Da estéril psicorrigidez de julgar os que julgam und so weiter...
Filosofia

Da estéril psicorrigidez de julgar os que julgam und so weiter...


[or how much people can disappoint you with their (mis)behaviour]
Querida Sofia,
A pessoa com quem namorei durante cinco anos disse-me um dia que a qualidade que mais apreciava em mim era o facto de não julgar as pessoas. Por aceitá-las como elas são. Como elas eram. Não sei exactamente porque disse aquilo. Será que não me confiava o suficientemente a ele? Não acho que tenha sido por querer dar uma boa impressão.
Na volta, na época, eu esperava menos das pessoas do que hoje. Hoje sinto-me como uma verdadeira velha. Defeito maldito, julgo as pessoas incessantemente. Não todas. Mas sinto que aceito menos os erros dos outros. Por erros, não falo dos erros comuns que todos podemos cometer no nosso quotidiano. Mas sinto uma certa impaciência um tanto quanto crescente quanto à falta de educação, falta de interesse pela sociedade, pelo mundo no qual vivemos, pela história do país no qual se vive. Do amigo que não vai visitar o outro no hospital.
Falo como se fosse perfeita. Não sou. Sou impaciente, chego (cada vez menos mas) sempre cinco minutos atrasada, gosto demais de gelados e batata frita e prefiro fazer procuras sobre um tema na internet ao invés de ler um livro sobre o assunto. Poucos exemplos de uma multidão de defeitos.
Procuro nas pessoas qualidades essenciais como a integridade, a educação, a abertura de espírito e quando não as encontro, culpo-as secretamente por isso. Por exemplo, procuro em geral, nos homens a ambição. Nas mulheres, procuro força. Exemplaridade. Role-models. Gosto de admirar as pessoas com quem eu convivo. Sobretudo quando são mais velhas do que eu e já têm idade para ter juizo. Mas quando falha ali algo, como encontrar mulheres submissas ou homens que não abriram um livro (banda desenhada do Astérix ou do X-Men ou do Tintin não conta) na vida, sinto que não temos nada para partilhar. Julgo a pessoa e afasto-me dela. Como o que aconteceu com a minha "amiga" e o homem Judeu. Julguei, a frio, a atitude dela. Pode até ser bem provavel que ela tenha muitas outras qualidades. Mas fiquei cega com o meu julgamento. Tenho sempre as espectativas bastante altas quanto às pessoas. Sofro quando (como diria a Iman) I just don't measure up e desiludo as pessoas. Sofro quando as pessoas me desiludem também e peco por entrar na estéril roda viva que é julgar os que julgam, und so weiter...
Então pergunto-me: quando foi que mudei para dar lugar a tamanha psicorrigidez? Quando foi que comecei a achar que as pessoas deviam ser todas exemplos de conduta para mim? Pegando o pensamento de qualquer filósofo ou psicanalista de balcão, não terei sempre procurado o meu pai nos homens e a minha mãe nas mulheres com quem lido?
Já deveria ter aprendido que, se eles próprios não foram quem eu queria e esperava que fossem, não deveria esperar absolutamente nada de ninguém. A não ser de mim própria.



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