Filosofia
But nowadays, who the heck is Ælitis anyway?
Querida Sofia,
Olha à tua volta. Não apenas para o teu PC ou o teu MAC, olha mesmo ao teu redor. Olha para as pessoas ao teu lado no trabalho. Olha pela janela, e vê aquela paisagem habitual. Olha para a tua mesa. Olha para a mobília da tua casa. Que escolheste com tanto gosto ou na medida das tuas capacidades financeiras. Olha para a tua agenda. Os lugares onde irás esta noite ou durante o final de semana. Com os teus. Que seja a tua família ou os teus amigos. As pessoas de quem gostas, com quem tudo partilhas. As tuas coisas, o teu conforto, o teu porto seguro.
Fecha os olhos.
Abre de novo.
E tudo desapareceu. Não ter nada do passado, ter de recomeçar do zero. Quem serias? A mesma Sofia? A tentar ter tudo de novo? Ou verias uma oportunidade para recomeçar, com coisas novas, com pessoas novas? Sentir-te-ias feliz por ter de ser fénix, forçadamente? Como lidarias com tal mudança?
Sinto que é este o exercício que o ano de 2012 está a pedir de mim. Não me tinha dado conta até esta manhã, mas fechei os olhos, e dei conta que “perdi” tudo. Ganhei novas coisas, é verdade, mas a minha realidade foi forçada a mudar. As minhas coisas não são as mesmas. Por vezes, agarro-me ao pouco que me resta do passado, no entanto agradeço as novas oportunidades que têm surgido, que não seriam iguais às que (não) teria tido se tivesse ficado em França. Para resumir, sou muito feliz aqui. Sou feliz quando estou no elevador do edifício onde trabalho, de manhã, até o momento no qual saio do trabalho de noite.
Este final de semana, a minha melhor amiga foi à minha casa. Trazia uma pizza na mão, e começamos a ver juntas a série Girls enquanto comíamos gelado. Foi o mais próximo que tive da minha vida. Aquela que era a minha. O resto, é tudo ersatz. Estou a tentar reconstruir-me e nem sempre me reconheço. Quando a minha mãe me telefona de noite para me dizer para ir para a cama ou quando o meu pai me viu a ver um documentário bem gráfico sobre o serial killer Zodiac e disse “não vejas isso, é violento”, pergunto-me se eles também não sabem quem eu sou. Ou que já tenho 25 anos. E nem quero ter tempo para lhes fazer ver isso, porque no fundo, não tenho tempo para isso.
Pelo facto de nunca (nunca, nunca) estar sozinha – que saudades – sinto-me perdida, com grande necessidade de me reencontrar, constantemente insatisfeita no que não seja profissional. Agarro-me aos amigos antigos, que estão cá e a grande maioria que está fora, dispensei há (dois) meses o “novo” namorado porque não queria ter tempo para ele se não o tenho para mim, tornei-me num monstro completamente insensível para os outros e estou-me pouco lixando para quem magoo no processo.
Quero e preciso urgentemente de saber quem é esta nova Ælitis, o que ela realmente quer da vida, quem é que ela realmente precisa ao seu lado, quais são as novas coisas materiais que a farão sentir realmente em casa. Por enquanto, estou em standby. Com momentos de lucidez apenas quando estou a trabalhar, fazendo coisas que têm um impacto positivo na minha empresa e na sociedade na qual vivo.
Este standby é, no fundo, uma dádiva de Deus, que nem todos têm acesso, e ao mesmo tempo, um presente envenenado, ao qual não sei bem como reagir. Apenas sei que quero que a vida saiba de novo a cappuccino para mim.
Dear Sophie,
Look around you. Not only to your PC or your MAC, but really LOOK around yourself. Look at the people by your side at work. Look through the window, and observe the usual landscape you must now be used to. Look at your desk. Look at the furniture that surrounds you in your home. Furniture that you have chosen according to your taste and/or financial means. Look at your calendar. Look at the place you are going to tonight or the places you will visit this weekend. With your people. Your family. Your friends. People you like, with whom you share everything. Your things, your comfort, your support system.
Close your eyes.
Open them again.
Everything is gone. Anything that used to belong to you does not exist anymore and you have to start over. Who would you be if this happened to you? The same Sofia? Would you try to have everything back again? Or would you seize the opportunity to start all over again, with new things and new people? Would you feel satisfied for having to become Phoenix even if you did not ask to? How would you deal with the change?
I think this is what the year of 2012 is asking from me. I had not realized it until this morning, but I closed my eyes and realized I "lost" everything. I won new things, that is a fact, but my reality was changed and I never asked for such a change. My things are not the same. Sometimes I hold on to my things from the past, and at the same time, I am thankful for the new opportunities I have stumbled upon lately, that are different to the ones I would (not) have by staying in France. To summarise it all, I am happy here. I am happy when I am on the lift to work in the morning until the moment I have to leave work at night.
This weekend, my best friend went to my place with a pizza in hand. We started watching the series Girls together while eating ice cream. It was the closest thing I had to my past. That life that used to me mine. Everything else is just an ersatz. I am trying to rebuild myself as I do not always recognise this person I became. When my mother calls me at night to remind me I have to go to bed or when my father told me I should not watch a very graphic documentary on the Zodiac murders saying "you should not watch that, it's violent", I just ask myself who the fuck do they think they are talking to and how old is that person they think I am. Surely not 25. But I do not care to explain such a thing to them, I have no time.
The fact that I am never (never, never) alone - and I miss it - makes me feel lost, with a more intense need to find myself again, to seize the body and soul of my own persona and this makes me feel incredibly unsatisfied on the non-professional level. I hold on tight to my older friends - the few ones here and the bigger lot that I had to leave behind - I dished the "new" boyfriend a couple of months ago because I did not want to give him a second of my time and attention, I turned into an insensitive monster towards other people and care very little of who I am hurting in the process.
I want and need urgently to know who is this new Ælitis, what she really wants from life, who she really needs by her side, what are the material things that will make her feel like at home. In the meantime, I am on standby. With some lucid moments when I am at work, doing meaningful things, with impact on a company and an entire society.
This standby is both a gift from God, which not many people can have at restarting their lives, and a poisoned gift, to which I still do not know exactly how to react to. I just know for a fact that I just want life to taste like cappuccino again to me.
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