Filosofia
Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Governo do Estado de Goiás - Secretaria de Educação - UFG - 2010
Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Governo do Estado de Goiás - Secretaria de Educação - UFG - 2010
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
QUESTÃO 31
De acordo com as teses expostas por Platão em A República,
(A) há um reino das Ideias ou Formas, e nenhum objeto participa de tais Ideias ou Formas.
(B) cada um de nós é a medida de todas as coisas, por exemplo, da beleza de cada objeto.
(C) um objeto é, por exemplo, belo, se participa da ideia do belo - o belo em si.
(D) as Ideias ou Formas nos são ininteligíveis.
QUESTÃO 32
No livro IV de sua Metafísica, Aristóteles afirma: "De fato, quem diz que tudo é verdadeiro, afirma também como verdadeira a tese oposta à sua; do que segue que a sua não é verdadeira (dado que o adversário diz que a tese dele não é verdadeira). E quem diz que tudo é falso diz que também é falsa a tese que ele mesmo afirma". Desta passagem, pode-se extrair um argumento que visa a demonstrar que
(A) as concepções relativistas de verdade e conhecimento são consistentes.
(B) as concepções não relativistas de verdade e conhecimento são autorrefutantes.
(C) as concepções não relativistas de verdade e conhecimento são inconsistentes.
(D) as concepções relativistas de verdade e conhecimento são autorrefutantes.
QUESTÃO 33
Na primeira de suas Meditações, Descartes põe em marcha um processo de crescente radicalização da dúvida cética, até chegar a um ponto de grau máximo de dúvida.
Constituem etapas deste processo específico:
(A) as hipóteses de que talvez os sentidos nos enganem, de que talvez estejamos sonhando e de que Deus seja enganador.
(B) a demonstração da existência de um sujeito pensante e a prova da inexistência de um Deus veraz.
(C) a prova das proposições "Eu sou", "Deus é enganador" e "Os corpos existem".
(D) as provas da existência de coisas fora de mim e da inexistência de Deus.
QUESTÃO 34
Tendo o cético como objeto de crítica, Descartes vai, em suas Meditações, tentar
(A) provar que a ideia de Deus é uma ilusão e que a razão pode desfazê-la.
(B) validar a certeza objetiva e estabelecer algo de firme nas ciências.
(C) mostrar que as verdades da Lógica e da Matemática são as únicas que não podem ser postas em dúvida.
(D) mostrar que nossas certezas têm em hábitos ou costumes coletivos o seu fundamento racional último.
QUESTÃO 35
Segundo a argumentação formulada por Hume em seu Tratado da natureza humana, é correto dizer que as leis indutivas
(A) podem sempre ser justificadas por meio de raciocínios indutivos e de raciocínios dedutivos, e constituem um exemplo de refutação racional de hábitos ou costumes.
(B) podem ser justificadas ou provadas somente por meio de raciocínios puramente lógicos, e sempre contradizem hábitos ou costumes.
(C) não podem ser justificadas nem por meio de raciocínios indutivos nem por raciocínios dedutivos, e se apoiam, antes, em hábitos ou costumes.
(D) apenas se adequam aos hábitos ou costumes, porque podem, antes, ser sempre justificadas por meio de raciocínios indutivos e dedutivos.
QUESTÃO 36
Em sua Crítica da razão pura, Kant estabelece uma distinção entre noumena e fenômenos. Tal distinção refere-se, respectivamente,
(A) às coisas tal como elas são em si mesmas e às coisas tal como elas são segundo o ponto de vista de cada cultura particular.
(B) às coisas tal como elas são em si mesmas e às coisas tal como podemos conhecê-las.
(C) às coisas tal como elas nos aparecem e às coisas tal como elas são em um reino abstrato de Ideias ou Formas.
(D) às coisas tal como elas são segundo meu ponto de vista individual e às coisas tal como elas são segundo o ponto de vista do outro.
QUESTÃO 37
Na parte da Crítica da razão pura intitulada "Estética Transcendental", Kant afirma que
(A) espaço e tempo são conceitos empíricos abstraídos de experiências externas.
(B) espaço e tempo são entidades reais, existentes independentemente das mentes humanas.
(C) espaço e tempo são ideais do ponto de vista empírico e reais do ponto de vista transcendental.
(D) espaço e tempo inexistem independentemente das mentes humanas.
QUESTÃO 38
O chamado princípio de não-contradição pode ser formulado do seguinte modo:
(A) todas as proposições são verdadeiras.
(B) não existem proposições contraditórias.
(C) toda proposição é ou verdadeira ou falsa.
(D) nenhuma proposição é verdadeira e falsa ao mesmo tempo.
QUESTÃO 39
Segundo argumentação formulada por Wittgenstein em seu Tractatus logico-philosophicus, é um traço essencial de toda proposição dotada de sentido ser
(A) bipolar, ou seja, ao mesmo tempo verdadeira e falsa.
(B) logicamente necessária e a priori.
(C) bipolar, ou seja, capaz de ser verdadeira e também de ser falsa.
(D) tautológica e logicamente contingente.
QUESTÃO 40
Em sua Metafísica, Aristóteles afirma que "quem possui o conhecimento dos seres enquanto seres deve poder dizer quais são os princípios mais seguros de todos os seres. Este é o filósofo". Aristóteles, então, formula o princípio "mais seguro de todos" do seguinte modo: "É impossível que a mesma coisa, ao mesmo tempo, pertença e não pertença a uma mesma coisa, segundo o mesmo aspecto". Pode-se dizer, segundo este último trecho citado, que
(A) a própria realidade obedece a este princípio.
(B) somente a linguagem obedece a este princípio.
(C) somente o pensamento obedece a este princípio.
(D) a linguagem não obedece a este princípio.
QUESTÃO 41
Na Fundamentação da metafísica dos costumes, Immanuel Kant busca fixar o princípio supremo da moralidade, identificado por ele no imperativo categórico. Nessa obra, Kant sustenta que
(A) o valor moral de uma ação praticada por dever tem de ser medido pelo efeito que dela se espera.
(B) o que impulsiona uma vontade moralmente boa é o desejo de felicidade.
(C) o discernimento do bem e do mal resulta da harmonia entre as inclinações e os princípios da razão.
(D) todos os conceitos morais têm a sua sede e origem completamente a priori na razão.
QUESTÃO 42
Na obra Ética a Nicômaco, Aristóteles identifica na sabedoria prática (phrónesis) a forma do juízo moral. Ele compreende a sabedoria prática como
(A) a capacidade de alcançar princípios universais aplicáveis às situações particulares.
(B) a transposição da sabedoria filosófica para o domínio dos assuntos humanos.
(C) a capacidade de identificar em cada situação particular a medida adequada da ação.
(D) a excelência no cultivo de hábitos rigorosos de conduta.
QUESTÃO 43
Em O nascimento da tragédia, Friedrich Nietzsche identifica na tragédia grega a realização máxima do espírito artístico na Grécia antiga, tendo em vista que teria permitido aos gregos transfigurar em bela aparência o vislumbre dos "temores e horrores do existir". Também nessa obra, o filósofo reconhece, no que chama de "otimismo socrático," a razão do trágico fim da tragédia. Para ele, o "otimismo socrático" consiste na
(A) convicção de que os homens vivem no melhor dos mundos possíveis.
(B) compreensão de que o conhecimento teórico pode redimir a vida do erro e do sofrimento.
(C) defesa de que a tarefa da arte é traduzir a verdade em sua forma mais elevada.
(D) defesa de que a vida humana tende necessariamente à felicidade.
QUESTÃO 44
Em sua obra Poética, Aristóteles investiga, brevemente, a origem da tragédia grega e a associa tanto ao culto ao deus Dioniso quanto à narrativa épica. A despeito de os mitos épicos serem centrais à narrativa trágica, o herói trágico distingue-se do épico
(A) por sua capacidade de rivalizar em excelência com os deuses.
(B) por encontrar na intervenção divina a fonte de sua ruína.
(C) por traduzir a fragilidade da virtude humana ante a fortuna.
(D) por ser capaz de redimir a existência humana da morte mediante uma ação virtuosa.
QUESTÃO 45
Em A República, Platão sustenta que a cidade ideal deve ser governada pelo filósofo, porque ele
(A) conhece a medida divina do bem.
(B) possui um desejo natural de governar.
(C) sabe ajustar seu caráter a contextos vários.
(D) tem natural interesse em estar junto à multidão.
QUESTÃO 46
Thomas Hobbes, em sua obra Leviatã, descreve um hipotético estado de natureza primitivo como sendo um estado de guerra de todos contra todos. Para ele, a razão desse estado de guerra reside na
(A) ausência de um poder comum capaz de manter a todos em mútuo respeito.
(B) natural propensão humana para buscar a guerra.
(C) ausência do desejo de autoconservação nos homens.
(D) desigualdade radical entre os homens no estado de natureza.
QUESTÃO 47
Na obra Dialética do esclarecimento, Adorno e Horkheimer examinam o fenômeno que denominam "indústria cultural".
Esse conceito refere-se à
(A) utilização de meios técnicos para a difusão cultural.
(B) ampliação da produção cultural das massas.
(C) conversão dos bens culturais em mercadorias.
(D) elevação do nível cultural do entretenimento.
QUESTÃO 48
Kant sustenta, no início da obra Fundamentação da metafísica dos costumes, que "neste mundo, e até também fora dele, nada é possível pensar que possa ser considerado bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade".
Para ele, essa boa vontade indica
(A) a disposição inata para o agir bem para com os outros.
(B) a vontade determinada unicamente pela forma universal da lei moral.
(C) a vontade naturalmente voltada a propósitos virtuosos.
(D) a capacidade humana de atender às inclinações moralmente elevadas.
QUESTÃO 49
Em sua obra A República, Platão sustenta que a mentira autêntica é detestada pelos deuses e pelos homens, mas ainda assim menciona uma "nobre mentira", a ser aplicada como remédio apenas pelos chefes da cidade aos inimigos e mesmo aos cidadãos, sempre em benefício da cidade. Kant sustenta, ao contrário, que toda mentira é ilícita e representa um aniquilamento da dignidade humana - chega a afirmar que a capacidade humana de mentir é a mancha podre de nossa espécie. Para ele, os homens têm o dever de dizer a verdade, porque
(A) o dizer verdadeiro sempre produz efeitos desejáveis.
(B) a veracidade é o modo humano de se aproximar do divino.
(C) a mentira só se aplica quando a própria humanidade está em risco.
(D) uma lei universal de mentir seria autodestrutiva.
QUESTÃO 50
Hobbes, em sua obra Leviatã, sustenta que a liberdade política consiste antes de tudo na liberdade do Estado, de modo que "a liberdade dos súditos concerne apenas àquelas coisas que, ao regular suas ações, o soberano permitiu" - depende do silêncio da lei, portanto. Para ele, essa liberdade consiste
(A) na capacidade humana de iniciar algo novo.
(B) na possibilidade de os súditos agirem em conjunto.
(C) na possibilidade de o súdito estabelecer deveres para si próprio.
(D) na ausência de impedimentos externos à satisfação do interesse próprio.
DISCURSIVAS:
QUESTÃO 1
Em relação ao ensino de Filosofia no Ensino Médio, são muito difundidas duas ideias: a de que a filosofia é uma disciplina que deve estimular o desenvolvimento do pensamento crítico dos alunos e a de que é preciso transmitir a estes alunos um conjunto de teses de certos filósofos considerados centrais em nossa tradição (Platão, Aristóteles, Descartes, Kant, dentre outros). Por um lado, há o objetivo de fazer com que o aluno aprenda a "pensar por si próprio", e, por outro, há o objetivo de fazer com que o aluno conheça e saiba reproduzir pensamentos formulados por outros (os filósofos canônicos de nossa tradição). Considerando o exposto, discuta: a) se a prática pedagógica do professor de Filosofia no Ensino Médio deve ou não considerar os objetivos explicitados; b) se estes dois objetivos podem ou não ser conciliados.
QUESTÃO 2
O filósofo Theodor Adorno, em seu ensaio "Educação após Auschwitz", afirma: "A exigência de que Auschwitz não se repita é a primeira de todas para a educação.[...] Qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e importância frente a essa meta: que Auschwitz não se repita." A partir desta afirmação de Adorno, responda à seguinte questão: uma formação filosófica pode produzir indivíduos mais esclarecidos ou emancipados intelectualmente? Justifique.
QUESTÃO 3
Em sua célebre condenação da poesia na obra A República, Platão acaba por explicitar que sua perspectiva acerca da formação humana encontra-se em aberta oposição àquela que se encontra nas obras dos tragediógrafos e de Homero, reconhecido então como educador da Grécia, como é mencionado no próprio texto platônico. Para Platão, os poetas são meros imitadores sem saber próprio, a emitir juízos falsos sobre os deuses, a excelência humana, o bem e o mal, a vida e a morte. Ele julga, enfim, que "o poeta imitador instaura na alma de cada indivíduo um mau governo, lisonjeando a parte irracional, que não distingue entre o que é maior e o que é menor, mas julga, acerca das mesmas coisas, ora que são grandes, ora que são pequenas, que está sempre a forjar fantasias, a uma enorme distância da verdade."
Considerando o exposto, explique a perspectiva platônica acerca do sentido e da razão de ser da educação na obra A República.
GABARITO:
31 - C
32 - D
33 - A
34 - B
35 - C
36 - B
37 - D
38 - D
39 - C
40 - A
41 - D
42 - C
43 - B
44 - C
45 - A
46 - A
47 - C
48 - B
49 - D
50 - D
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