Foi mais uma época natalícia que passou e eu sabendo que haveria de passá-la sozinha. Sozinha, leia-se, sem família. Por diversos motivos, dos mais racionais aos menos.
Fui convidada por amigos a passar a noite de dia 24 em casa com a família deles. Parecia-me o melhor dos convites. Uma estrutura familiar - mesmo que não fosse a minha - era tudo o que eu realmente precisava.
Tudo ficou combinado alguns dias antes do Natal.
No dia X, não sei o que me deu, liguei a dizer que já não queria mais ir. Que preferia ficar sozinha. Muito insistiram para eu mudar de ideias mas achei que o melhor era fazer isso mesmo. Pelas 19h, peguei no telefone, liguei para todo o mundo que conta para mim. Ou enviei mensagens. Sorri imenso. Senti - repentinamente - saudades.
Tinha decidido comer algo de light - e gozar com todos que eu sabia que iriam encher a pança e engordar 200 quilos - e ia preparar-me para ver um filme.
Até que às 22h, tocou o meu telefone. "Elite, estamos em baixo de tua casa, tens cinco minutos para preparar-te e para irmos". Não estava à espera. Não consegui dizer "não". Preparei-me, saí de casa e chuvia imenso. Corri de saltos até o carro e a tal alegria de Natal já ali morava. Falavam de toda a comida que estava pronta. Do salmão (que não como), das ostras (que não como), das gambas (que não como), do foie gras (que não como), do perú (dei graças a Deus por finalmente ouvir algo que comesse no meio daquela listona toda). Quando lá cheguei, a casa estava cheia, muitas crianças, muitos adultos, música, e de facto, muita comida. Falei com as pessoas que já conhecia, fui apresentada às outras, deram-me champagne de estômago vazio, comecei a rir demais e sem querer, dancei, comi (pão e perú, unicas coisas à mesa que a je comia), quase que adormeci no sofá, tirei fotos com uma camera profissional de fazer inveja a qualquer paparazzi (a camera era da pessoa que me acolhia, bem que gostaria de a ter levado ou acordar um dia e tê-la em casa), enfim. Uma boa noite, na qual a amizade foi o principal ingrediente.
Cheguei a casa pelas cinco da manhã, completamente partida, cansada e estoirada, chuva levezinha no cabelo que de esticadinho já começava a parecer juba (minha carapinha, ti amo bué, mas às 5h da matina, és ...), atirei-me para o sofá, mudei o status Facebook, twittei e rendi-me aos braços de morféu.
No dia seguinte, acordei no meio da tarde, inspiradíssima para ir ao cinema. Enviei SMS a amigos, achei o máximo todos responderem que "sim, queremos ir ao cinema", combinámos para as 19h mas o que eu queria era andar. Peguei em mim, nos headphones do iPhone, música alto e dei o passeio que te ando a descrever há dias. Vi os meus amigos, vi o melhor filme que vi este ano (pronto, a carta de amanhã será sobre o tal de filme, prometo) e ri mais do que imenso. Ao voltar a casa, senti-me bem, aliviada, com aquele sentimento de que tinha vivido dois dias que tinham realmente valido a pena.
Isto para também te dizer, Sofia, que não recebi presente algum. Não desembrulhei absolutamente nada, não tenho uma listona de coisas aqui por te mostrar*. Mas o que recebi foram provas de amizade que nunca poderei esquecer. Que são mais valiosas que tudo. E que não vou olhar por apenas cinco minutos e passar para o desembrulhar de outra prenda. Não. Estas amizades vão-se desembrulhando com a vida e sempre me vão dando surpresas destas. Boas surpresas. Foi... um feliz Natal.