Hoje eu não tinha nada para dizer então vamos falar sobre novelas
Filosofia

Hoje eu não tinha nada para dizer então vamos falar sobre novelas


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Querida Sofia,
Eu, Elite Maria da Silva Seixas, pecadora me confesso, ando a ver novelas brasileiras. Sim, porque não estamos nos anos 1980 e hoje em dia, é preciso esconder-se para dizer estas coisas assim, publicamente, sem aviso prévio, mas pronto, confesso, ando a ver MUITA novela. E não é um bocadinho, de soslaio, obrigada por alguém, forçada por morar em casa de noveleiras. Não, sou euzinha, voluntariamente que tenho aberto o Youtube - our new best friend after Google - para ver novelas. Tudo começou porque tenho amigas virtuais brasileiras que Twittavam demais sobre o assunto. Depois, chegou aquele segundo momento MAIS CHATO do ano, entre Thanksgivings e o início do ano, no qual as séries americanas - those whores - vão de férias. Essa pausa dura perto de dois meses. Pior que isso, é quando as séries param no verão, de Abril/Maio até Setembro/Outubro. Ninguém merece ficar sem os seus personagens preferidos durante tanto tempo. Posto isto, posso dizer que eu estava carente de séries - Lie to me, White Collar, Better Off Ted, How I met your mother, e aquelas clássicas - as whores, de novo - que TODOOO OOO MUNDOOO AMAAA DDDDEEE PAIXXXÃAAAAAO.
Como as minhas amigas insistiam, lá com MUITA relutância e uma arma encostada à cabeça, comecei a ver Viver a Vida. A novela das 8 (agora é das 9, é isso meninas do Brasil?) do momento, pelo grande Manuel Carlos - "Maneco" para os intímos, como eu, tu, e 200 milhões de lusófonos no mundo.


Eu cresci com imensa novela. Mas a minha mãe não era senhora disso e proibia-nos - a mim e à minha irmã - de vê-las. Quando viamos, tinha de ser às escondidas, por baixo da cama, num bom velho contrabando. Nada de reuniões à volta da televisão com a família toda reunida para ver a Maitê Proença, o Tony Ramos, o Fabi(nh)o Assunção ou a Cláudia Ohana (meu Deus, como eu amava a Cláudia nos anos 1990!).


E vendo Viver a Vida, compreendo porquê a minha mãe não nos deixava ver aquela cena. Um festival de traições e irresponsabilidades que não dizem nada a ninguém (ou a todo o mundo, pelo contrário). Sinceramente, acho que ando a ver a novela por causa de um par de bons actores (nesse par, claro, a Lilia Cabral, porque aquela Teresa foi inspirada na minha mãe, como já disse aqui) e por causa do figurino. Vamos ser sinceras: Viver a Vida é Sex and the City meets Lipstick Jungle meets Cashmere Mafia no Leblon, Rio de Janeiro. A Tais, a Aline, a Giovanna, Christine, a Suzuki, a Maria Eduarda, a propria da Lilia andam tão bem vestidas que aquilo é de ver e chorar por mais. E não é somente a roupa, são os sapatos. E não são apenas os sapatos, é também o verniz (=esmalte, em PT BR). Porque eu não tenho nenhum Risqué - a Sephora ainda não me enviou o memo para eu começar a usar - mas já vi que todos os blogs lusófonos e femininos que eu leia andam a usar os Risqué Bali e Cappuccino e Viena e New York e Menta (minha queriiiiiiiida) e outros milhares de nomes uns mais originais (cof cof) que outros.
Digo isto em tom de gozação, mas os brasileiros fazem bem em mostrar os seus produtos nacionais. Assim é que é! nada de importar roupas e vernizes (esmaltes, esmaltes, esmaltes!) e sapatos dos outros países quando a produção nacional (brasileira) é de dar inveja a qualquer Europeia / Africana, lo que sea.



A última novela que eu tinha visto tinha sido Senhora do Destino, há seis anos atrás. A minha irmã que é Brasileira e mora em São Paulo (e a mãe dela) pagavam-me uma assinatura na Globo.com e eu assim conseguia reconectar-me com o Português. Sim, que isto de morar longe, por vezes, faz-nos precisar de umas doses de "oh minha querida, como vai você hoje? o que foi que aquele cachorro aprontou com você dessa vez" e não "oh ma chérie, comment vas-tu? et cet idiot, toujours aussi... con?"
Mas passando disso, Viver a Vida é a última novela escrita pelo Maneco, e tenho pena. Pena porque não é fantástica, está cheia de vazio(s) e é um enrola, mexe, remexe que me cansa. Se tirarem aquele Miguel (Mateus Solano, oh Deus) e a Luciana que deixou de ser uma mimalhas para ser uma cadeirante batalhando pela vida... deixo de ver essa droga. Porque confesso que agora vejo porque tornou-se pessoal, vejo porque quero que acabe, a única coisa que ainda me corta realmente a respiração é o Thiago Lacerda e a música Heroes and Saints do Nicolaj Grandjean, que de resto...




Vi em Janeiro a novela Páginas da Vida, também do Maneco. Vi inteirinha, não falhei nada. E de novo, as novelas dele são bem reais, pés assentes no chão, muito Leblon, muito Caetano Veloso (que agora, pelos vistos, canta mais em inglês que em português), muita Bossanova, muito Jobim, muito Petróóópolis, muito Teresóóópolis para descansar nos finais de semana estafantes dos ricalhaços, muito José Mayer a agarrar uma Helena - sim, porque há sempre uma Helena frágil e besta para cair nos braços desse Zé - e pronto, o povo ama. Mas mesmo assim, apesar dos bons pesares, tem vazios e é inconsistente. E de novo, quem carregou essa novela pelos tomates foi o par Lilia Cabral - Marcos Caruso. Que de resto, não suporto a Regina Duarte. Tão insonsa, só sabe inclinar a cabeça de um lado, do outro, fazer "oh que delicia", "oh mas não pode ser" durante 190 capítulos.
Já falei acima que tinha visto Senhora do Destino. Isso é que era novela. Cada actor melhor um que o outro. Uma Renata Sorrah louca e maquiavélica, uma Suzana Vieira boazinha, rica e brega, um José Wilker cafona mas coração de ouro, um Marcello Anthony apaixonado por uma Débora Falabella encantadora, uma Leticia Spiller armada em Evita Peron do bairro... um escândalo de bom.
Agora que acabei Páginas da Vida, comecei A Favorita (fogo, compreendo as pessoas com dependências... acaba uma novela, em vez de voltar às séries, começo outra novela. Bom, a poupar assim, durante o verão, vou ter séries para ver à beça e o resto do povo não!).
Sobre A Favorita... uau! mas há enredo mais bem feito nos cinco últimos anos? se viste, diz lá se estou errada? aquela Patricia Pillar sonsinha sonsinha no inicio afinal é uma víbora? well, nunca tinha visto isso antes numa novela.
A Claudia Raia, é a Claudia Raia. Sou obcecada por ela. Não consigo entender e compreender se ela é a mulher mais linda do mundo, mais boazuda ou a mais masculina que jamais vi. E tenho inveja daquele marido dela, na vida real, o Edson Celulari, que é uma coisa de outro mundo.
Isto tudo para chegar a um homem que apenas fez 50 episódios desta novela e tirou-me todo o ar: o Nelson Xavier. Aliás, ele merecia uma carta apenas sobre ele. Olha, pronto, eu não tinha mesmo nada para dizer, esta carta já está comprida demais, então o Nelson Xavier e o que sinto por ele fica para a próxima. Tchau.

*todas as fotos pertencem à Rede Globo.



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