eu ache que seja perfeito. Fora o meu dote para fazer bolos. E falando em olhos, há algo que o Photoshop não põe, que o Photoshop não tira. O brilho. Esse brilho nos olhos meus. E por esse brilho, consigo assumir perfeitamente todos os outros defeitos.

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A Elite, sem Photoshop.

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A Elite, com Photoshop.



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