People and their Nespresso
Filosofia

People and their Nespresso


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Querida Sofia,
Conheço pessoas que têm uma Nespresso. Isto é como antigamente, quando alguém conhecia a sogra do Marc Jacobs ;-), já tinha dado um pé de dança com o Pedro Abrunhosa ou tinha como padrinho um cantor como o Bono Vox.
Não. Hoje em dia é importante salientar, para que um lugar na sociedade tenha alguma legitimidade, que se conhece pessoas com uma Nespresso. E ter uma Nespresso não é o exercício mais fácil quando queremos receber amigos para o jantar. Porque no fundo, queremos que o jantar - aquela parte na qual comemos - passe rapidamente. Queremos saltar sobre a entrada, o(s) prato(s) principal(is) e a sobremesa para chegar à hora do cafézinho. Aliás, não é um cafézinho, é um Nespresso. E não dizemos Nespressozinho.
Quando o anfitrião - dono de uma Nespresso - vê a hora da sobremesa chegar, despacha-se a comê-la. E começa a sentir uma empolgação surrealista dentro do seu coração. Quase que gritam connosco - os convidados - para ver se avançamos o passo, se saboreamos em apenas uma garfada a tal da sobremesa, se até não queremos despachar o assunto não comendo aquele pudim delicioso. E quando o último convidado pousa a colher e mais ninguém tem nada por comer, chega a pergunta: "então, um cafézinho?". Acho que aí, é possível que o dono da Nespresso comece a ter uma espécie de orgasmo. Um formigueiro na alma que ele não consegue mais controlar e que lhe confere imenso gozo. Então, o que acontece?
O anfitrião dono de uma Nespresso retira da sua biblioteca (sim, BIBLIOTECA) um pequeno dossier que compilou ou recebeu da Nespresso e apresenta ao seu convidado. O dossier apresenta página por página, todas envernizadas, as características de cada cápsula. Há cápsulas de todas as cores. A vermelho, dourado, azul, preto. Cada página detalha as diferenças entre os Macchiato e os Lungo e companhia. Enquanto folheamos aquele verdadeiro catálogo tal uma La Redoute, o anfitrião vai dar uma outra batida de rins, perdão, um outro passo à cozinha para buscar uma caixa de preferência transparente com as cápsulas. Organizadas por cor. De preferência, várias cápsulas da mesma cor. Porque aquilo é tal uma colecção de selos. Bem preservados e admirados. E não pode haver buracos. Já vi muito boa gente desculpar-se com grande vergonha por não ter mais exemplares de uma mesma cápsula. Faltou pouco para darem-me o chicote, virarem-se de costas para mim e levantarem a camisa, à espera de um bom castigo. Mereciam.
Enquanto admiramos as cápsulas e o catálogo que nos (tenta) explica(r) as diferenças entre cada sabor de café e se queremos um longo ou um curto, o anfitrião tem outra surpresa para nós: vai buscar uma caixa almofadada por dentro com chávenas da marca Nespresso.

Sim, porque um Nespresso não se bebe numa chávena qualquer, que seja da Ikea ou a Loja do Gato ou da CASA. Bebe-se de preferência numa chávena Nespresso. E o anfitrião não tem apenas uma chávena, tem várias. Grandes, médias, pequenas. Um exemplar de amostra para nos fazer delirar. Mas no fundo, quem delira mais são eles, os donos das chávenas Nespresso. Têm vários lá na cozinha, prontos para serem exibidos. Finalmente, escolhemos o café. Não sabemos bem como a nossa vida e o nosso paladar vai notar as diferenças entre um sabor ao outro, mas lá escolhemos qualquer coisinha. Quero dizer, qualquer cápsulazinha. Escolhemos o sabor, o nosso anfitrião diz qual é a chávena apropriada - sim, o anfitrião dono de uma Nespresso tem a arte de escolher chávenas entre os cafés curtos e longos - e nesse momento, somos convidados, pela primeira durante a noite, a ir até à cozinha. Ver a Nespresso trabalhar. Isso se a Nespresso não for levada da cozinha até a sala, para admirarmos a obra.
Como os convidados são idiotas - eu inclusive - queremos saber como uma cápsula torna-se café, e podemos então ter uma explicação detalhada sobre a pressão e a água e o escambal. Taça colocada no seu lugar, cápsula instalada no seu compartimento, água na botijinha, o ON é apertado. Alguns barulhinhos típicos e o café começa a verter-se, gota após gota, dentro da chavenazinha.
Quando a obra é completada, põe-se a chávena num pireszinho e recebemos o nosso Nespresso das mãos do nosso anfitrião que está mais do que feliz. Sente-se orgulhoso, à espera de um sorriso ou um "este café é mesmo bom, é mesmo único, nunca mais quero tomar outra coisa na vida, aiiii quem me dera ter uma Nespresso um dia!"
Com este baile todo, faltava apenas a campaínha tocar e termos o George Clooney como co-convidado. E como nada disso vai acontecer - a chegada do George Clooney, porque o resto acima descrito acontece MESMO - o que eu quero mesmo é comprar uma Philips Senseo.



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