How going back to Europe is equal to going back to past eating disorders for me
Filosofia

How going back to Europe is equal to going back to past eating disorders for me


Querida Sofia, 
Umas das melhores coisas de viver em Angola é, para mim, a percepção generalizada do que é um “corpo bonito”. Aqui, culturalmente, as mulheres querem-se saudavelmente voluptuosas. Na Europa, quanto mais escanzelada, melhor. Não que eu namore um homem bantu, mas sinto-me mais aceite fisicamente cá do que nos países europeus onde residi. Senti isso recentemente, ao voltar para “Europa” de férias. As conversas nos restaurantes giram um pouco muito à volta das calorias e dietas. Sei que já fiz parte desse gang de maneira feroz – que horror! –; enquanto aqui, num restaurante, sentamo-nos para comer, sem grande análise aos efeitos colaterais. Alias, é notável a diferença que sinto numa mesa com pessoas angolanas e numa mesa com “expatriados”: na primeira, a palavra mestre é comer quase sem pensar, sem analisar se há algum equilíbrio alimentar (já vi massa e arroz em muitos pratos…). Na segunda, há um comer com censura, de “é so mais esta batata frita e depois vou para o ginásio”, onde fico sempre com a impressão que as pessoas se estão a torturar para comer (em público). 

Sinto que se regressar à Europa terei de fazer um trabalho profundo em mim, pois sinto que a minha (própria) aceitação é meramente geográfica. Não me preocupo com dietas e/ou outras doenças psicológicas associadas a comida há mais de 4 anos e essa foi das maiores mudanças da minha vida, mas é como a paz em “África”: é uma coisa superficial, que se vai gerindo ao quotidiano, mas não podemos ter a certeza que dure muito tempo

Dear Sophie,
One of the best things about living in Angola, for me, is what is considered a beautiful body. Here, culturally, we love healthy curvy women. In Europe, the leaner the better. I am not in a relationship with a bantu man, but I feel more accepted here, physically-speaking, than anywhere I lived in Europe. I felt it recently, when I was travelling in “Europe”. Conversations in restaurants and cafés easily deal around calories and diets. I know I was part of that kind of tribe in the past – shock horror! – while here, at a restaurant, people sit down to eat, without overanalising their food content. The differences between an Angolan and an “expat” table are astounding: for the former, you eat mindlessly, with no food balance – I mean, I already saw people eating pasta with rice… -, for the latter, there is a whole lot of censorship and public guilt “I will only eat this one french fry and I will go to the gym afterwards”… this case scenario always makes me think people like torturing themselves and whoever is sitting with them because guilt is always better when shared. 

I feel that if I ever go back to living in Europe, I will have to work a lot on myself so as not to feel enrolled in this way of thinking again. I feel my acceptance is merely geographical. 

I have not worried about diets and/or starving and/or eating disorders in the past 4 years and that was one of the biggest changes in my life. But i feel it’s just like peace in “Africa”: it’s something superficial, that you have to manage on a daily basis and that is not meant to last for very long.

 



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