I am not the daughter my parents wanted to have.
Filosofia

I am not the daughter my parents wanted to have.


Querida Sofia, 
Já escrevi bastante sobre os meus pais no passado aqui no blog. Escrevia o quanto o meu pai era o melhor. O quanto a minha mãe não o era. Não lamento as palavras que usei, mas se tivesse de falar deles hoje, não escreveria da mesma maneira. Os anos passaram e não voltei a escrever sobre eles. 
Tinha algumas expectativas quando voltei para Angola. Pensei que, por mágica, iriamos ser mais unidos. Acho que aos 28 anos de idade, até que não estou muito mal. Sou responsável, independente, não tive um filho antes de acabar os estudos, não andei nas drogas e até obtive três diplomas antes dos 25 anos. Sou a filha que qualquer pai gostaria de ter. Qualquer pai excepto os meus pais. As pessoas dizem que não devemos comparar situações diferentes, mas não consigo fazer de outra forma. Tenho uma inveja incomensurável das pessoas que são muito chegadas aos seus pais. Tenho amigos que saem para almoçar com os pais perto do trabalho, que podem ligar a qualquer hora para pedir um favor (sem ouvir uma retaliação), que amam e têm saudades de passar tempo com os seus pais. Não posso entrar em muitos detalhes, mas sinto-me muito abandonada, emocionalmente falando, pelos meus pais. Eles não são o meu porto seguro. Não são as duas primeiras pessoas a quem eu ligo quando vivo um sucesso ou quando vivo um fracasso. Eles garantiram, durante toda a vida (e enquanto fui dependente), que eu teria os recursos materiais e financeiros para chegar onde cheguei hoje, com uma educação e um nível de vida sólidos, mas são raros os momentos doces e ternurentos que consigo lembrar da parte deles. Cheguei a um ponto que não sei se estou a ser ou não objectiva. Os meus pais não me telefonam para saber como estou. Como correu o meu dia ou a minha semana. Se gosto do meu trabalho. Se gostei da minha última viagem. Se tenho um namorado. Se estou feliz. Se quero almoçar com eles. Quando vou ter com o meu pai, ele fica com os olhos presos à televisão e vai dizendo coisas que nada têm a ver comigo. Se lhe contar algo sobre a minha vida, ele vai reverter a conversa para ele, e falar de algo que ele fez ou conquistou algures nos anos 1970. Vou rebolar os olhos e prometer-me que nunca mais lhe conto nada. Este homem fez e sacrificou muito da sua vida por mim. Nunca esquecerei aquele dia, há alguns anos, em que ele estava doente, mas mesmo assim se levantou para levar-me ao trabalho, porque o motorista estava atrasado e eu não sei conduzir. Ele é o tipo de pai que vai fazer isso. É a maneira dele de expressar algum afecto. Acho eu. Mas mesmo assim, não basta para mim. Não basta porque isso tudo repousa num manto de coisas negativas, que pesam muito no meu coração. A minha mãe, ela, deveria ser Judia. Sem querer ofender ninguém, mas ela sabe fazer um ataque de culpa nos filhos digno de qualquer mãe Judia. No dia em que lhe disse, com muito orgulho, que ia ter a minha própria casa, confesso que esperei que ela me desse os parabéns. Que ficasse orgulhosa de mim. Respondeu-me apenas “então vou mesmo viver sozinha? Tive três filhos para viver sozinha? Parece justo…” Não vivo com a minha mãe desde os (meus) 14 anos. Não sei exactamente o que ela estava à espera. Mas disse-lhe nesse mesmo instante que já tinha compreendido que não era a filha que ela sonhara, e que sentia muito que ela sentisse isso. Ela não discordou. Sabemos ambas que eu tenho razão. Por razões que não posso descrever aqui e agora, os meus pais nunca me perguntaram se eu tenho um namorado. Se me quero casar. Se quero ter filhos. Se me sinto sozinha. Mais facilmente perguntarão aos meus outros irmãos. Mas a mim, não. Essa é uma das maiores e mais pesadas dores da minha vida. Os meus pais queixam-se muito que não quero saber deles. A verdade é que apenas lhes dou o que sinto que deles recebo. E se sentem que sou fria, epa, foram eles que me educaram a dado momento, então eles aguentarão viver com um espelho das suas próprias acções. Há algum tempo, a minha mãe fez um jantar para mim e os meus irmãos. Tinha bacalhau com grão e salada à mesa. Antes que todos se servissem, deu-me uma travessa diferente. Bacalhau sem grão e feijão verde cozido. Disse-me “sei que não gostas de grão com o teu bacalhau e que não comes salada crua de noite, então fiz isto para ti”. Agradeci simplesmente. Aqui dentro, eu estava um caco. Queria abraçar a minha mãe. Mas não o fiz. Ela não tinha esquecido que efectivamente, não como bacalhau com grão (fico ali horas a separar no prato…) e não como salada crua de noite, preferindo sopas e legumes cozidos depois do sol se por. Foi a primeira vez, em meses, que me senti ser “a filha de alguém”. Alguém que sabe o que gosto ou não, que se preocupa. Senti-me tão bem. Mas esse sentimento rapidamente se esvanesceu. Cá dentro, algo em mim já desistiu de os convencer do contrário, porque eu realmente não sou a filha que eles gostariam de ter tido.



Dear Sophie, 
I have spent a few years writing on this blog about my parents. I used to glorify my father. I used to turn my mother into a villain. I do not regret any of the words I have used to talk about both of them, but I do not see myself writing in such way again. Years have gone by, and I haven’t written about them in a long time. I truly had different expectations when coming back to Angola. I thought we would get magically closer. I think that at 28 years of age, I have turned fine. I am a responsible and financially independent young woman. I didn’t have a kid before completing my studies, I did not do drugs and I have successfully completed three degrees before turning 25. I am the daughter anyone would want to have. Anyone except for my parents. People say I should not compare, but I am deeply jealous of people who are close to their parents. I have friends who have lunch with their parents close to work, who can call to ask for a favour at any time (without retaliation), who love and enjoy spending time with their parents. Who miss them. I cannot get into detail, but I feel very emotionally abandoned by my parents. They are not my safe haven, my best friends, the first two people to whom I talk to when I want to share success or failure. They made sure, all their life (and while I was dependent on them), that I would have the financial and material means to get where I am today, with a powerful education and lifestyle, but I cannot recall having sweet moments with them. And I do not distinguish if I am clouding my judgment or even embellishing what it is. My parents do not call me to ask me if I am okay. If I like my job. If I enjoyed my latest trip. If I have a boyfriend. If I am happy. To grab lunch together. When I go to my dad’s, he stares at the TV and rumbles things. I will tell him about my life, he will switch the conversation to something that he did in the 70s, I will roll my eyes and promise in my heart I will never go back to see him. This man has done and sacrificed a lot for me. I will never forget that there was this day, a few years ago, when he was feeling very sick, but took me to work, because I don’t drive and my driver hadn’t shown up. He’s the kind of father that will do that. It’s his way of expressing his love. I guess. But it just isn’t enough, because what is negative doesn’t compensate those moments of parental selflessness. My mother should be Jewish. I am sorry, but she nails the Jewish Mother Guilt Trip to perfection. When I told her, proudly, that I was going to have my own house, I expected her to congratulate me. To be proud of me. She told me “so, am I going to live alone? Did I have three kids to live alone? That sounds fair…”. I haven’t lived with her since I was 14. I don’t know what she expected. But as I told her that day, I reassured her I understood I wasn’t the daughter she wanted to have and I felt sorry for her. She didn’t even disagree. She knows, deep inside, that I am right. For reasons I cannot dwell into, my parents never asked me if I have a boyfriend. If I want to get married. If I want kids. If I feel alone. They will ask my other siblings. Maybe. But not me. That is one of the greatest pains of my life. My parents complain that I don’t care, but truth is that I can only give them what I feel I am given. And if they feel I am cold, well, they raised me at some point, so they will manage to live this way, with a constant mirror of their own actions. A few days ago, my mother made dinner. She has codfish with chickpeas and salad for everybody. Then she gave me another dish of codfish, without chickpeas and a bowl of boiled green beans. “I know you don’t like chickpeas on your codfish. And that you don’t eat raw salad at night, so I have those cooked veggies for you”. I said thank you, but deep inside, I was a wreck. I wanted to hug her, and say thank you, and ask “you didn’t forget I don’t eat chickpeas with codfish? And that I don’t eat raw vegetables at night?”. I didn’t do anything. I didn’t acknowledge the moment. But it was the first time, in a while, that I felt like someone’s daughter. And it fell good. But I the feeling didn’t last and it never will. Deep inside, I already gave up, because I am not the daughter my parents really wanted to have.





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