Sobre os homens ou como falhar na aterr(iss)agem
Filosofia

Sobre os homens ou como falhar na aterr(iss)agem


Querida Sofia,
Foi a semana passada. Estava numa festa num barco com cinco amigas. Porque há que aproveitar os últimos resquícios de bom tempo nesta cidade, estávamos sentadas numa mesa, ao ar livre, a rir, cada uma com o seu copo, cada uma entretida com a sua conversa com a sua parceira do lado. Quando de repente chegou um homem: “so, is this table the girls’ table of the boat? What are we talking about here?”. Sinceramente, acho que é preciso ter muita coragem para abordar uma mulher, sem conhece-la de lado algum. Abordar seis de uma vez pode até ser proeza. O pior é que ele deveria ter ficado por aí. A minha primeira impressão dele foi boa, mas quando começou a apresentar-se, eu já estava de novo com os olhos fixados na minha amiga do lado para continuar a ouvir a história dela. Apenas ouvi rapidamente “I work in Amsterdam… I am just in Paris for a couple of days”. Não sei bem como aquilo aconteceu, mas quinze minutos depois, ele estava ao meu lado, a dizer “disseram-me que és Angolana… eu sou português”… ahhh! Great?
Tinha estudado em Coimbra (do I look like I care?), trabalhava com a Comissão Europeia, blablabla e falava falava FALAVA. O problema não era o facto de falar tanto. Usava alguns palavrões básicos (deve ter-se sentido à vontade por falarmos ambos a língua de Ca… Pepetela) para pontuar algumas das suas frases e não parava de buscar alento para a conversa pousando a mão no meu ombro. Lembro-me de me ter virado para uma amiga, como quem pergunta que horas são e gritar um silencioso “Save me”. De facto, solidariedade feminina existe. Levantamo-nos as seis e descemos para a sala do barco.

Pelo amor de Deus, não me digas palavrões em português enquanto não somos íntimos. E sobretudo, sobretudo, SOBRETUDO, quando não nos conhecemos de lado algum, não toques no meu ombro desnudo. Perturba-me.



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