Filosofia
I'm just a Jennifer Lopez in a world of Victoria Beckhams
Querida Sofia,
Desde a mais tenra idade, sempre convivi com meninas francesas. Meninas caucasianas, quero com isto dizer. E verdade seja dita, as meninas francesas, desde pequeninas, são como as mães. Que sejam pequenas ou altas, são magras como espetos. Têm formas estreitas que parece que foram todas moldadas na Charlotte Gainsbourg. E apesar desse convívio, nunca fui caucasiana. Sempre fui a menina com traços africanos no meio daquelas varas. Sempre tive, desde os 11 ou 12 anos de idade, formas. Ancas parideiras. Coxas grossas. Uns glúteos maiores que a Sapucaí.
E comecei a fazer dieta aos 13 anos. Porque queria perder essas ancas, essas coxas, essa bunda que eu não compreendia, com as quais eu não encaixava fisicamente com as outras. O sentimento piorou quando vim morar em França. Não era apenas na Escola que via as meninas à la Jane Birkin, era por todo o lado. As Francesas são magras, peito pequeno, rabo quase inexistente, mini modelos em potência por todo o lado. Que fazia eu? ainda mais dietas.
Ao ver a foto da Jennifer Lopez com a Victoria Beckham, depois de passar aquele momento em que olho para os cabelos, a maquilhagem, os vestidos, os sapatos, não posso deixar de reparar na diferença entre as duas mulheres. Uma é magra e seca, a outra tem formas, mesmo sendo magra. E o mundo inteiro sabe que a Jennifer Lopez faz muito desporto, dança para caramba mas algo nunca vai mudar, ela sempre terá essas curvas que Deus lhe deu. E a Victoria faz muita dieta e desporto, é a disciplina em pessoa, o mundo inteiro também sabe disso, mas tem o físico para ser assim, seca. E já há algum tempo, tenho-me conformado e dito isso.
Por mais dieta que eu faça, por mais semanas de salada e sopa, nunca vou ser uma Victoria. Vou ser sempre exactamente como sou. Apesar de não ter escolhido viver num país diferente do meu, culturamente e em todos os aspectos, há coisas nas quais eu tive de mergulhar nisto e a vida é assim. E por vezes olho-me ao espelho e digo/penso que na volta, algures no mundo, alguém poderá querer ter um rabo mais proeminente e não pode e eu tenho e é meu e não há nada a fazer contra isso.
Pelo contrário.
Há que gostar.
Embrace it.
E claro, pensar um pouco na minha vida, pois apesar de ter o biótipo da Jennifer, onde ela tem músculos, tenho uma gordura e uma retenção de água descomunais.
*"ça va sans dire", mas o post é para generalizar.
Há mulheres caucasianas gordas e mulheres latinas e/ou africanas magras e secas.
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