O dia em que decidi correr durante quatro horas e que a minha vida não seria mais a mesma
Filosofia

O dia em que decidi correr durante quatro horas e que a minha vida não seria mais a mesma


Querida Sofia,
Foi o final de semana passado. Lancei-me um desafio pessoal que quis respeitar a todo custo – e que hoje sei que não voltarei a repetir: fazer cardio durante quatro horas em apenas um dia. Tenho feito quatro horas por semana há dois meses, já tenho feito sessões de duas horas seguidas, mas quatro horas parecia estar no campo do impossível. Tretas. Dividi as horas em quatro e fiz uma hora entre cada refeição, respeitando, C L A R O, os períodos de digestão.
Man! Se gosto de treinar sozinha, é por uma simples razão: quando começo a ficar cansada (ali no minuto 89), começo a chorar. Um choro de cansaço aliado à frustração por ter de lutar tanto para tirar a droga da gordura do corpo. Constatei recentemente que esse choro não era apenas cansaço. Por vezes é porque me sinto feliz, por seguir a teoria do “se tens uma hora para ver televisão, tens uma hora para mexer o rabo”. Há quem fique um sábado ou um domingo inteiro deitado a ver TV. Eu vi as minhas séries. But on the run. E ao chorar (e suar), sei que comecei a arrumar algumas ideias na cabeça (se isso é possível).
Preciso entrar num estado de espírito novo antes que as aulas comecem. Já consegui distinguir o trigo do joio, sei quem é importante e sei quem mantive ao meu lado. Tenho tentado resolver um problema por dia aqui e ali. Uma dívida a menos aqui. Um problema burocrático a menos por ali. Abrir as gavetas e deitar fora documentos e papéis desnecessários. Separar roupa que não uso há dez anos, que guardo apenas por razões emocionais e que poderia fazer outra pessoa feliz se pudesse desprender-me delas. Já está tudo dentro de sacos e estou pronta a separar-me disto tudo. Treinar tem para mim a mesma vertente: distinguir o que é bom do mau. Vencer a preguiça. Privilegiar a saúde e um objectivo (obsessão) que parece que não tem fim.
Então este final de semana, chorei. Chorei muito, como uma Maria Madalena. Devo confessar que não fiz de propósito, mas os dias a seguir têm sido apenas bons. Abordados com a boa energia. Apenas espero que não seja um simples cíclo de depressão/euforia, porque preciso de ter toda a bola em cima na PFW [e todo o trabalho inerente] que começa dentro de uma semana.



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