Travelling With People
Filosofia

Travelling With People


Querida Sofia, 
Costumo regressar das minhas férias geralmente chateada ou sem vontade de falar com as pessoas com quem viajei. Sinto que isto é da minha total responsabilidade. Isto porque são muitos dias juntos/as, a ter de preencher todos os momentos com uma conversa ou com um bom humor que temos de tirar das entranhas mesmo quando já não existe, por não termos o mesmo ponto de vista sobre os lugares a visitar ou o que quer dizer viajar (para uns é actividade total, para outros descanso total) e sobretudo por estar habituada a fazer quase tudo sempre sozinha há mais de vinte anos. O facto de também ter dificuldades em verbalizar algo que me incomodou na hora faz-me acumular tudo cá dentro e tornar-me passiva-agressiva ou desaparecer parece-me sempre ser a solução mais fácil. A gestão das expectativas dos outros é uma matéria na qual tenho sempre nota zero e pouco ou nada faço por melhorar. Fica difícil conseguir ceder quando nunca mais tivemos de o fazer. No entanto, em Março fui abençoada. Tínhamos viagem marcada, mas eu fui cheia de medos. Que me cansasse da pessoa, que saíssemos da viagem mais distantes do que nela embarcámos, de ter de preencher silêncios estranhos e ter de conceder ao meu critério de férias para não haver nenhum desentendimento. Os meus medos morreram onde nasceram: na minha cabeça. Desde a primeira hora, o alinhamento foi perfeito. Os (raros) momentos de silencio foram tudo menos estranhos. Os passeios foram na dose certa. Até as horas a dormir a sério – como aquela tarde em que dormi 4 horas seguidas, sabendo eu que tenho uma dificuldade atroz em adormecer que seja de dia ou de noite – foram na medida perfeita. Saímos desta viagem com uma união mais forte, com um entendimento mais profundo e com um respeito crescente tanto pelas coisas a fazer individualmente como em conjunto. Depois de anos a ver-me castigada em amizade e etc neste tema das viagens, vejo finalmente a melhor das luzes no fundo do túnel. 

Quinta dos Vales - Wine Estate - March 2016
Dear Sophie,
When I come back from holidays, I generally am bored or annoyed at the people I have just travelled with. I feel this is completely my fault. I think I just cannot spend many days with the one same person, as you always force yourself to fill all the moments with some kind of conversation, as silences can be awkward, as people have different expectations from the same trips (some people just want to rest from a hectic daily life, other people just want to spend themselves in some very active vacations…) and it happens mostly because I am just used to being alone for the past 20 years. I also have a hard time verbalizing – on the spot – something that might have bothered me and not getting it out of my chest turns me into a passive aggressive person or… I just disappear from one’s life (would it not be easier to just tell someone “look, you hurt me that day. Let’s move on”? I think so, yet I am unable to do so). Also, dealing with other people’s expectations is not my cup of tea. It’s hard to change when you do not feel you really need to. Nevertheless, God blessed me in March. We planned a trip and I was dreadfully scared. I was scared of getting bored or annoyed at the person I would be travelling with, that we would stop talking as we would come back to our routines, that the silences would be too awkward and I would have to rush to fill them and that I would have to avoid expressing my feelings as I do not like hurting people. My fears died where they groomed themselves: in my head. The trip was just perfect from start to finish. The (rare) silences were not awkward at all. The sightseeing tours were made on the right measure. The amount of sleep was also impressive – like that 4-hour nap I took… when I know I have so much trouble sleeping. We came back to our daily lives stronger and more united than ever before, with a better understanding of each other and a bigger respect for things we like to do on our own and together. After years of punishing myself with my erratic behaviour towards friendships and such, I finally see a little light at the end of the tunnel for my sake. 

 



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