Filosofia
Das pessoas sempiternamente "maravilhosamente bem"
La nuit et les rencontres sur le Pont des Arts
by EvP
Querida Sofia,
Não acredito em pessoas que escrevam todos os dias “estou maravilhosamente bem”, “estou tão feliz”, “que dia fantástico”, “a minha vida é perfeita”. Um dia? Sim. As vezes? Sim. Todos os dias? PADD*, PADS**, não.
Não estou a falar de pessoas com quem cruzo ocasionalmente. Claro, o meu porteiro, quando me cruzo com ele e pergunto cordialmente, em português (porque ele é português, bien sûr) como vai, quero que me responda com um “tudo bem, obrigado” e que nos desejemos prontamente um "bom dia". Quando começa a queixar-se do fígado e da perna e dos rins e do cabelo (que tem desaparecido a olhos vistos) todos os dias, enquanto estou com pressa, já me incomoda um bocadinho.
Estou a falar de pessoas que nos sejam minimamente próximas, com quem trocamos e queremos trocar mais do que um simples "bom dia".
“Fui a uma festa, amazing!”, “fui a um concerto, fabuloso!”, “fiquei três horas à chuva, encantador”, “estive no hospital, estonteante”, “amigos, que noite maravilhosa, vocês são os melhores”, “que dia fantástico no trabalho”. Como disse acima, são coisas que vamos dizendo aqui e ali. Conheço quem o diga diariamente. Na volta é uma filosofia de vida. Um positivismo exacerbado para esconder as pequenas falhas da vida e conseguir olhar para a frente. Na volta, sou apenas uma egoísta e ressabiada e não acho isto normal. Alias, não é que não ache normal, apenas não acredito nessas pessoas.
No fundo, são as primeiras, assim que estão sozinhas em casa, a chorar. A comer um ou dois pacotes inteiros de bolachas frente a um filme lamechas ou que dormem com tudo que lhes apareça à frente. Nem é preciso ir tão longe: são as pessoas, que depois do seu discurso à volta de um cocktail, quando olhamos para elas sem darem conta, estão a olhar para o vazio. O momento de encenação acabado, baixam a guarda, com o palco fugitivo, as cortinas vermelhas e espessas tremidas depois de serem corridas. Quando se dão conta que estão a ser observadas, forçam o sorriso e atacam de novo o discurso da vida perfeita e sem percalços. Um sempiterno “the show must go on” que acho, ao fim ao cabo, absolutamente vomitivo.
*Pelo Amor de Deus
**Pelo Amor da... yes! Santa
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