Je vais bien, ne t'en fais pas*
Filosofia

Je vais bien, ne t'en fais pas*





Querida Sofia...

Que saudades tinha eu de ti, Sofia. Transformei-me num daqueles pais que passa mais tempo a viajar do que com os filhos e desisti de prometer que ia voltar brevemente ou que não iria embora tão rapidamente. Pode ser que volte amanhã, para a próxima semana ou dentro de um mês. Mas tem que bater certo dentro da minha cabeça, tem de ser o que eu quero, preciso e posso fazer.
Sabes o que me dá, no fundo, menos vontade de te escrever, apesar de ter tanto por contar? Não são os leitores – que gostem ou não de mim, I lov’em – mas são as pessoas que me conhecem pessoalmente, que nunca enviam um mail ou uma mensagem a perguntar como vou, que absorvem o que está aqui escrito, depois ressaltam os temas em conversas que temos entre quatro olhos, fingindo que me conhecem de cor enquanto, não querido/a, eu SEI que vieste ler. É patético, e ao mesmo tempo, lisonjeador e bom para as estatísticas. Mas se eu estivesse MESMO preocupada com números, viria aqui escrever todos os dias, três ou quatro posts por dia. Gostaria que houvesse apenas um pouco menos de hipocrisia. Se lês o que escrevo, assume. Porque eu sei que lês.
Isso aparte, a minha vida é uma novela. Gostaria de ter uma vida apática como muita gente que conheço, que são casados ou comprometidos, têm um trabalho, um trajecto de metro a fazer duas vezes por dia e a vida não sai disso. Mas isso me daria um equilíbrio que tanto almejo e que pareço não conseguir encontrar nunca.
No entanto, não me quero queixar de nada hoje. Nem da família desmoronada, nem das finanças sem rating possível (é que se a Moody’s espreitasse a minha conta bancária, iria dar um upgrade ali à Irlanda), nem do coração abalado.
Alias, como vai o meu coração? Como assumir, perante os outros e perante a mim própria o que tem acontecido? Como é que passei de uma relação pela qual estava a começar a fazer o luto (com sucesso) a não conseguir viver sem ele de novo? (ahhh… sinto que já estão a compreender). Sinto-me tal um Gaddafi/Kadhafi (como é que se escreve o nome do sujeito, de uma vez por todas?), que anuncia um cessar-fogo e não consegue cumprir. Não quero cessar o fogo. A “guerra” entre Paris e Nova Iorque está, hoje, completamente aberta. Mas falemos sobre isso a outra altura. Não é assim tão importante, cof cof.
Sinto-me muito privilegiada por estar neste momento a estudar ciências politicas. Todos os dias, a quase todas as matérias, temos algo de novo sobre o que falar. Porque fico ali a ouvir os professores, com um olho no twitter, e a cada aula, algo de novo aconteceu. Foi o que sucedeu esta semana. Falávamos precisamente do caso da Costa do Marfim – oh Deus, África, what are you not doing right now... – e da posição a norte do Ouassara e a sul do Gbagbo. Uma hora depois, o Ouassara tinha passado a controlar uma cidade chave para Gbagbo. Se a escola fosse minha, teria lá posto um mapa mundi na entrada e faria alterações todas as manhãs tal efeméride, consoante a actualidade. Ainda ontem, o Sudão era “apenas” um país. Hoje são dois.
Vês? Algo em mim mudou. A minha relação com a actualidade. Não quero falar de outra coisa, não quero pensar em outra coisa. O mundo está a mudar, eu com ele, e quem não entra no ritmo, fica de fora. No entanto, a semana de férias que começa dentro de alguns dias vai fazer-me um bem tremendo. Tenho família e amigos por ver, mails por responder, um cérebro para descansar e um coração a proteger. Já volto.




*Estou bem, não te preocupes, filme francês de 2006



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