A Elite e os seus três filhos postiços
Filosofia

A Elite e os seus três filhos postiços


Querida Sofia, 
Há exactamente um ano, um dos meus primos mais velhos instalou-se em França, com a mulher e os três filhos (três rapazes, entre os 2 e os 7 anos). Moram a uma hora de Paris. Poderíamos imaginar que estou sempre com eles, mas não é o caso, acho que nos vemos uma vez por trimestre. Quando vou à casa deles, - alias, quando venho à casa deles, porque é donde escrevo neste momento - é tão longe que não consigo voltar para minha casa e fico mesmo por aqui. Quando estou de férias, fico durante as férias inteiras. Se venho para o final de semana, fico o final de semana inteiro. Só aconteceu uma vez, ter cá vindo e ter ido para casa depois. E a razão de não vir cá mais vezes é exactamente essa. A minha vida Parisiense é super movimentada, e tudo aqui pede-me (com gosto) que abrande e que passe tempo de qualidade com a minha família.
Este final de semana está a ser um pouco diferente. O meu primo e a mulher viajaram e fiquei com os três pequenos. Sozinha. Já passei uma noite sozinha com eles, mas os pais voltaram no final da madrugada. Desta vez, breathe in, breathe out, os pais não vêm dentro de algumas horas, virão apenas amanhã. 
Hoje foi dia de compreender porque o mais novo - vamos chama-lo Chico - chora e não fala comigo. Ele não chora, grita. Berra, saltita os pés, mas não diz o que lhe doí, não diz quem lhe fez mal, não exprime o que quer. Grita, soluça, deita lágrimas, grita de novo e eu ali a olhar para ele, com a certeza que os vizinhos devem pensar que o puto está a ser torturado.
O do meio - o Pedro - é o mais calmo. Parece que não precisamos trocar muitas palavras. Quando faz algo de menos correcto, olho para ele, pergunto "tens mesmo a certeza que é assim ?", faz-me um sorriso maroto e corrige o erro no instante a seguir.
O mais velho - o João - ... já merecia um Óscar. Tudo o que lhe peço, dá direito a drama. "João, vamos comer agora" - "Ah Elite, nãoooooooo, não posso comer porque os desenhos animados ainda não acabaram e se eu não vir até o final então...". Quando finalmente o tenho à mesa "Elite, nãooooooooo, eu não posso comer isso porque depois sinto-me mal porque ...". Quando ele não acaba o prato: "Elite, nãoooooooooo, não me podes obrigar a comer, a minha mãe não me obriga, então..." e entramos sempre ali numa (não-)negociação em Francês e Português, porque nisto das línguas, já não nos safamos apenas numa - antes que me digam que é truque, queriam que escolarizassem as crianças onde para não falarem francês? - e eu sempre lhe digo o mesmo que acaba com "je ne vais pas tomber dans ton petit cinéma". 
No entanto, apesar de ser oficial e de não esconder o facto de não querer (e poder) ter filhos, acho que tenho uma paciência dos diabos quando me apetece. Quando começam a lutar por brinquedos comuns, tento ser justa. Hoje, fiquei ali a negociar - eu!!!!!! - durante 15 minutos sobre a ordem de quem iria tomar banho quando, e finalmente tudo correu bem. Comeram em segundos, ficaram a ver bonecos - eu fiquei a ver séries e a SMSar - e a pensar que por um lado, isto não é assim tão difícil - ou então a minha prima educou-os bem! - e por outro, sei que amanhã volto para a minha vida de solteira sem responsabilidade deste tipo e isso faz com que as coisas sejam ligeiras.
Quando o Pedro abriu alguns dias depois do Natal, um livro de geografia com todos os países do mundo, mostrei-lhe a bandeira de Angola e ele sorriu, mas não sabia dizer-me que era Angola. Passamos os países um por um, e quando abrimos a página de Espanha, ele gritou "a bandeira do Alonso!". Finlândia: "a bandeira do Raikkonen!". Fiz um último teste, porque não estava bem a compreender como é que uma criança de cinco anos tinha uma memoria dos países do mundo pelos pilotos de Formula 1 (o pai deles, meu primo, tal como o meu pai, é addict em Formula 1... eu também já fui... quando tinha TV), pus a bandeira do Reino-Unido: "a bandeira do Hamilton" gritou ele. Fechei o livro. Tinha um génio confirmado comigo.
Quando o Chico me saltou aos braços hoje dizendo: "agora sou eu a tomar banho! adoro tomar banho!", fiquei tão enternecida. E mais enternecida fiquei quando veio para os meus braços, a dizer: "quero ir para a cama" e encostando a carinha ao meu ombro. Oh loucura.
São uns queridos. Umas riquezinhas. E estão neste momento a dormir depois de saltarem nas camas durante uma hora. Eu? estou exausta. 
Ah, ia esquecendo... como bons amantes de Formula 1, os três, fizeram uma obra de arte. Agora é ver o sorriso da mãe deles quando ela vir o que desenharam. Com feltro. Na alcatifa! Uma pista de F1, starting blocks incluídos. Quem vai limpar isto?





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