How an Australian man made me 1/stop feeling sorry for myself and 2/get my groove back!
Querida Sofia, “Ai coitadinha de mim, tenho a vida mais injusta do mundo, tenho mais problemas que tu, que ele, que ela, que o mundo, e tenho de aguentar tudo isto sozinha” e yada yada yada. Chega! Depois de perto de 18 meses a contemplar a queda do império – aka, da minha vida – e de apenas viver surtos de luta e desafogo, decidi desistir do Calimerismo latente. Precisei de vários abanões para me dar conta que as coisas não podiam continuar do mesmo jeito. Estava na lama e desci ainda mais fundo. Afinal é possível. Mas só fica na lama quem quer ou quem tem preguiça a mais para sair da lama. Quero com isto dizer que quando estamos tristes ou deprimidos, é fácil fechar-se em casa, ficar no escuro e esperar que o amanhã chegue. Difícil mesmo é conseguir levantar da cama, alimentar-se, vestir-se, maquilhar-se (what?), e se Deus permite, SAIR. Há algumas semanas, tinha ficado uma semana inteira em casa a escrever a minha tese, sem ver o sol, quando finalmente decidi sair pela meia-noite, dar uma voltinha e esticar as pernas. E foi como aquela lamechice dos filmes, mas fechei os olhos enquanto atravessava o parque aqui à frente e respirei fundo. Senti o cheiro da relva, das flores que começavam a abrir com o bom tempo e ao “som” da brisa. Esses dez segundos com os olhos fechados foram uma experiência religiosa para mim. Nunca liguei muito a plantas e cheiro de plantas e tais. E nessa noite, foi o melhor que me aconteceu. Foi como renascer. Eu estava viva o suficiente e tinha sobrevivido a tudo o que tinha acontecido e tinha o poder de respirar as plantas. De andar. De sorrir. Acorda, Elite, não estás morta!
As coisas têm apenas melhorado desde Abril. Não houve ainda culminar algum, mas sinto algumas portas se abrirem. Ou pelo menos, menos janelas a se fecharem. Já consigo arrumar a minha casa – é que a depressão fez-me viver tal como o Howard Hughes no tempo na loucura, num cafarnaum vergonhoso but who gives a f* - já consigo passar dias sem chorar – apesar de que nem sempre consigo chorar, mas compreendes o que quero dizer – já consigo sair de casa apenas para ir andar, já estou a retomar o controlo das coisas que antes controlava e das quais tinha perdido as rédeas. Dei-me conta – demorou – que durante muitos anos da minha vida tive TUDO e de repente, ficar com “nada” não é uma experiência, é um processo penoso e doloroso.
Acho, sinceramente, que os últimos 18 meses ensinaram-me o que é a vida, com a sua dose de erros, de perdas, e nas quais aprendi que algo de pequeno – como ir snifar plantas, pelo amor da Santa – pode salvar-me da loucura.
Acho que procurei o conforto nas coisas materiais – que já não podia adquirir – em algumas amizades – que no fundo não me compreendiam – em relações que no fundo pouco me traziam. Mas precisa tanto de acumular esses “poucos”, essas “migalhas” para ter um mundo. Mas era estéril, vazio e de pouco ou nada me serviu a não ser para tirar grandes lições.
Lamento o facto de ter decepcionado muita gente, não ter respondido a mails, não ter atendido chamadas, não ter ido a encontros. Mas a verdade é que tudo era pesado demais. Fim de papo. Quem confiou no futuro e ficou, terá apenas a ganhar e lutar comigo por mim e pelo que podemos ter.
E enquanto pensava na morte da bezerra e no cavalo que não engorda, vi um programa na internet com o Kurt Fearnley – who the heck is that? O Kurt é um atleta para olímpico desde que nasceu sem uma coluna vertebral completa (é o compreendi da reportagem) – e para não variar, teve um acidente de carro há 10 anos que não ajudou em nada. O Kurt não pode andar. Mas o Kurt corre. Escala. Sobe. Desce. Faz tudo o que eu e tu fazemos e muito mais. O Kurt tem mais medalhas de ouro que eu ou tu haveremos jamais de ter. O Kurt tem tudo para ser um coitadinho e não o é. E o Kurt fez o Kokoda Trail (96 quilómetros de trekking na Papua Nova Guiné) apenas com a força dos seus braços e tronco. O Kurt é o exemplo mesmo que de coitadinha, só tenho e só posso ter o que eu quero. E que de coitadinha não tenho no fundo nada.
Obrigada, Kurt. Se fosses Angolano, dir-te-ia que… “estamos sempre a subir”. Eu sei que agora vai ser sempre a subir. Nem que seja um degrau por ano, mas será a subir.
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