Quando a minha mãe levantou a mão...
Filosofia

Quando a minha mãe levantou a mão...


Eu em Gondarém, Portugal, Agosto 2008
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Querida Sofia,
Quando a minha mãe levantou a mão para fazer-me um carinho na cara, eu afastei-me. Isto aconteceu um par de vezes em Junho passado, quando ela cá esteve. A primeira vez, afastei-me por instinto. A segunda vez, era a confirmação. Eu não queria nem conseguia aceitar o carinho dela. Não conseguia aceitar um toque sequer. Afastei-me porque cresci assim. Sem nunca me terem feito carinhos na cara. Sem palavras suaves.
Quando a minha mãe levantou a mão em direcção à minha cara, fiquei sem compreender o que ela queria fazer. O que aquilo queria dizer. Por segundos, invejei todas aquelas filhas que recebem carinho das mães regularmente, que já estão habituadas, que já nem ligam a tanta demonstração de afecto. Eu nunca tive isso. Fui criada com palavras frias, com um chinelo na mão pronto a bater-me pelas coisas mais absurdas (ou não) e não sei o que é carinho materno. Não sei, tenho medo de nunca saber. Por nunca ter tido, tenho medo de nunca conseguir dar.
Quando a minha mãe levantou a mão para fazer-me um carinho na cara, eu afastei-me porque na volta pensei que vinha daí um estalo e a memória de muito sofrimento. Porque não estava habituada a essas demonstrações públicas de afecto, numa casa onde nem na intimidade reinava o amor explícito de mãe e filha. Lembrei-me que cresci com regras, com medo, com uma disciplina militar, gritos e frieza.
Quando a minha mãe levantou a mão para fazer-me um carinho na cara, eu afastei-me. E vi na minha mãe muita dor. Ela ficou magoada com o meu gesto. Com a minha reacção que rejeitava um gesto dela. Dei-me conta que em mim vivem rancores e traumatismos. Que consigo ter um coração de pedra e que isso faz-me sofrer, pois não consigo ir além disso. Dei-me conta que consigo ser carinhosa com amigos, com namorados, com primos, com irmãos, mas que não consigo ser uma pessoa calorosa com a pessoa que tem mais valor para mim. Podes acreditar em mim ou não, mas eu não detesto a minha mãe. Não tenho vontade(s) de violência quando penso nela, muito pelo contrário. Mas não tenho memória de amor. Não foi construida em mim essa memória de amor.
Por isso, em Junho, quando a minha mãe levantou a mão para fazer-me um carinho na cara, eu afastei-me. E não foi somente fisicamente.



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