How low can it go? 7 dramatic reasons why the oil price collapse is driving us to the edge
Filosofia

How low can it go? 7 dramatic reasons why the oil price collapse is driving us to the edge


Querida Sofia, 
Há quase dez anos, quando comecei a trabalhar num grande banco francês, tinha na minha equipa colegas que eram obcecados por seguir o curso da bolsa francesa para ver o valor da acção da instituição financeira. Todas as manhãs ou finais de dia era mesma história: era sempre o mesmo, um ruivo, que gritava o valor do dia e frequentemente ele dizia “quando eu comprei isto valia 3 dígitos, agora só vale 2”. Nunca liguei muito, mas compreendi que ele e uns colegas tinham recebido dividendos da empresa em forma de acções e as mesmas desvalorizaram tremendamente. Diariamente, eles iam consultando os resultados, na esperança de recuperar algum dinheiro. 
Passaram dez anos e sinto que hoje eu sou essa pessoa em relação ao preço do barril de petróleo. Sinto que andei muito tempo (nestes últimos quatro anos) a ler o curso do petróleo sem prestar muita atenção, mas agora é o momento de prestar muita atenção. Para os países ocidentais, quando o petróleo baixa de preço, é maravilhoso, pois os preços baixam bastante para o aquecimento das casas, combustíveis e bilhetes de avião... Mas moro num país produtor e... estamos com a corda no pescoço. Passo a explicar: há exactamente dois anos, o barril de petróleo custava pouco mais de 100 dólares. Hoje custa 28. É menos 4 vezes o preço! Com a retirada das sanções ao Irão e com a entrada da sua produção de petróleo no mercado, é provável que o Ouro Negro baixe ainda mais de preço. Isso tem feito com que os países produtores tenham revisto os seus orçamentos, apertado os cintos ao máximo e começar a pensar seriamente em diversificar a sua economia. Angola depende a mais de 80% da renda do petróleo e os efeitos dessa quebra têm sido devastadores. Falei recentemente com um amigo da Nigéria, que conheci no curso da London School of Economics que fiz na University of Cape Town em Julho do ano passado, e ele está a viver o mesmo que eu/nós. Isto porque maior que Angola, em produção de petróleo em África, só está a Nigéria. Isto tudo tem impactos na sociedade e na minha vida: 

Dear Sophie, 
Almost ten years ago, when I started working for a major French bank, I had a few colleagues who were obsessed with the stock exchange rates, especially the value of the bank’s action. Every morning and every close of business, it was the same story: a colleague, always the same redhead guy, would shout the value of the day and he would often repeat that when he first bought the actions, they represented 3-digit each and at that time, it was in the 2-digit value. I never paid much attention to that, but I understood that both him and other colleagues had received dividends from the company in actions and lost a lot a money a few months later. So what they did daily was in the expectation that the price would rise again and they'd recuperate a little money. 
Ten years later and I am now like my former colleague: I have been following the oil barrel price daily. I feel I spent the past 4 years reading about it without paying much attention, but now is the moment to be quite on par with what is happening. For Western countries, these are good news, as the oil price falls, a few expenses become lighter such as house heating, gas for the car and airfares. But I live in a producing country and... I feel we are being hung by the neck. Exactly two years ago, a barrel would cost 100 US dollars. Now it costs 28 dollars. It is the fourth of the price! And as sanctions are being lifted from Iran and their oil production gets into the world market, the prices can decrease further more! This has made the producing countries revise their budgets, expenses, tighten their belts and start thinking – seriously – about earning income by diversifying their economies. Angola relies on oil to account for more than 80% of its GDP. I recently talked with a friend from Nigeria whom I met while doing a course by the London School of Economics at the University of Cape Town this past July and he told be he was living the same situation as us in Angola. Nigeria is Africa’s biggest oil producer and Angola comes second. All this has had major impact in our society and in my life: 

1 – O país está com dificuldades de acesso a divisas: como é menos dinheiro a entrar, as necessidades do passado já não podem ser supridas. Isto faz com que o Banco Central não tenha divisas para vender para os bancos comerciais, e estes, por sua vez, não as podem disponibilizar para os seus clientes. Isso faz com que empresas não possam comprar materiais fora e estamos a viver uma escassez de vários produtos de todo o tipo (alimentos, medicamentos, papel,... tudo o que não produzimos cá!). 

The country is having less access to foreign currency: as we have less money coming in, the needs from the past cannot be met today. This happens because the Central Bank does not have currency to sell to Commercial Banks. Therefore, commercial banks cannot sell currency to their clients. This means that companies cannot pay for importations and we are currently lacking everything we do not produce: food, medicine, paper... you name it, we do not have it! 

2 – A nossa moeda, o Kwanza, desvalorizou mais de 55% desde Dezembro 2014. Isso quer dizer que se recebemos 1000 Kwanzas, hoje só conseguimos ter poder de compra equivalente a 450 Kwanzas. Não sei se estás a ver o impacto dramático disso numa sociedade inteira?! Ah, e por causa dessa desvalorização, o Kwanza já não é “reconhecido” e trocado em mercados internacionais. Só de pensar que quando estive em Paris em Outubro 2014 pude trocar Kwanzas para euros lá... 

Our currency, Kwanza, has lost more than 55% of its value from December 2014. This means that if we have 1000 Kwanzas we can only buy the equivalent of 450 Kwanzas today... do you get how hard this is in our entire society?! Oh, and because it lost so much of its value, Kwanzas are not “recognised” and exchanged in foreign market... When I think that I changed Kwanzas for Euros when holidaying i Paris in October 2014... 

3 – Algumas empresas tiveram de fechar as portas ou despedir os funcionários por falta de matéria prima por transformar e/ou falta de pagamento dos clientes. Algumas ainda não fecharam as portas e não despediram ninguém, mas não pagam salários há meses. 

A few companies closed their doors or made their personnel redundant because they did not have materials to transform and/or because their clients just could not pay the bills any longer. A few business have not shut down yet but have not paid salaries for months. 

4 – O estado deixou de subvencionar o combustível cujo preço mais que duplicou para os consumidores finais. Falei com mais de uma centena de pessoas sobre isso, e muitos têm feito mais trajectos a pé ou partilham o carro e custos de gasolina com os vizinhos ou amigos, pois já não conseguem pagar sozinhos. 

The government stopped paying taxes for gas and the price has rocketed to of its 2014 value for the end customers. I have spoken to more than a hundred people about this and many have started walking more and sharing their cars and gas expenses with neighbours and friends because they cannot pay on their own any longer. 

5 – Estas situações têm criado bastante instabilidade e uma sensação de falta de segurança em relação à nossa vida e futuro. E o pior também tem sido a circulação de informação falsa (rumores), que tem acontecido bastante nas redes sociais, sobretudo no Whatsapp. As pessoas criam mensagens pavorosas assinadas por grandes entidades públicas ou privadas (Embaixadas, Petrolíferas, Electricidade de Angola, Águas de Angola, Banco Nacional de Angola, Governo Provincial, Banco x e Banco y). Estas mensagens são criadas para incitar ao pânico (e isso funciona muito bem cá, pois as pessoas pensam muito pouco antes de reencaminhar uma mensagem). Isso é muito mau pois uma sociedade que entra em pânico é uma sociedade na qual se gera mais instabilidade do que a que já está criada e se torna uma norma. Nada de bom advirá disso. 

All these facts have created a lot of instability and a lack of sense of security about our lives and future. The worst for me is also what is happening on social media, such as Whatsapp, where people are making false and terrifying statements circulate “signed” by big public and private institutions (Embassies, Oil producing companies, Energy and Water state companies, Angola’s National Bank, Provincial Government, Commercial Bank x or y). These messages are frightening. They convey panic and fear. People are so gullible here that they forward these messages without thinking for a bit and... a society that panics is a society where instability becomes a norm. Nothing positive will come from these rumours. 

6 – Os cidadãos já não têm acesso a pagamentos fora do país e a cartões bancários internacionais. Tens de viajar para fora? Poucos são os bancos que te dão dinheiro (e as casas de câmbio & mercado informal têm câmbios pela hora da morte). Tens um filho a estudar fora e tens de ajudar com as suas despesas? Os bancos já não têm enviado dinheiro e há muita criança por aí no mundo a estudar e que terá de regressar. Queres comprar um vestidinho na ASOS? Esquece: o teu VISA foi cancelado até nova informação (e consequentemente, também já não tens acesso ao paypal). Estamos bloqueados com a nossa moeda que perde valor diariamente e só podemos usá-la dentro do nosso país. 

Citizens cannot make payments abroad and cannot use their international banking cards any longer. You have to travel? Your bank will not Exchange your kwanzas for foreign currency. You can always change in Exchange houses or in the informal market, but the rates are gut-wrenching. If you have your son studying abroad, you cannot transfer him any money and many kids studying abroad will have to come back home for lack of money. Want to buy a little dress on ASOS? Forget it: your VISA was cancelled until further notice (thus so was your paypal account). We are blocked and can only use our own currency in our country. 

7 – Pessoalmente, e sem entrar em maior detalhe sobre a minha vida financeira (fora as grandes linhas já expostas aqui), tive de dispensar os meus maiores luxos, que são as poupanças e as viagens. Claro, isso não é importante quando sabes que há pessoas que nao podem comprar comida ou pagar a escolaridade dos filhos, mas é a MINHA realidade. No final do mês, sobra muito pouco para poupar (e ir ao banco tornou-se na maior fonte de stress dos últimos meses porque recebemos um “não” sistemático a todos os nossos pedidos) e desde Outubro 2014 que não viajo por conta pessoal para fora do país (as minhas viagens de 2015 foram sempre profissionais e aproveitei aqui e ali para ter tempo livre, mas raramente consegui). Porquê? Porque não tenho acesso a divisas. A única viagem que fiz o ano passado e que paguei do meu bolso foi a minha ida ao Huambo e paguei 100% em Kwanzas, porque é a única coisa que posso fazer neste momento se quiser passar algum tempo fora de Luanda. Posso viver sem viajar para fora (não faço parte do rol de pessoas fúteis que dizem “ah, 3 meses seguidos em Angola é tão duro! #rebolaosolhos), mas custa-me saber que não posso cumprir com os meus objectivos de poupança e que isso possa comprometer o meu futuro. Única coisa mais positivinha que vejo nisto tudo: temos de consumir mais produtos nacionais e incentivar a economia não petrolífera. Da parte que me toca, agora todas as frutas e legumes que compro são nacionais e se houver mais produtos nacionais de qualidade, serão esses que vou comprar. Que Deus nos ajude. 

Personally, and without getting into thorough detail of my personal life (aside from the very general lines I already exposed here), I had to dispensate my two major luxuries: savings and travels. I know, I know: that is not important when you know people around you are having difficulties buying their food or paying for their kids’ tuition, but it’s MY reality. At the end of the month, I do not have enough money to transfer to my savings accounts (and going to the back is now the most stressful thing ever as they answer an automatic “no” to all your questions) and I have not travelled abroad for leisure since October 2014. All my 2015 trips were professional (and even if I could take a day or two here or there, I barely made time for myself). Why? Because I cannot get a hold on foreign currency. The only trip I made and paid from my humble pocket was my trip to Huambo and I paid for it in Kwanzas. And travelling domestically is all I can do if I need time out of Luanda. I can totally live without travelling abroad (I am not one of those people who insist on saying “staying for three straight months in Angola is so hard! #rollingmyeyes), but it is daunting on me that I cannot increment my savings, therefore jeopardise my future. The only positive aspect that I see in all this is that we need to buy more national products of quality. I decided to only buy Angolan fresh produce and thus help the non-oil sector. And I will gladly do it with other products that meet my standards because we have to help our economy. God bless us.

von Valuewalk.com


 




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