Diário das minhas viagens tristes
Filosofia

Diário das minhas viagens tristes


Querida Sofia,

Lembro-me deste episodio como se fosse ontem. Estava a sair de Lisboa de carro, para seguir até Montpellier. O meu pai conduzia, a minha irmã mais velha e o meu irmão mais novo iam atrás. Eu no lugar do morto, seguramente para manter o meu pai acordado pelas dezassete horas de viagem seguintes.
O meu avô estava na aviação. O meu pai é A aviação. Tenho um irmão piloto. O outro a trabalhar numa companhia aerea. O terceiro que faz uma colecção incrivel de aviões em miniatura. O quarto que é novito mas já "sabe" desde pequenito - pudera! - que "quer" ser piloto.
Para puxar conversa no carro, tive a (in)feliz ideia de confessar um dos meus maiores medos ao meu pai. Podes-me explicar como eu fui capaz de dizer ao meu pai, depois de 20 anos de vida a viajar a torto e a direito, que tinha medo de andar de avião?
Pois... não houve volta...
1 - o meu pai deserdou-me nesse dia (seguramente foi a esse momento que tomou a decisão)
2 - tinhamos 17 horas de estrada pela frente? então, querida Sofia, acredita que muitas horas foram passadas a explicar-me que é IM-POS-SI-VEL um avião cair a não ser que seja por erro humano (gostaria de saber onde é que eu devo encontrar conforto nessa explicação) e que os momentos mais perigosos são a descolagem e a aterragem (sim, melhorou tudo) e que é tão seguro, que nas viagens longas, os pilotos podem colocar o bicho em automatico (fônix, matou tudo!) .
A verdade é que pensando hoje nessa conversa, sei que realmente, o meu pai queria transmitir-me a sua paixão pelos aviões e a segurança que sente nas viagens que faz. E eu deveria ter aproveitado mais porque é raro viajarmos juntos.
A verdade é que pensando hoje nessa conversa, sei que não gosto de viajar porque (quase) sempre tive de viajar sozinha. Não foram frequentes as viagens para descobrir algo de novo aos olhos de alguém. Com os olhos de outro alguém. Não conheço (quase nada d)essas viagens feitas de prazer, em que as pessoas estão felizes por passar férias juntas, algures no mundo, num sitio que considerem o seu paraiso. Essas viagens nas quais os casais passeiam de mão dada e descobrem o mundo. Sempre viajei, viajo e (parece que infelizmente) viajarei sozinha.

E não há nada como dizer que a culpa é dos aviões para
esconder uma das (muitas) dores da minha vida.




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