Filosofia
Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Secretaria de Administração - Distrito Federal - CESPE/UnB - 2003
Prova e Gabarito - Professor de Filosofia - Secretaria de Administração - Distrito Federal - CESPE/UnB - 2003
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Texto CE-I - itens de 59 a 62
Glauco: Como isso seria possível, se durante toda a vida eles estão condenados a ficar com a cabeça imóvel? Sócrates: Não acontece o mesmo com os objetos que desfilam?
Glauco: É claro.
(...)
Sócrates: Veja agora o que aconteceria se eles fossem libertados de suas correntes e curados de sua desrazão. (...) Se um desses homens fosse solto, forçado subitamente a levantar-se, a virar a cabeça, a andar, a olhar para o lado da luz, todos esses movimentos o fariam sofrer; ele ficaria ofuscado e não poderia distinguir os objetos, dos quais via apenas as sombras anteriormente. Na sua opinião, o que ele poderia responder se lhe dissessem que, antes, ele só via coisas sem consistência, que agora ele está mais perto da realidade, voltado para objetos mais reais, e que está vendo melhor? O que ele responderia se lhe designassem cada um dos objetos que desfilam, obrigando-o, com perguntas, a dizer o que são? Não acha que ele ficaria embaraçado e que as sombras que ele via antes lhe pareceriam mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? E se o forçassem a olhar para a própria luz, não acha que os olhos lhe doeriam, que ele viraria as costas e voltaria para as coisas que pode olhar e que as consideraria verdadeiramente mais nítidas do que as coisas que lhe mostram?
Platão. A República. In: Danilo Marcondes. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, p. 40.
Considerando o texto CE-I e a filosofia platônica, julgue os itens de 59 a 62.
59 - O Sol desempenha, na Alegoria da Caverna, o papel do Bem, conforme apresentado na República.
60 - A Doxa corresponde à parte externa da caverna, pois se está agora na região sensível.
61 - Um dos importantes papéis do filósofo, na descese, é fazer que seus concidadãos obtenham, a partir da região sensível, por um processo de abstração, o conhecimento genuíno, definido pelas formas que estão nas coisas.
62 - A alegoria acima, apresentada por Platão, tem como um dos seus objetivos mostrar que não há estabilidade do conceito - formas - na região correspondente à Doxa.
Com base na filosofia aristotélica, julgue os itens de 63 a 66.
63 - O movimento, em Aristóteles, existe exclusivamente por causa do ato.
64 - Deus, em Aristóteles, pode ser entendido, sobretudo, como a causa material do movimento do céu.
65 - Não existe, para Aristóteles, nenhum tipo de mudança na região supralunar, pois o constituinte dos corpos celestes é o éter, que é imutável.
66 - O universo deve ser finito, pois, para a filosofia aristotélica, não existe infinito em ato.
Texto CE-II - itens de 67 a 70
Todos os eventos aparecem inteiramente soltos e separados. Um evento segue outro, mas nunca podemos observar nenhum laço entre eles. Eles aparecem conjugados, mas nunca conectados. Como não podemos ter nenhuma idéia de qualquer coisa que nunca apareceu para nosso sentido externo ou sentimento interno, a conclusão necessária parece ser a de que não possuímos nenhuma idéia de conexão ou força, e que tais palavras absolutamente não têm sentido quando as empregamos, tanto nos raciocínios filosóficos quanto na vida comum.
David Hume. Investigação sobre o entendimento humano. In: Danilo Marcondes. Textos básicos de filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000, p. 105.
Tendo em vista o texto CE-II e a filosofia de David Hume, julgue os itens de 67 a 70.
67 - A causalidade não possui fundamentação racional.
68 - Não há qualquer relação entre a produção de conhecimento e as impressões, segundo a filosofia humiana.
69 - Como a indução é um ato mental, pode-se concluir pela causalidade de forma a priori.
70 - A causalidade fundamenta-se, em parte, na crença de que o futuro será igual ao passado.
Com relação à filosofia de René Descartes, julgue os itens
71 a 74.
71 - A dualidade mente-corpo é uma novidade exclusiva da filosofia cartesiana.
72 - Segundo o mecanicismo os movimentos da mente funcionam como um mecanismo.
73 - O principal atributo da matéria é a extensão.
74 - O cogito é um ponto de partida importante na dedução cartesiana, com vistas a encontrar um conhecimento certo do mundo.
Texto CE-III - itens 75 e 76
Do Caos nasceram Érebo e a negra Noite; e da Noite, por sua vez, surgiu o Éter e o Dia, que ela concebeu e deu à luz depois de sua ligação amorosa com Érebo. E a Terra gerou primeiro Urano (o céu) constelado, igual a ela própria.
Hesíodo. Cosmogonia. Apud: G. S. Kirk e J. E. Raven. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1982, p. 18.
Tales disse que o princípio do universo é a água, e que o mundo é dotado de alma e repleto de divindades.
Diógenes Laércio. Vidas e doutrinas de filósofos ilustres, p. 19.
É o seguinte o decreto de Adastréia. Toda alma que, no cortejo de um deus, tiver contemplado, de alguma maneira, as verdadeiras realidades está, até a revolução seguinte, isenta de prova e, se é capaz sempre de o fazer, está, para sempre, isenta de danos. Mas, quando, incapaz de seguir como deve ser, e por alguma má sorte, repleta de esquecimento e de perversão, se tornou pesada, sob o efeito desse peso, perdeu suas asas e caiu sobre a Terra.
Platão. Fedro. In: Geneviève Droz. Os mitos platônicos. Brasília: Editora UnB, 1997, p. 19 (com adaptações).
Considerando os trecos contidos no texto CE-III, o pensamento mítico e a filosofia do período clássico, julgue os itens 75 e 76.
75 - Os mitos podem ter desempenhado, pelo menos em parte, um papel pedagógico na explicação da formação do mundo ou da situação do homem no mundo, tanto no próprio pensamento mítico quanto no pensamento filosófico.
76 - Tales é considerado um dos primeiros filósofos porque, em seu pensamento, o mito é usado em situações muito particulares.
Com referência à filosofia cínica e estóica, julgue o item 77.
77 - Entre as preocupações filosóficas dos cínicos e dos estóicos estavam a linguagem e a ética.
Texto CE-IV - itens de 78 a 81
Não exigirei que um sistema científico seja suscetível de ser dado como válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém, que sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo por meio de recurso a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível refutar, pela experiência, um sistema científico empírico.
Karl Popper. A lógica da pesquisa científica. São Paulo: Editora Cultrix, 1998, p. 42.
Uma teoria científica, após ter atingido o status de paradigma, somente é considerada inválida quando existe uma alternativa disponível para substituí-la. Nenhum processo descoberto até agora pelo estudo histórico do desenvolvimento científico assemelha-se ao estereótipo metodológico da falsificação por meio da comparação direta com a natureza. (...) O juízo que leva os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente aceita baseia-se sempre em algo mais do que essa comparação da teoria com o mundo. Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro, e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua.
Thomas Kuhn. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Editora Perspectiva S.A., 1998, p. 108 (com daptações).
A propósito dos trechos mostrados no texto CE-IV e das filosofias da ciência de Thomas Kuhn e de Karl Popper, julgue os itens de 78 a 81.
78 - Não há diferença entre as filosofias de Popper e de Kuhn no que se refere às relações entre as teorias científicas e a experiência.
79 - Popper desconsidera a verificabilidade como critério para demarcação entre ciência empírica e o que não é ciência.
80 - A rejeição de uma teoria, segundo o pensamento de Kuhn, não necessariamente envolve apenas uma comparação direta da teoria com a natureza.
81 - A Teoria da Gravitação de Einstein não pode ser caracterizada como um momento de ciência revolucionária, segundo Kuhn, pois ainda se consideram nessa teoria, conceitos como o de espaço e de tempo.
A propósito da filosofia de Auguste Comte, julgue os itens 82 e 83.
82 - Comte afirma que existe uma hierarquia nas ciências - da matemática à sociologia -, todas elas positivas, ou seja, seguem leis rígidas e determinadas.
83 - Comte não pretende abolir a metafísica da filosofia.
No que concerne à filosofia de Immanuel Kant, julgue os itens de 84 a 86.
84 - Com o imperativo categórico, é correto afirmar que existe uma ética do dever em Kant.
85 - Segundo Kant, embora o conhecimento comece com a experiência, ele não é totalmente derivado da experiência.
86 - Kant pretendeu colocar a metafísica na trilha segura da ciência.
A respeito da filosofia de Arthur Schopenhauer e de Friedrich Nietzsche, julgue o item 87.
87 - Tanto a vontade de viver quanto a vontade de potência se fundamentam em elementos racionais.
Tomando o pragmatismo como referência, particularmente no pensamento de William James, julgue o item 88.
88 - Um racionalismo do tipo cartesiano define, para o pragmatismo, as bases das ações, dos desejos e, portanto, da verdade.
De acordo com a denominada corrente existencialista, julgue o item 89.
89 - Os conceitos de possibilidade e angústia são importantes para Soren Kierkegaard, e o conceito de existência como transcendência é importante para Martin Heidegger.
Texto CE-V - item 90
Pode-se observar como advertência segura e útil: considerada como órganon, a lógica geral é sempre uma lógica da ilusão, isto é, dialética.
Immanuel Kant. Crítica da razão pura. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 59 (com adaptações).
Tendo em vista o trecho acima e a filosofia kantiana, julgue o item a seguir.
90 - Kant faz uma crítica à dialética como lógica e propõe substituí-la por uma outra lógica, a transcendental, que se fundamenta em certas formas humanas a priori de conhecer.
Texto CE-VI - item 91
Seria muito superficial e, sobretudo, uma atitude mental pouco grega se quiséssemos pensar que Platão e Aristóteles apenas constatam que o espanto é a causa do filosofar. (...) Que é isto - a filosofia? Somente aprendemos a conhecer e a saber quando experimentamos de que modo a filosofia é. Ela é ao modo da correspondência que se harmoniza e se põe de acordo com a voz do ser do ente.
Martin Heidegger. O que é isto - A filosofia. In: Martin Heidegger. Conferência e escritos filosóficos. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 21-3 (com adaptações).
Quanto ao trecho acima e à filosofia heideggeriana, julgue o item a seguir.
91 - Heidegger busca uma definição de filosofia que estabeleça uma relação com a linguagem.
Texto CE-VII - item 92
Todos concordarão que nem os pensamentos, nem as paixões, nem as idéias formadas pela imaginação existem sem o espírito; e não parece menos evidente que as várias sensações ou idéias impressas nos sentidos, ligadas ou combinadas de qualquer modo (...) só podem existir em um espírito que as perceba.
George Berkeley. Tratado sobre os princípios do conhecimento humano. São Paulo: Nova Cultural, 1989, p. 71 (com adaptações).
Considerando o trecho acima e a filosofia de George Berkeley, julgue o item 92.
92 - Na filosofia de Berkeley há um claro privilégio do espírito no que se refere à percepção do mundo. No entanto, não há percepção da matéria, pois esta determina o substrato do mundo.
Julgue os itens 93 e 94.
93 - O materialismo dialético, conforme concebido por Karl Marx, é, em alguma medida, uma herança das filosofias de Georg F. W. Hegel e de Heráclito de Éfeso.
94 - Há diferenças importantes entre a filosofia política de Thomas Hobbes e a de John Locke, embora ambos defendam a tese do estado natural e do pacto social.
Texto CE-VIII - item 95
A Filosofia está escrita neste grande livro que continuamente se abre perante nossos olhos (isto é, o universo), que não se pode compreender antes de entender a língua e conhecer os caracteres com os quais está escrito. Ele está escrito em língua matemática, os caracteres são triângulos, circunferências e outras figuras geométricas, sem cujos meios é impossível entender humanamente as palavras; sem eles nós vagamos perdidos dentro de um obscuro labirinto.
Galileu Galilei. O ensaiador.
Tendo em vista as concepções de Galileu Galilei, apresentadas no texto CE-VIII, julgue o item 95.
95 - Não há elementos metafísicos no pensamento de Galileu acerca dos fundamentos da natureza, pois se trata de um cientista que busca determinar teorias científicas.
Texto CE-IX - itens de 96 a 117
Cibercultura - crítica da substituição
Uma crítica por vezes mal fundamentada e freqüentemente abusiva da técnica inibe o envolvimento de cidadãos, criadores, poderes públicos e empreendedores em procedimentos favoráveis ao progresso humano. Essas restrições, infelizmente, deixam o campo livre para projetos que visam apenas o lucro e o poder, projetos que não se deixam restringir por nenhuma crítica intelectual, social ou cultural. É por isso que eu gostaria de analisar alguns dos argumentos equivocados da crítica. Sobretudo, que é um erro pensar que o virtual substitui o real, ou que as telecomunicações e a telepresença vão pura e simplesmente substituir os deslocamentos físicos e os contatos diretos. A perspectiva da substituição negligencia a análise das práticas sociais efetivas e parece cega à abertura de novos planos de existência, que são acrescentados aos dispositivos anteriores ou os tornam complexos em vez de substituí-los.
Frente à rápida ascensão de um fenômeno mundial, desestabilizador, que coloca novamente em questão várias posições adquiridas, hábitos e representações, parece-me que meu papel enquanto pensador, especialista ou professor certamente não é ir no sentido da corrente mais forte e instigar as angústias e os ressentimentos das pessoas ou do público. O que aparentemente não é a opção escolhida por diversos intelectuais que se dizem "críticos". A lucidez é indispensável, mas é precisamente essa exigência que nos impõe o reconhecimento de que a emergência da cibercultura é um fenômeno ao mesmo tempo irreversível e parcialmente indeterminado. Em vez de me amedrontar, insistindo nos aspectos minoritários (a cibercriminalidade, por exemplo), parciais (o ciberespaço a serviço da globalização capitalista, da hegemonia americana, de uma nova classe dominante) ou mal compreendidos (o virtual que supostamente substitui o real, o espaço físico ameaçado de desaparecimento), prefiro realçar as coisas qualitativamente novas que o movimento da cibercultura faz emergir, bem como as oportunidades que ele oferece ao desenvolvimento humano. O pavor não faz pensar. Denunciar e condenar algo que visivelmente carrega uma parte importante do futuro humano não ajuda a fazer escolhas responsáveis.
A fim de evitar preocupações legítimas, tenho que dedicar algumas linhas para refutar os argumentos mais difundidos emitidos por nossos "intelectuais críticos". Uma das idéias mais errôneas, e talvez a que tem vida mais longa, representa a substituição pura e simples do antigo pelo novo, do natural pelo técnico ou do virtual pelo real. Por exemplo, tanto o público culto como os gestores econômicos e políticos temem que a ascensão da comunicação pelo ciberespaço venha a substituir o contato humano direto.
É muito raro que um novo modo de comunicação ou de expressão suplante completamente os anteriores. Fala-se menos desde que a escrita foi inventada? Claro que não. Contudo, a função da palavra viva mudou, uma parte de suas missões nas culturas puramente orais tem sido preenchida pela escrita: transmissão dos conhecimentos e das narrativas, estabelecimentos de contratos, realização dos principais atos rituais ou sociais etc. Novos estilos de conhecimento (o conhecimento "teórico", por exemplo) e novos gêneros (o código de leis, o romance etc.) surgiram. A escrita não fez com que a palavra desaparecesse, ela tornou complexo e reorganizou o sistema da comunicação e da memória social.
A fotografia substituiu a pintura? Não, ainda há pintores ativos. As pessoas continuam, mais do que nunca, a visitar museus, exposições e galerias, compram as obras de artistas para pendurá-las em casa. Em contrapartida, é verdade que os pintores, os desenhistas, os gravadores, os escultores não são mais - como foram até o século XIX - os únicos produtores de imagens. Como a ecologia do ícone mudou, os pintores tiveram que reinventar a pintura - do impressionismo ao neo-expressionismo, passando pela abstração e pela arte conceitual - para que ela conquistasse um lugar original, uma função insubstituível no novo ambiente criado pelos processos industriais de produção e reprodução de imagens.
O cinema substituiu o teatro? De forma nenhuma. O cinema é um gênero autônomo, com matéria própria, a história agitada de suas regras e seus códigos. E continua havendo autores, artistas, salas e espectadores para o teatro.
Pierre Lévy. Crítica da substituição. In: Cibercultura. São Paulo: Editora 34, v. XV, 1999, p. 211-3 (com adaptações).
Com relação às idéias do texto CE-IX, julgue os itens de 96 a 102.
96 - O texto apresenta a tese de que a crítica, ainda que, às vezes, mal fundamentada ou mesmo exagerada, pode favorecer o envolvimento criativo de vários setores sociais com o desenvolvimento tecnológico.
97 - O texto sugere que o aparecimento de variadas tecnologias, ao longo da história, propiciou condições materiais para a geração de novas formas de conhecimento.
98 - O texto sustenta a tese de que não é raro uma nova tecnologia superar os modos de comunicação e de expressão anteriores.
99 - O texto afirma que o papel de críticos, pensadores, especialistas e professores em relação aos novos fenômenos tecnológicos é o de denunciar o potencial negativo dos artefatos humanos, alertando a população para os perigos e os interesses por detrás das novas invenções.
100 - Para o autor, enquanto pensador e professor, seu papel é ser sensível aos temores da maioria e buscar denunciar os aspectos negativos das novas tecnologias da comunicação e expressão.
101 - O termo "cibercultura" é um neologismo empregado no texto para abarcar o conjunto das técnicas materiais e intelectuais, das práticas e atitudes, dos modos de pensamentos e valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço, isto é, da rede ou Web.
102 - O termo "crítica", associado aos intelectuais com posições diferentes das do autor, é utilizado no texto como sinônimo de atitude de recepção favorável e otimista em relação aos novos fenômenos tecnológicos e às múltiplas relações sociais que eles geram.
Texto CE-X - itens de 103 a 115
O pensamento crítico, que não se detém nem mesmo diante do progresso, exige hoje que se tome partido pelos últimos resíduos de liberdade, pelas tendências ainda existentes a uma humanidade real, ainda que pareçam impotentes em face da grande marcha da história.
Theodor Adorno e Max Horkheimer. Dialética do esclarecimento. 2.ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1985, p. 9 (com adaptações).
Com relação aos termos e conceitos utilizados nos textos CE-IX e CE-X, julgue os itens de 103 a 115.
103 - Com a expressão teoria crítica, nomeia-se uma concepção filosófica desenvolvida pelos intelectuais da Escola de Frankfurt, no século XX, para designar a tarefa de vigilância do pensamento crítico em favor da emancipação humana e contra a barbárie, onde quer que ela possa se manifestar.
104 - O termo crítica foi utilizado por Immanuel Kant, no século XVIII, com referência ao esforço filosófico de esclarecimento das condições de possibilidade do uso da razão humana para conhecer, pensar e agir.
105 - A palavra progresso, utilizada nos textos para fazer referência à emergência de recursos tecnológicos favoráveis ao desenvolvimento social, nomeia um conceito ligado ao antigo ideal grego de desenvolvimento e aperfeiçoamento, linear e contínuo, em uma certa direção, das forças produtivas, cognitivas e valorativas da sociedade.
106 - O texto CE-IX se refere à arte conceitual. Na filosofia, o termo conceito pode ter, pelo menos, duas origens. Na primeira, empírica, ocorre um processo de abstração a partir da experiência (Locke); na segunda, racional ou a priori, têm-se as categorias do entendimento de Kant ou as idéias inatas de Descartes.
107 - O conceito é uma das unidades de trabalho filosófico. Pode-se definir a filosofia, segundo Wittgenstein, como a arte de fabricar, produzir e criar conceitos sempre novos. Segundo ele, só a filosofia produz conceitos.
108 - O termo arte, no seu sentido mais amplo e original, significa técnica, isto é, designa os procedimentos normativos que regulam todos os campos; indica os procedimentos ordenados (ou seja, organizados por regras) de qualquer atividade humana. Por outro lado, os problemas relativos às chamadas belas artes e a seu objeto específico cabem, hoje, ao domínio da estética.
109 - Segundo Aristóteles, a arte é produtiva enquanto a ação não é. O termo grego poiético designa o sentido produtivo e criativo do fazer humano enquanto técnica, diferentemente de prático, relativo ao domínio político.
110 - Segundo F. Schiller, poeta e erudito alemão, a educação estética do homem é a melhor forma de prepará-lo para a vida da investigação (ciência) e a vida em sociedade (política), uma vez que a estética é o modo mais sensato de desenvolver o temperamento e o caráter distinto que a humanidade apresenta e de exercitar o seu convívio por meio do cultivo do gosto, assim como articular da melhor forma possível a sensibilidade e o entendimento humano em busca da verdade.
111 - O termo função, empregado em diversos momentos no texto CE-IX, é uma categoria de análise derivada da matemática e utilizada de modo exato nas ciências humanas e naturais, uma vez que pode explicar a realidade em termos de relações entre meios e fins, em que a função é aquilo que corresponde ao meio, que pode variar para preencher o percurso até determinados fins.
112 - O autor do texto IX, no final do segundo parágrafo, refere-se a escolhas responsáveis para o futuro, em relação à tecnologia. Em filosofia, escolha e responsabilidade são temas associados mais ao debate sobre o dever moral e político que ao debate sobre a liberdade.
113 - A noção de escolha sempre foi amplamente utilizada pelos filósofos, em especial na discussão sobre o problema da liberdade, mas não foi analisada com freqüência. A partir de Kierkegaard, a filosofia da existência enfatizou o valor da escolha no que concerne à própria personalidade do homem ou à sua existência, considerando a escolha sobretudo sob o ângulo da sua própria possibilidade, ou seja, como escolha da escolha. Por outro lado, Sartre insistiu na perfeita arbitrariedade da escolha e identificou escolha com consciência; reconheceu, por isso, um ato de escolha em todo ato de consciência.
114 - O autor do texto CE-IX afirma, no primeiro parágrafo, que a crítica dos intelectuais às novas tecnologias dificulta a percepção da "abertura de novos planos de existência". A existência é um termo utilizado aqui no sentido clássico da metafísica, um ser cuja essência é permanente e imutável.
115 - A fenomenologia é um movimento filosófico do século XX, iniciado por F. Hegel em A Fenomenologia do Espírito, livro em que aparece sua proposta de uma volta às coisas mesmas. Nessa obra, busca superar os dualismos e mostrar aquilo que, na maior parte das vezes, não se manifesta, é capaz de expressar o sentido e o fundamento daquilo que se manifesta fenomenicamente, ou seja, a intencionalidade da
consciência.
Quanto aos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCN) e considerando o texto CE-IX, julgue os itens 116 e 117.
116 - O autor do texto CE-IX assume sua própria responsabilidade como pensador e professor diante das novas gerações e visando as escolhas responsáveis para o futuro. Também os PCN, especialmente no que se refere à filosofia, tratam da responsabilidade do professor dessa disciplina na formação de novas gerações críticas, criativas desde que considerem o atual estado de coisas no desenvolvimento social e tecnológico.
117 - Os PCN destacam as tecnologias associadas a cada área do saber, em que foram organizados os conhecimentos. No caso da área de ciências humanas e suas tecnologias, em que a filosofia é apresentada como um conhecimento escolar, é recomendado, por questões de maturidade dos alunos, que se cultivem exclusivamente as competências e as habilidades associadas à leitura e à escrita de textos filosóficos.
Texto CE-XI - itens 118 e 119
Ler e escrever são tarefas da escola, questões para todas as áreas, uma vez que são habilidades indispensáveis para a formação de um estudante, o que é responsabilidade da escola. Ensinar é dar condições ao aluno para que ele se aproprie do conhecimento historicamente construído e se insira nessa construção como produtor de conhecimento. Ensinar é ensinar a ler para que o aluno se torne capaz dessa apropriação, pois o conhecimento acumulado já está escrito em livros, revistas, relatórios, arquivos etc. Ensinar é ensinar a escrever porque a reflexão sobre a produção de conhecimentos se expressa por escrito.
Iara C. B. Neves, et al (org.) Ler e escrever: compromisso de todas as áreas. 4.ª ed. Editora da UFRGS, 2001, p. 15 (com adaptações).
Com relação ao tema tratado no texto CE-XI, julgue os itens 118 e 119.
118 - Se os autores do texto têm razão, então a filosofia não precisa refletir sobre o que significa ler e escrever filosoficamente, uma vez que todas as áreas já estão ocupadas com essa tarefa. Desse modo, o professor de filosofia pode ocupar-se de temas mais específicos em seu planejamento.
119 - Ler e escrever, atividades apropriadas reflexivamente, são consideradas pelos PCN competências e habilidades que o professor de filosofia deve considerar em seu planejamento. No entanto, o debate, isto é, a capacidade de argumentar e defender seu ponto de vista oralmente e mesmo de mudar de posição diante de bons argumentos, não é uma prática recomendada para a sala de aula.
Julgue os itens de 120 a 123.
120 - A idéia norteadora de que uma efetiva educação democrática repousa em princípios filosóficos libertários e críticos está na base das teorias e das propostas para a educação de pensadores como John Dewey e Paulo Freire.
121 - Civitas é o termo latino do qual deriva a palavra cidade, isto é, a comunidade política organizada que possui um mínimo de autonomia. O cidadão é aquele que usufrui dos direitos e cumpre os deveres definidos pelas leis e pelos costumes da cidade. A cidadania é, antes de mais nada, o resultado de uma integração social, de modo que civilizar significa, em primeiro lugar, tornar cidadão.
122 - A diferença fundamental entre a democracia ateniense antiga e as atuais democracias de massa ou populares, sejam elas socialistas ou liberais, não é tanto a separação entre os poderes ou mesmo a participação direta que a primeira permitia em contraposição ao modo representativo atual. É, principalmente, a forma de governo, exercida pelo povo por meio de um único representante, legitimamente escolhido pelo voto.
123 - Um tema importante do debate político contemporâneo consiste na reflexão sobre os direitos civis e humanos, em uma tentativa de fortalecer as garantias jurídicas nacionais e internacionais dos indivíduos em relação ao poder acumulado pela máquina dos Estados nacionais no último século.
Texto CE-XII - itens 124 e 125
A filosofia na educação
É fundamental modificar o conteúdo do currículo, tanto na escola quanto em nível de graduação, de tal forma que se venha a estimular a imaginação dos alunos. A fim de se conseguir isto, é necessário, enquanto ensinamos os estudantes sobre a forma como as coisas são, ensiná-los, também, a sempre levantarem a questão de até que ponto as coisas poderiam ser, ou poderiam ter sido diferentes; quando estivermos ensinando-os no âmbito de uma área específica, digamos, biologia ou física, ensiná-los sempre a relacionar esta área a outras; quando estivermos ensinando-os sobre instituições existentes, sempre proporcionar-lhes alguma idéia de como tais instituições surgiram e de quais instituições alternativas poderiam ter existido. Em poucas palavras, é fundamental que eles sejam estimulados a se distanciarem de suas matérias, mesmo enquanto as estiverem estudando, a fim de adotarem uma atitude crítica, analítica e histórica perante o que quer que lhes seja ensinado. Fazer isto é, precisamente, a função de uma filosofia crítica.
Mary Warnock. Os usos da Filosofia. Campinas: Papirus, 1994, p.167-8 (com adaptações).
Com relação ao texto CE-XII, julgue os itens 124 e 125.
124 - O texto sugere reformas curriculares para as escolas e os cursos de graduação, de forma a cultivar a atitude filosófica básica dos professores de todas as áreas de ensino.
125 - O exercício orientado da imaginação para o exame de alternativas, isto é, de possibilidades entre o que é, o que foi e o que poderia ser, bem como a relação entre os diferentes tipos de conhecimentos, por meio do distanciamento crítico, analítico e histórico em todas as áreas do saber, constituem, segundo o texto, uma contribuição da filosofia para a educação escolar e universitária.
GABARITO:
59C 60E 61E 62C 63E 64E 65E 66C 67C 68E 69E
70C 71E 72E 73C 74C 75C 76E 77C 78E 79C
80C 81E 82C 83E 84C 85C 86C 87E 88E 89C
90C 91C 92E 93C 94C 95E 96E 97C 98E 99E
100E 101C 102E 103C 104C 105E 106C 107E 108C 109C
110C 111E 112E 113X 114E 115E 116C 117E 118E 119E
120C 121C 122E 123C 124C 125C
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