Filosofia
Thank you, Ondjaki.
Querida Sofia,
Li a passagem do livro em silêncio meu, enquanto o motorista manobrava o carro ruidoso e velho na cidade que buzinava. A cada linha que lia, sorria um pouco mais por dentro. O autor tinha conseguido, sem me conhecer, tirar um momento da minha vida para o retractar com tremenda transparência. Apontei as páginas mentalmente para mostrar-lhe mais tarde, para confirmar que ele também se lembrava que aquele momento correspondia a um dos nossos, de um passado bastante recente. Quando chegou a casa, sentou-se ao meu lado e passei-lhe o livro, indicando a partir de onde ele deveria começar a ler exactamente.
Dei-me conta que nunca o tinha visto a ler um livro. É um processo que lhe é tão íntimo que raramente o revela à minha frente. Pegou no livro com cuidado, por aprecia-los tremendamente e dobrou o braço ao nível da nuca, tal uma criança a fazer um ditado com afinco. Tentei não mostrar, mas mantive-o debaixo de olho durante a leitura daquelas duas páginas que tanto me/nos diziam. Tentei adivinhar o significado de cada careta, na esperança que ele sentisse o mesmo que senti. Mas os seus gestos e face nada denunciavam.
Acabou de ler, deixei de respirar. “Está muito bonito, como está escrito”, voltei a respirar. “Sei que não é o teu estilo de livro, mas senti que tinhas de ler esse pedacinho. Fez-me lembrar coisas nossas”. Fechou o livro e fitou-o. Quase senti que o queria ler todo, apesar de não ser o seu género. E é fácil apaixonarmo-nos por um homem que diz que nos ama, que nos dá flores ou que nos poe o cabelo por trás da orelha, mas não sabia que era possível apaixonarmo-nos ainda mais por alguém que já amamos ao partilhar umas linhas de uma bela escrita.
Dear Sophie,
As I read a few more passages of the book in silence, while my driver was manoeuvring my noisy and old car in the city that didn’t help but honking. Each line I read drew a smile in my inner heart. The author had managed, without meeting me, to extract and write about a moment of my life with incredible insight. I marked the pages down mentally, eager to show him later, to confirm that he also saw himself in those lines, thus remembering a moment that belonged to us both, in a very recent past. When he got home, he sat by my side and I passed him the book, indicating where he should exactly start reading.
I realised I had never seen him read a book. It’s such an intimate process to him that he rarely showcased it to me. He grabbed the book carefully, as a book lover would, folded his arm under his neck like a child trying to write carefully with a permanent ink pen. I tried to hide my behaviour, but kept him under my stare for that little while, while he read those pages that were so meaningful to me/us. I tried to figure out the meaning of every face he was making, in the hope of having him feeling the same way I did. Nevertheless, his gesture and face didn’t convey any kind of reaction.
As he finished up his reading, I stopped breathing. “It’s really beautifully written”. I started breathing again. “I know it’s not your style of fiction, but I really wanted you to read that excerpt. I reminded me of us…”. He closed the book and starred at it longingly. I felt he wanted to read it all. I know it Is easy to fall in love with a man who tells us he loves us, who gives us flowers or puts our hair behind our ear, but I had never realised how one can fall in love with someone we already love by just sharing a few lines of a beautiful reading.
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