Coisas de Paris que (não) me vão fazer falta | Things I will (not) miss from Paris
Filosofia

Coisas de Paris que (não) me vão fazer falta | Things I will (not) miss from Paris


Querida Sofia, 
Desde que meti (ou me foi metido) na cabeça que me ia embora da Cidade Luz, já não aguento mais estar aqui. Não tenho sequer feito turismo porque nada mais me interessa. Ando a contar desenfreadamente os dias que me faltam até poder recomeçar a minha vida a 7 000 quilómetros daqui. Não me tem apetecido fazer nada a não ser ficar no sossego da minha casa a curtir os últimos dias sozinha que tenho pela frente. Porque sei que em Angola, nunca mais vou estar um dia sozinha. Isso tens os seus lados bons (Natal, és tu?) e os seus lados maus (PRECISO estar sozinha, senão sinto-me enclausurada)(credo, nunca hei-de casar se continuar assim).
Estava agora a falar com uma amiga sobre esta mudança de vida que vem aí pela frente e daí ter decidido contar-te o que me vai fazer falta (ou não) de Paris.

Coisas que me vão fazer falta:
1/Ter acesso a tudo rapidamente sem preços exorbitantes. Falo principalmente de comida, medicamentos e roupa... Temos de tudo em Luanda, mas é tudo TÃO caro...
2/Transportes públicos tão bem organizados e andar a pé QB.;
3/Segurança (usar o telemóvel na rua, o computar numa esplanada... em Angola não é bem assim...);
4/Quando os meus amigos queriam visitar-me, bastava comprar um bilhete e vir, sem preocupações de visto/distância e tal;
5/Conseguir tudo por mim própria: os meus contactos, os diferentes estágios e trabalhos que fiz, foram apenas fruto do meu trabalho, contactos e esforço;
6/Ir a Roland Garros todos os anos;
7/As quatro estações: em Angola, é sol e calor durante 300 dias por ano e só Deus sabe o quanto eu não gosto nem de calor nem de sol.

Coisas que não me vão fazer falta:
1/Quando os meus amigos queriam visitar-me, bastava comprar um bilhete e vir, sem preocupações de visto/distância e tal - pois, tem o bom lado e o mau. Muitas vezes a fronteira entre o "quero muito ver-te, Elite!" e o "estou a vir, mas é só pela casa gratuita e pela cidade" esteve ali muito ténue. Apenas quem gosta de MIM o suficiente é que no futuro aguentará a tortura de obter um visto e apanhar um avião long-courrier para Angola.
2/Não poder ter uma empregada todos os dias e um motorista: não me atirem pedras, mas em Angola, todo o mundo tem e vou gostar de ter de novo.
3/Não ter os meus pais, irmãos e irmãs por perto. Vivi nos passados dez anos sem eles, mas pelo sim, pelo não, se me acontecesse algo aqui, seria possível ninguém se dar conta. E esse sempre foi o meu maior medo. Tenho  uma (duas) irmã(s) + uma sobrinha e um sobrinho que nunca vi. Basta!
4/Ter de comutar com pessoas. Não sei bem como explicar o porquê disto, mas sempre achei um pouco difícil ter de falar com os meus amigos dentro de transportes públicos, é algo que me põe bastante inconfortável. Até, por vezes, evitei sair com pessoas apenas para não ter de passar por isso. Mas bom, cada um a sua paranóia e esta era a minha.
5/Acesso ilimitado a Cerelac, Nestum, Guarana, Sumol, pastéis de nata, BACALHAU e a sopa de feijão da minha mãe (e não, não vou colocar nenhuma comida angolana aqui, gosto muito mas nunca me fez falta como uma boa papa)... No entanto, nunca NUNCA NUNCA vou esquecer todo o mundo que me enviou papas e gelatina (e bacalhau... e charcutaria) por correio e/ou dentro das malas quando me visitaram. Gente incrível!
6/Viver numa cidade sem mar. Posso viver sem o mar, claro, mas no fundo, isso sempre me fez um 'cadinho de confusão porque antes de Paris, sempre morei "perto" do Oceano (Atlântico) ou do mar. Nada como dizer "e dêmos juntos aquele passeio à beira-mar"...
7/Ter de ir renovar papéis. Sem comentários. 


Luanda - angolarising.blogspot.com




Dear Sophie, 
Since I have decided (or life has decided for me) that I would be leaving Paris, I cannot stand to live in this city anymore and am counting desperatly the days to start my life again 7,000 kms from here. I am not even sightseeing because I just do not care anymore. There is nothing else I would rather be doing in the meantime than staying at home quietly, making the most of the last few days I have to live on my own. I say this because in Angola, I will not ever spend one more day alone. There is a very nice side to it (Christmas, is that you?) and bad sides (I have this vital need to be alone, if I am not, I feel severely stranded)(God, I will never ever get married if I don't overcome this).
I was just talking with a friend about this incredible life change I am about to go through and decided to sum up what I will miss (or not) from Paris.

Things I will miss from Paris:

1/Having access to everything quickly and at affordable prices (I am talking mostly about food, medicine and clothes). We have everything in Luanda, but it's just so MUCH MORE expensive...
2/Incredibly well-organised public transportation and being able to walk by foot;
3/Security (using your cell phone in the street, your computer in a terrasse... in Angola those are just a no-no);
4/When my friends wanted to visit me, they just had to buy a ticket and come, without having to worry about obtaining a visa or caring about distance and stuff;
5/Managing to get through life on my own terms: all my contacts and different internships and jobs I had, they were all 100% thanks to me, my work and my contacts;
6/Going to Roland Garros every year;
7/Having four seasons: in Angola, we have hot sunny summer days during 300 days every year! Only God knows how much I dislike hot sunny summer days...

Things I will NOT miss from Paris:

1/When my friends wanted to visit me, they just had to buy a ticket and come, without having to worry about obtaining a visa or caring about distance and stuff - there is a nice side and a bad side to this. There were times I felt that the limit between "I am coming because I want to see you, Elite!" and the "I am coming for the free housing and for the city" was very blurry. I know that any person that will go through the incredible hassle of obtaining an Angolan visa and take a long-courrier flight to Angola must be because they REALLY love ME.
2/Not having a cleaning lady and a driver every day. In Angola that is how we roll and I am happy to hav'em back.
3/Not having my parents and siblings nearby. Even if I am not close to them all (as in, I have managed to live 10 years without them by my side just perfectly), if something had ever happened to me in Paris, no one would have noticed. And that was always my greatest fear. Plus, I have a (two) sister(s) + a niece and a nephew I still have to meet for the first time. Looking forward!
4/Having to commute with people. Another great inner problem I have had is to be in a public transport with friends. I always feel bad to force myself to talk when in a public transport, to avoid those awkward silences. I have avoided going out sometimes because of that. I know, it's weird, but everybody has issues and that was mine. And it's over.
5/Having illimited access to foods & drinks like Cerelac, Nestum, Guarana, Sumol, pastéis de nata, codfish and my mother's bean soup (and no, there is no Angolan dish I am adding to this list because, eventhough I like them, I do not really miss them as the ones I just listed). Nevertheless, I will never forget all the crazy incredible people who sent me (or brought in their luggage) food for me in the past 10 years. AMAZING!
6/Living in a city without a sea front. Before Paris, I have never lived in a city without an Ocean or a Sea. Of course, I CAN live without it, but it always perturbed me a bit. And there is nothing like saying "and we took a stroll by the sea together"...
7/Having to renovate paper work and asking permission to stay in this country. TO HELL WITH THAT.

Luanda - angolarising.blogspot.com




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